São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2000

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PERNAMBUCO
Grevistas trocam tiros com policiais que não aderiram ao movimento em frente à sede do governo; 24 são presos
Conflito entre PMs deixa cinco feridos

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Policiais militares de Pernambuco, em greve há sete dias, trocaram tiros ontem por duas vezes com integrantes da corporação que não aderiram ao movimento. Cinco pessoas ficaram feridas.
Três oficiais, um soldado e um negociante de ferro-velho foram baleados. Até a conclusão desta edição, 24 grevistas haviam sido presos em razão dos confrontos.
Os tiroteios ocorreram em uma das avenidas mais movimentadas de Recife, a Agamenon Magalhães, e em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do Estado.
Os policiais feridos passam bem. Já o negociante Fernando dos Santos levou um tiro no peito. Ele foi operado e seu estado de saúde era considerado "estável".
Os conflitos ocorreram de manhã, horas após o governo divulgar, por meio do "Diário Oficial" do Estado, a demissão de 243 grevistas e a abertura de processo para punição de outros 75.
Cerca de cem policiais em greve que realizavam uma manifestação com motocicletas na avenida Agamenon Magalhães pararam em frente à Secretaria da Defesa Social (equivalente à da Segurança) às 9h30 para protestar.
Um carro da polícia teve os pneus esvaziados e, segundo o governo do Estado, vários tiros foram disparados pelos manifestantes em direção à secretaria.
Os grevistas confirmam que alguns deles furaram os pneus do veículo, mas negam ter atirado no prédio, onde o secretário Iran Pereira despachava. Foi pedido reforço, e cerca de dez veículos da PM cercaram o local. Houve troca de tiros, e o grevista Jair Barbosa foi ferido nas costas. O negociante de ferro-velho foi atingido no peito por uma bala perdida.
A notícia do confronto chegou ao palácio do governo às 10h. Naquele momento, cerca de mil PMs em greve realizavam uma vigília no local.
A notícia se espalhou e, às 10h15, houve novo tiroteio, desta vez envolvendo os grevistas e os policiais que protegiam a sede do governo estadual.
Duas bombas de efeito moral foram lançadas em direção aos manifestantes, que se dispersaram. Tropas de elite que protegiam o interior do palácio correram para as janelas e apontaram fuzis e metralhadoras em direção aos policiais em greve.
Três oficiais que integravam a linha de frente de defesa da sede do governo se feriram.
No momento do confronto, cerca de 200 PMs tentavam negociar na Assembléia Legislativa, localizada a 200 metros do palácio, a intermediação de deputados estaduais no impasse. Os tiros e o barulho das bombas foram ouvidos pelos policiais, que deixaram as galerias e correram ao local do conflito com armas nas mãos.
A parede do palácio do governo, onde o governador Jarbas Vasconcelos despachava com secretários, ficou marcada por vários tiros.
"O primeiro tiro partiu deles", afirmou o diretor da Associação dos Cabos e Soldados e um dos líderes do movimento, Moisés Filho. O governo nega. Segundo os policiais da guarda do palácio, os grevistas atiraram primeiro.
"O acirramento já era previsto, mas não poderíamos imaginar que chegaria a esse ponto", afirmou o procurador-geral do Estado, Silvio Pessoa, que concedeu entrevistas em nome do governo.
Segundo ele, o governador do Estado, Jarbas Vasconcelos (PMDB), considerou os confrontos "fatos isolados", provocados por policiais "amotinados".



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