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PESQUISA
Levantamento qualitativo sobre opinião dos paulistanos às vésperas do segundo
turno indica que eleitores de Marta Suplicy (PT) temem gestão de Paulo Maluf (PPB) e vice-versa
Medo motiva os eleitores em São Paulo
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O medo está entre as motivações básicas do eleitor paulistano
para este segundo turno.
O eleitor de Marta Suplicy (PT)
teme o que possa acontecer com
São Paulo em caso de eleição de
Paulo Maluf (PPB). E a recíproca é
plenamente verdadeira.
Entre os eleitores malufistas circulam, sobre a adversária, as noções de inexperiência, de incompetência, de futilidade ou de desestabilização de valores tradicionais (aborto e parceria civil entre
homossexuais).
O PT é ainda sinônimo de greves, desordem e desagregação,
com a perda do comando da sociedade pelo governante.
Mas para o eleitor de Marta o
candidato adversário é bem mais
que uma soma negativa de atributos pessoais, como demagogia,
falsidade e cinismo. Ele é sobretudo associado ao exercício autoritário do poder e à malversação de
recursos públicos.
Por detrás dessa polarização
que provoca temores quanto à
possibilidade da eleição do adversário, há dois movimentos paralelos na cabeça do eleitor.
De um lado, Marta consegue
provocar uma sensação de tranquilidade e de abrandamento da
antiga imagem do petismo. É provavelmente por isso que sua candidatura cresceu entre segmentos
da elite avessos ao seu partido.
De outro lado, Maluf consegue
não apenas manter a fidelidade
dos eleitores que o apoiaram no
primeiro turno como também
agregar outros apoios que são, no
fundo, uma reconquista de seu
eleitorado tradicional.
É algo que as pesquisas quantitativas sobre a intenção de voto já
haviam sinalizado, como o fato
de, segundo levantamento do Datafolha realizado ontem, Maluf
estar agora atraindo os votos de
40% dos eleitores de Romeu Tuma (PFL), de 31% dos que votaram em Geraldo Alckmin (PSDB)
ou de 19% dos que preferiram
Luiza Erundina (PSB).
O que a pesquisa qualitativa
permite é identificar o conteúdo
sentimental dessa adesão.
Maluf não atrai novos eleitores.
Ele reconquista um eleitorado
que historicamente já foi o seu e
que deixou de votar nele no primeiro turno como uma forma de
protesto pela má administração
de Celso Pitta (PTN). Os depoimentos coincidentes nos grupos
de entrevistados não deixam margem de dúvida quanto a isso.
Com isso, protesto feito e consciência agora tranquila, o eleitor
malufista demonstra um sentimento de alívio e expressa abertamente a alegria por se integrar novamente à corrente política pela
qual sempre sentiu afinidades.
Em resumo, Marta, com o "PT
light", é a candidata das novas
adesões. Maluf é o candidato da
reagregação das adesões antigas
que o primeiro turno de 1º de outubro pulverizou entre seus adversários.
Tudo isso se dá num cenário em
que existe bem mais que o fosso
que separa dois estilos de administração pública. O que existe é o
o confronto entre formas irreconciliáveis de exercício do poder, ou
a imagem positiva ou pejorativa
que essas formas transportam.
Pouco importa, no caso de um
ou outro grupo de eleitores, qual a
consistência racional dos valores
mobilizados. A pesquisa qualitativa tem por mérito trazer à tona
condimentos de motivação
alheios a qualquer racionalidade.
O eleitor é um ser que navega
por correntes formadas por imagens, às quais ele adere ou que ele
rejeita, em nome de princípios ou
preconceitos que escapam à idéia
restrita que se faz da política.
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