São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2000

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Pepebista atrai antigos eleitores ao mencionar obras e realizações

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Maluf (PPB) é bem-sucedido ao transportar imaginariamente seu eleitor a uma São Paulo do Primeiro Mundo, uma cidade em que a visibilidade da administração pública é fornecida por uma profusão de grandes obras.
A pesquisa qualitativa coordenada pelo Datafolha demonstrou que tanto malufistas da elite quanto o de segmentos de excluídos o enxergam como uma espécie de mágico, que concretamente materializa -por meio de pontes, túneis ou avenidas- sua capacidade de empreendedor.
O Maluf visionário e poderoso é também a autoridade que, na visão dos eleitores, vai assegurar saúde, segurança e moradia.
Pouco importa, para eleitores de maior renda e escolaridade, que ele prometa coisas que escapem à alçada de um prefeito ("pôr a Rota nas ruas"). O que vale é o reforço de sua imagem pelo conjunto de intenções.

Aceitação
Há formas muito curiosas de digestão de facetas negativas do candidato. "Vamos passar uma borracha no Pitta e apagar o que Maluf fez no passado", diz uma mulher de baixa renda, em referência ao atual prefeito Celso Pitta (PTN), ex-afilhado político que sucedeu o pepebista em 1997.
Outra forma de neutralizar a dimensão negativa do fator Pitta transparece na seguinte frase: "Maluf ajuda todos, ajuda os pobres e também os poderosos. Ajudou Pitta, que não era nada, foi um tiro n'água." Ou seja, o candidato do PPB é vítima de um ato de ingratidão e não o responsável por um sucessor incompetente.
Dentro da mesma lógica pela qual o candidato tem invariavelmente razão: "Se Maluf voltar, ele vai querer abafar o que foi Pitta, ele vai querer fazer melhor."
Uma curiosidade, sem valor estatístico: 3 dos 10 participantes de um grupo de malufistas de renda e escolaridade altas responderam pela afirmativa ao serem indagados sobre a consistência dos rumores de que Maluf era desonesto. Mas nenhum deles se dispunha a mudar seu voto.
"Ninguém provou nada contra o Maluf. E, se provarem, ele será como todo político, mas com a diferença de que ele fez coisas por São Paulo", diz em outro grupo um homem de baixa renda. Uma outra variante do mesmo raciocínio: "Maluf rouba, mas faz três vezes mais do que os outros".
"Estou descansada, porque alguém (Maluf) vai preparar o caminho de nosso sucesso", diz uma mulher de renda alta.
"Ele restaurou a estação Júlio Prestes (na realidade, uma obra do atual governador Mário Covas, do PSDB) e com isso demonstrou que fará outras restaurações que darão muito emprego", afirma um pequeno empresário.
Essa percepção provoca uma adjetivação superlativa quando os grupos de malufistas são estimulados a qualificar o candidato: experiente, lutador, empreendedor, educado, inteligente, astuto e generoso. Palavras como conservador e megalomaníaco perdem a conotação negativa.

Rejeição
Entre os eleitores de Marta, tanto a elite quanto os excluídos têm a mesma percepção de Maluf, rejeitado em nome de atributos -mentiroso, desonesto, oportunista, autoritário, desleal- que não deveriam mais ser vistos num homem público.
Nessa faixa de eleitores, os mais pobres acreditam que as obras de Maluf favoreceram prioritariamente a população mais rica. Citam ainda o descaso com a educação, o não funcionamento do PAS, a inexistência de policiamento nos bairros pobres e a má qualidade dos transportes.
Quanto aos mais ricos, Maluf é automaticamente associado a Pitta e a métodos escusos para obter apoio político (máfia da propina na Câmara Municipal). Para a elite, o candidato do PPB representaria o atraso, o retrocesso e o aumento da corrupção.

Retorno
Quanto aos eleitores malufistas, a pesquisa constatou não haver diferenças substanciais entre a percepção daqueles que votaram em Maluf no primeiro turno e quem escolheu outro candidato. O que está havendo entre os dois turnos é o movimento de retorno de malufistas "rebeldes".
"Sabe aquela frase dele -"se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim'? Pois eu já não votei nele no primeiro turno. Agora já posso votar", resume de maneira exemplar uma eleitora de baixa renda. E ela o faz com uma incontida satisfação, a exemplo de outros malufistas que expressaram o mesmo raciocínio.
Há por fim diferenças sutis e importantes na percepção que excluídos e elite têm do candidato pelo qual optaram.
Os excluídos se sentem mais seguros com um governante experiente e que os conduz. A elite deseja um governante que imponha respeito, pela experiência e pela firmeza de pulso.
O malufista pobre projeta no candidato atributos que gostaria de possuir: liderança e poder. A visão do malufista de renda mais elevada é menos modelar.
Prevalece a idéia de que o candidato possui um projeto para São Paulo, tendo nas obras o carro-chefe e tornando visível, por elas, a operância do poder público.
(JOÃO BATISTA NATALI)


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