São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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Kassab cita Marta para justificar a evolução de seu patrimônio

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na mira do PT, o vice de José Serra, deputado federal Gilberto Kassab (PFL), recorre à evolução patrimonial da prefeita Marta Suplicy - registrada na Justiça eleitoral - para justificar a sua.
Formado em engenharia civil e economia pela USP e deputado federal desde 1999, Kassab acusa o PT de "maldade" e de desserviço à democracia. E, ao falar sobre a desconfortável situação de que é alvo, resigna-se: "É a minha vida. Todas essas questões que o PT aponta fazem parte da minha vida." Quinto filho de uma numerosa família -são seis irmãos e dez sobrinhos-, ele orgulha-se das reuniões de domingo nas casas dos pais, Pedro e Yacy. Sua voz ficou embargada ao falar sobre a reação de sua mãe à campanha do PT. Essa é a única pergunta que pediu para não responder:
 

Folha - Qual é o papel do vice?
Gilberto Kassab -
Um colaborador da administração. Não consigo entender uma administração sem uma perfeita sintonia entre o vice e o titular. Perfeita sintonia é atender às expectativas da máquina. E quem lidera, quem coordena, é o prefeito.

Folha - Inicialmente Serra resistiu a seu nome. Essa sintonia existe?
Kassab -
Nunca tive sinalização de resistência dele ao meu nome. Desde a primeira conversa, ficou definido que o partido indicaria o vice. A indicação era do partido. Nunca houve uma manifestação da parte dele, de ninguém do PSDB, a favor ou contra nomes.

Folha - O sr. não se arrepende de ter mantido a candidatura?
Kassab -
Não. Porque não foi um gesto pessoal. Fui convidado pelos senadores Jorge Bornhausen e Marco Maciel e por Claudio Lembo para ser candidato. Foi uma missão partidária. A representação do partido numa chapa tem de ser uma escolha partidária.

Folha - Nem ao cabeça de chapa cabe essa escolha?
Kassab -
A escolha é partidária. De comum acordo com o prefeito. Mas o próprio nome diz: é uma aliança. O PSDB escolhe o prefeito, e o PFL, o vice. Claro que precisa haver concordância, sinergia, uma coincidência na visão dos principais assuntos da cidade.

Folha - Qual é a convergência?
Kassab -
O Serra tem uma capacidade de se dedicar ao trabalho como poucos. Também tenho esse perfil. Acordo cedo. Durmo tarde. Vivo o trabalho.

Folha - O sr. é principal alvo da campanha do PT. Acredita mesmo que não haja desgaste?
Kassab -
Fui secretário do Planejamento do Pitta. Não há novidade nisso. Mas todo mundo sabe que não sou da turma do Pitta.

Folha - O sr. até liderou uma campanha em defesa do Pitta.
Kassab -
Existe uma declaração em que defendo o candidato Pitta. Evidente. O PFL fez uma aliança e trabalhava pelo Pitta. Deve haver várias declarações desse tipo. Aliás, não só minhas. Deve haver várias gravações, manifestações de apoio ao Pitta. Como muitos, me incluo entre os que se iludiram, se decepcionaram com o governo Pitta. O PT tenta transmitir que isso não aconteceu. É até uma incoerência da prefeita fazer isso e ter apoio do Arnaldo Faria de Sá. Ele era muito ligado ao Pitta.

Folha - O PT investe na sua evolução patrimonial [316% em quatro anos], associando-a à gestão Pitta.
Kassab -
É uma maldade do PT. Minha vida pessoal e empresarial é transparente. Como qualquer cidadão brasileiro tem uma evolução patrimonial, tenho a minha. Tudo dentro da lei. Sempre informando à Receita, pagando imposto. É mais uma maldade que não surtirá efeito.

Folha - O sr. viu um folheto em que o PT diz que não explicou sua evolução patrimonial?
Kassab -
Já vi. Já expliquei a quem tinha que explicar, em especial para a Receita. O PT está sem argumentos contra a candidatura de José Serra e procura desviar o caminho. Foge do debate. É até uma falta de respeito com o eleitor, que perde a oportunidade de assistir ao debate de idéias.

Folha - É normal uma evolução patrimonial de 316%?
Kassab -
Não acho normal nem anormal. É uma realidade, feita com trabalho, honestidade, transparência. Não cometi equívoco jurídico ou moral.

Folha - Não se sente exposto?
Kassab -
É a minha vida. Todas essas questões que o PT aponta fazem parte da minha vida. As pessoas que me conhecem sabem que nunca escondi nada de ninguém. Tenho atividade empresarial, participo de entidades, tenho minha vida pessoal. Fui secretário do Pitta. Em nenhum momento, acho que deixei de ser pautado pela moralidade e pela ética.

Folha - O PSDB já esperava isso?
Kassab -
Acho que o PSDB e o PFL nunca pensaram que o PT tivesse uma postura tão nociva à democracia. Esse é o resultado da eleição, a decepção com a postura do PT: a fuga do debate.

Folha - O PT o acusa disso.
Kassab -
Faça uma análise dos programas de rádio e TV no horário gratuito. Veja quanto tempo o PT reserva para debate de propostas, e quanto nós reservamos.

Folha - O sr. acha que um debate com o Rui Falcão seria um embate?
Kassab -
Não tenho problema em debater com o Rui Falcão, com Marta ou com quem quer que seja. A minha agenda é da campanha. Qualquer que seja, minha participação em eventos é definida pela campanha.

Folha - O Jorge Wilheim [secretário de Marta] foi um argumento seu e da campanha?
Kassab -
Uma coisa é o campo pessoal e outro é da campanha. No caso do Wilheim, é público. Ele foi um importante colaborador e que hoje participa da administração da Marta. Não sei por que o PT fica tão bravo. Quanto à evolução patrimonial, todos têm ou não uma evolução patrimonial. A Marta tem. Ela iniciou sua gestão com R$ 1 milhão e, três anos e meio depois, está apresentando um patrimônio de R$ 5 milhões. Nem por isso vou sair por aí acusando-a.

Folha - O PT diz que o comando da campanha esconde o senhor.
Kassab -
O argumento é só deles. O que eu não vou fazer é ficar colado ao candidato, a não ser que a campanha ache importante.

Folha - Que pensa de Rui Falcão?
Kassab -
Foi deputado estadual comigo. Não tinha intimidade com ele. Na campanha, está fugindo do debate, entrando em críticas pessoais.

Folha - Concorda com a ofensiva sobre ele, ligando-o a Waldomiro.
Kassab -
O ministro José Dirceu, que tem um papel muito importante no governo, não pode ser condenado por ter tido uma convivência com o Waldomiro. Uma convivência talvez com mais intensidade que eu tive com Pitta.

Folha - E o Rui Falcão?
Kassab -
Ele tem que dar explicações da relação dele e do seu partido com o Waldomiro, na medida em que eles cobram explicações da minha relação com o Pitta.


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