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Kassab cita Marta para justificar a evolução de seu patrimônio
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na mira do PT, o vice de José
Serra, deputado federal Gilberto
Kassab (PFL), recorre à evolução
patrimonial da prefeita Marta Suplicy - registrada na Justiça eleitoral - para justificar a sua.
Formado em engenharia civil e
economia pela USP e deputado
federal desde 1999, Kassab acusa o
PT de "maldade" e de desserviço à
democracia. E, ao falar sobre a
desconfortável situação de que é
alvo, resigna-se: "É a minha vida.
Todas essas questões que o PT
aponta fazem parte da minha vida." Quinto filho de uma numerosa família -são seis irmãos e
dez sobrinhos-, ele orgulha-se
das reuniões de domingo nas casas dos pais, Pedro e Yacy. Sua voz
ficou embargada ao falar sobre a
reação de sua mãe à campanha do
PT. Essa é a única pergunta que
pediu para não responder:
Folha - Qual é o
papel do vice?
Gilberto Kassab -
Um colaborador
da administração.
Não consigo entender uma administração sem uma
perfeita sintonia
entre o vice e o titular. Perfeita sintonia é atender às
expectativas da
máquina. E quem
lidera, quem coordena, é o prefeito.
Folha - Inicialmente Serra resistiu a seu nome. Essa
sintonia existe?
Kassab - Nunca
tive sinalização de
resistência dele ao
meu nome. Desde
a primeira conversa, ficou definido
que o partido indicaria o vice. A indicação era do partido. Nunca houve
uma manifestação
da parte dele, de
ninguém do
PSDB, a favor ou
contra nomes.
Folha - O sr. não se arrepende de
ter mantido a candidatura?
Kassab - Não. Porque não foi um
gesto pessoal. Fui convidado pelos senadores Jorge Bornhausen e
Marco Maciel e por Claudio Lembo para ser candidato. Foi uma
missão partidária. A representação do partido numa chapa tem
de ser uma escolha partidária.
Folha - Nem ao cabeça de chapa
cabe essa escolha?
Kassab - A escolha é partidária.
De comum acordo com o prefeito. Mas o próprio nome diz: é uma
aliança. O PSDB escolhe o prefeito, e o PFL, o vice. Claro que precisa haver concordância, sinergia,
uma coincidência na visão dos
principais assuntos da cidade.
Folha - Qual é a convergência?
Kassab - O Serra tem uma capacidade de se dedicar ao trabalho
como poucos. Também tenho esse perfil. Acordo cedo. Durmo
tarde. Vivo o trabalho.
Folha - O sr. é principal alvo da
campanha do PT. Acredita mesmo
que não haja desgaste?
Kassab - Fui secretário do Planejamento do Pitta. Não há novidade nisso. Mas todo mundo sabe
que não sou da turma do Pitta.
Folha - O sr. até liderou uma campanha em defesa do Pitta.
Kassab - Existe uma declaração
em que defendo o candidato Pitta.
Evidente. O PFL fez uma aliança e
trabalhava pelo Pitta. Deve haver
várias declarações desse tipo.
Aliás, não só minhas. Deve haver
várias gravações, manifestações
de apoio ao Pitta. Como muitos,
me incluo entre os que se iludiram, se decepcionaram com o governo Pitta. O PT tenta transmitir
que isso não aconteceu. É até uma
incoerência da prefeita fazer isso e
ter apoio do Arnaldo Faria de Sá.
Ele era muito ligado ao Pitta.
Folha - O PT investe na sua evolução patrimonial [316% em quatro
anos], associando-a à gestão Pitta.
Kassab - É uma maldade do PT.
Minha vida pessoal e empresarial
é transparente. Como qualquer
cidadão brasileiro tem uma evolução patrimonial, tenho a minha.
Tudo dentro da lei. Sempre informando à Receita, pagando imposto. É mais uma maldade que
não surtirá efeito.
Folha - O sr. viu um folheto em
que o PT diz que não explicou sua
evolução patrimonial?
Kassab - Já vi. Já expliquei a
quem tinha que explicar, em especial para a Receita. O PT está
sem argumentos contra a candidatura de José Serra e procura
desviar o caminho. Foge do debate. É até uma falta de respeito com
o eleitor, que perde a oportunidade de assistir ao debate de idéias.
Folha - É normal uma evolução
patrimonial de 316%?
Kassab - Não acho normal nem
anormal. É uma realidade, feita
com trabalho, honestidade, transparência. Não cometi equívoco
jurídico ou moral.
Folha - Não se sente exposto?
Kassab - É a minha vida. Todas
essas questões que o PT aponta
fazem parte da minha vida. As
pessoas que me conhecem sabem
que nunca escondi nada de ninguém. Tenho atividade empresarial, participo de entidades, tenho
minha vida pessoal. Fui secretário
do Pitta. Em nenhum momento,
acho que deixei de ser pautado
pela moralidade e pela ética.
Folha - O PSDB já esperava isso?
Kassab - Acho que o PSDB e o
PFL nunca pensaram que o PT tivesse uma postura tão nociva à
democracia. Esse é o resultado da
eleição, a decepção com a postura
do PT: a fuga do debate.
Folha - O PT o acusa disso.
Kassab - Faça uma análise dos
programas de rádio e TV no horário gratuito. Veja quanto tempo o
PT reserva para debate de propostas, e quanto nós reservamos.
Folha - O sr. acha
que um debate com
o Rui Falcão seria
um embate?
Kassab - Não tenho problema em
debater com o Rui
Falcão, com Marta
ou com quem quer
que seja. A minha
agenda é da campanha. Qualquer
que seja, minha
participação em
eventos é definida
pela campanha.
Folha - O Jorge
Wilheim [secretário
de Marta] foi um argumento seu e da
campanha?
Kassab - Uma
coisa é o campo
pessoal e outro é
da campanha. No
caso do Wilheim, é
público. Ele foi um
importante colaborador e que hoje
participa da administração da Marta. Não sei por que
o PT fica tão bravo.
Quanto à evolução
patrimonial, todos
têm ou não uma
evolução patrimonial. A Marta
tem. Ela iniciou sua gestão com
R$ 1 milhão e, três anos e meio depois, está apresentando um patrimônio de R$ 5 milhões. Nem por
isso vou sair por aí acusando-a.
Folha - O PT diz que o comando
da campanha esconde o senhor.
Kassab - O argumento é só deles.
O que eu não vou fazer é ficar colado ao candidato, a não ser que a
campanha ache importante.
Folha - Que pensa de Rui Falcão?
Kassab - Foi deputado estadual
comigo. Não tinha intimidade
com ele. Na campanha, está fugindo do debate, entrando em críticas pessoais.
Folha - Concorda com a ofensiva
sobre ele, ligando-o a Waldomiro.
Kassab - O ministro José Dirceu,
que tem um papel muito importante no governo, não pode ser
condenado por ter tido uma convivência com o Waldomiro. Uma
convivência talvez com mais intensidade que eu tive com Pitta.
Folha - E o Rui Falcão?
Kassab - Ele tem que dar explicações da relação dele e do seu partido com o Waldomiro, na medida
em que eles cobram explicações
da minha relação com o Pitta.
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