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Sob comando de Severino, deputados votam menos projetos
RANIER BRAGON
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Tendo assumido a Presidência
da Câmara com a promessa de tirar da gaveta os projetos de autoria dos deputados e colocar a "Casa para trabalhar", Severino Cavalcanti (PP-PE) encerrou seus
sete meses e seis dias de gestão
com saldo negativo: o número de
projetos aprovados pelo plenário
caiu, sendo que apenas dez deles
eram de autoria de deputados.
Balanço da Secretaria Geral da
Mesa obtido pela Folha mostra
que o que cresceu na gestão do
pepista foram as sessões solenes,
homenagens solicitadas por deputados para todo tipo de coisa,
de clube de futebol a programa de
televisão. Severino autorizou a 79
homenagens, média de duas e
meia por semana, mais do que o
dobro das que foram feitas durante os primeiros sete meses e seis
dias da gestão de seu antecessor,
João Paulo Cunha (PT-SP) -39.
Em sua defesa, Severino tem o
fato de que mais da metade de sua
gestão coincidiu com a atual crise
política, iniciada em maio, o que
resultou na paralisia de boa parte
dos trabalhos legislativos.
Mas há enorme discrepância
entre o que foi realizado e o que
era prometido por Severino
quando ele assumiu o comando
da Câmara, em 15 de fevereiro.
Naquela época, ele declarou que
trabalharia para que a Casa aprovasse neste ano pelo menos um
projeto de autoria de cada um dos
513 deputados.
Os números mostram que sob o
comando de Severino, 27 projetos
de lei foram aprovados, sendo
que apenas dez eram de autoria
de deputados. Os outros foram
elaborados pelo Executivo, pelo
Senado ou pelo Poder Judiciário.
Em igual período da gestão de
João Paulo, em 2003, a Câmara
aprovou 30 projetos de lei. Naquela época, passaram também
pelo crivo do plenário três Propostas de Emenda à Constituição.
A "era Severino" só aprovou uma.
Até mesmo em relação às medidas provisórias -instrumento
que o governo usa para legislar-,
a comparação é contrária a Severino. Foram 48 MPs aprovadas
nos primeiros sete meses sob o
comando de João Paulo, em 2003,
contra 25 na gestão Severino.
"Severino tentou, mas isso independe do presidente. Ele foi o cara
que mais reuniu a Mesa, que mais
trabalhou, mas a crise política e o
travamento ocorrido pelas MPs
complicaram. Além disso, o governo não se entendia, o José Dirceu [ex-titular da Casa Civil] e o
Aldo Rebelo [ex-coordenador político] só brigavam, então a briga
sobrou para o Congresso e para o
povo", afirmou João Caldas,
quarto-secretário da Mesa.
Uma das principais reclamações de Severino era em relação às
MPs. Editadas pelo governo, elas
evitavam que outros projetos fossem votados porque nunca eram
votadas no prazo previsto de 45
dias. Na gestão de Severino, duas
delas foram rejeitadas.
Educação
A lentidão das votações também dificulta a agenda da área
educacional. Pelo menos três propostas consideradas prioritárias
pelo governo e por entidades do
setor esperam na Câmara a deliberação dos deputados.
São elas: criação do novo fundo
para a educação básica (Fundeb),
aumento de oito para nove anos
de duração do ensino fundamental (de 1ª a 8ª série) e criação de
bolsas para capacitação de professores da rede pública.
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