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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Procurador critica ação lenta da PF
Avelar reclama solução para origem do dinheiro que pagaria dossiê; para ele, polícia foi mais rápida em caso similar
Tanto PF como Ministério Público podem pedir dados ao Banco Central e ao Coaf; a polícia fez a solicitação ao Coaf neste final de semana
FÁBIO VICTOR
DO ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ
O procurador da República
em Mato Grosso Mário Lúcio
Avelar, principal responsável
do Ministério Público pela investigação da tentativa de compra, por petistas, de um dossiê
contra candidatos do PSDB,
criticou a demora da Polícia Federal em identificar a origem
do dinheiro usado na operação.
Avelar evitou atacar o delegado encarregado do inquérito,
mas deixou clara sua insatisfação com o ritmo da Polícia Federal para elucidar de onde saiu
o R$ 1,7 milhão, em notas de
reais e dólares, apreendido com
os petistas Valdebran Padilha e
Gedimar Passos. Disse ainda
que, em outros casos, o órgão
agiu mais rápido para obter informações semelhantes.
"Você tem que perguntar à
Polícia Federal. A PF tem 12
mil homens. Eu trabalho com
três, quatro pessoas", afirmou o
procurador à Folha, quando
questionado por que os dados
sobre a origem do dinheiro ainda não vieram a público.
O Ministério Público e a PF
trabalham juntos na investigação. Em tese, tanto um quanto
o outro podem solicitar ao
Banco Central e ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informações
que desvendem a procedência
do dinheiro. No entanto, caberia à PF, que preside o inquérito, fazer o pedido. A polícia o
fez neste final de semana.
O pedido de informações sobre as agências e os titulares
das contas deve ser entregue
somente hoje ao juiz Marcos
Alves Tavares, substituto da 2ª
Vara Federal. Só que, segundo
Avelar, partiu dele a iniciativa,
após constatar que quase nada
havia sido feito nesse sentido.
"Eu estava aguardando que a
PF fizesse um levantamento
sobre as agências bancárias pelas quais o dinheiro teria passado, para que isso fosse direcionado de maneira mais objetiva
à Justiça Federal. Até agora
não temos nem as agências
identificadas, pelo menos se
existia não foi me dado a conhecer. Então, enquanto os depoimentos eram colhidos [na
última sexta], eu redigi um pedido para que fosse protocolizado na segunda-feira [hoje] na
Justiça", contou o procurador.
Atuação da PF
As declarações dele ecoam
críticas crescentes de adversários do PT sobre a atitude da
polícia no caso. A alegação dos
aliados da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) é que,
em outras investigações de interesse do governo, como na
violação do sigilo bancário do
caseiro Francenildo Costa
-que terminou por derrubar o
ministro Antonio Palocci-, a
PF agiu imediatamente.
Indagado sobre a comparação, Avelar afirmou: "[Quando
interessa ao governo] aí ele é
muito rápido". E logo em seguida acrescentou: "Mas veja bem,
querido, não vou ficar fazendo
especulação, vão dizer que eu
estou fazendo política".
O procurador disse que tem
trabalhado em parceria com o
delegado da PF Diógenes Curado, a quem elogiou. Ressaltou,
porém, que ele pode não ter a
autonomia necessária.
"O delegado Diógenes me parece decidido a apurar os fatos.
Não nos interessa criar uma
rusga com a PF nesse momento. A não ser que a gente identifique que haja má-fé, desídia,
um propósito que não aquele
republicano. Aí não tenha dúvida de que vou agir", disse.
Questionado se o ritmo da investigação poderia fugir ao controle do delegado, Avelar disse:
"Pode, isso é fato. Mas não quero especular sobre isso".
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