São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2000

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PESQUISA
Levantamento qualitativo sobre opinião dos paulistanos às vésperas do segundo turno indica que eleitores de Marta Suplicy (PT) temem gestão de Paulo Maluf (PPB) e vice-versa
Medo motiva os eleitores em São Paulo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O medo está entre as motivações básicas do eleitor paulistano para este segundo turno.
O eleitor de Marta Suplicy (PT) teme o que possa acontecer com São Paulo em caso de eleição de Paulo Maluf (PPB). E a recíproca é plenamente verdadeira.
Entre os eleitores malufistas circulam, sobre a adversária, as noções de inexperiência, de incompetência, de futilidade ou de desestabilização de valores tradicionais (aborto e parceria civil entre homossexuais).
O PT é ainda sinônimo de greves, desordem e desagregação, com a perda do comando da sociedade pelo governante.
Mas para o eleitor de Marta o candidato adversário é bem mais que uma soma negativa de atributos pessoais, como demagogia, falsidade e cinismo. Ele é sobretudo associado ao exercício autoritário do poder e à malversação de recursos públicos.
Por detrás dessa polarização que provoca temores quanto à possibilidade da eleição do adversário, há dois movimentos paralelos na cabeça do eleitor.
De um lado, Marta consegue provocar uma sensação de tranquilidade e de abrandamento da antiga imagem do petismo. É provavelmente por isso que sua candidatura cresceu entre segmentos da elite avessos ao seu partido.
De outro lado, Maluf consegue não apenas manter a fidelidade dos eleitores que o apoiaram no primeiro turno como também agregar outros apoios que são, no fundo, uma reconquista de seu eleitorado tradicional.
É algo que as pesquisas quantitativas sobre a intenção de voto já haviam sinalizado, como o fato de, segundo levantamento do Datafolha realizado ontem, Maluf estar agora atraindo os votos de 40% dos eleitores de Romeu Tuma (PFL), de 31% dos que votaram em Geraldo Alckmin (PSDB) ou de 19% dos que preferiram Luiza Erundina (PSB).
O que a pesquisa qualitativa permite é identificar o conteúdo sentimental dessa adesão.
Maluf não atrai novos eleitores. Ele reconquista um eleitorado que historicamente já foi o seu e que deixou de votar nele no primeiro turno como uma forma de protesto pela má administração de Celso Pitta (PTN). Os depoimentos coincidentes nos grupos de entrevistados não deixam margem de dúvida quanto a isso.
Com isso, protesto feito e consciência agora tranquila, o eleitor malufista demonstra um sentimento de alívio e expressa abertamente a alegria por se integrar novamente à corrente política pela qual sempre sentiu afinidades.
Em resumo, Marta, com o "PT light", é a candidata das novas adesões. Maluf é o candidato da reagregação das adesões antigas que o primeiro turno de 1º de outubro pulverizou entre seus adversários.
Tudo isso se dá num cenário em que existe bem mais que o fosso que separa dois estilos de administração pública. O que existe é o o confronto entre formas irreconciliáveis de exercício do poder, ou a imagem positiva ou pejorativa que essas formas transportam.
Pouco importa, no caso de um ou outro grupo de eleitores, qual a consistência racional dos valores mobilizados. A pesquisa qualitativa tem por mérito trazer à tona condimentos de motivação alheios a qualquer racionalidade.
O eleitor é um ser que navega por correntes formadas por imagens, às quais ele adere ou que ele rejeita, em nome de princípios ou preconceitos que escapam à idéia restrita que se faz da política.


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