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Falcão defende alianças e nega loteamento de cargos no governo
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase 25 anos após ter ajudado
a fundar o PT, o advogado e jornalista Rui Falcão, 60, candidato a
vice na chapa de Marta Suplicy
(PT), diz acreditar que as empresas contribuem para campanhas
para ter acesso ao governo.
Ele ressaltou, porém, que a gestão do PT "não concedeu privilégios" aos doadores. Formado em
direito pela USP, sua principal atividade foi o jornalismo: trabalhou
no "Jornal da Tarde", na Folha de
S.Paulo e chegou a ser diretor da
revista "Exame". Líder estudantil
na USP nos anos 60, Rui militou
no PCB e no grupo VAR-Palmares durante o regime militar, tendo ficado preso por três anos. Integrante do campo majoritário do
PT, Rui minimiza as críticas ao
apoio de Paulo Maluf a Marta. Diz
que não houve aliança com ele, só
uma declaração de apoio à petista:
Folha - Qual é a
importância do vice
para o senhor?
Rui Falcão - Em
um futuro governo nosso, eu seria
uma pessoa de
apoio, como fui
quando secretário
de Governo, já que
não há expectativa
de ela se ausentar.
Folha - O sr. acha
que o eleitor se
preocupa em saber
quem é o vice?
Falcão - Há uma
preocupação difusa, por conta de
episódios anteriores [em que o vice
assumiu o cargo].
Folha - Na época
em que se optou
por seu nome, o
PMDB pleiteava a
vaga. A prefeita
chegou a dizer que
o partido não se
mostrava confiável, por isso optou
pelo sr. Por que o
vice não foi do
PMDB e acabou
sendo o sr.?
Falcão - Nós vínhamos discutindo com o PMDB municipal uma
coligação proporcional. Em nenhum momento o PT debateu a
coligação em torno do vice. Quem
colocou a questão do vice foi o
[Orestes] Quércia, de uma forma
muito breve, sem nenhum tipo de
discussão, e isso foi descartado.
Não havia essa política de desconfiança. Na verdade nós temíamos
que um vice em uma campanha
polarizada, como prevíamos, pudesse a qualquer momento colocar dificuldades. Não do ponto de
vista de desconfiança, de honestidade ou da honradez de alguém
do PMDB. Imagine se, no meio da
campanha, o vice resolve se manifestar, discordando de uma política que estamos propondo. Isso
criaria uma desestabilização.
Folha - Alguns vereadores eleitos
pelo PTB [que se aliou ao PT] já manifestaram apoio a Serra. A coligação não ajudou a eleger o inimigo?
Falcão -Isso parece muito engenharia de obras feitas. Tem de fazer a pergunta: se não tivesse a coligação com o PTB, se não tivesse
o apoio naquela ocasião, se não tivesse o tempo de TV, qual teria sido o resultado eleitoral? Visto a
posteriori, pode-se dizer que se
perdeu vagas. Mas, e naquela ocasião? Qual teria sido nosso caminho? Tinha um quadro eleitoral
totalmente diferente de hoje.
Folha - Como secretário de Governo, o sr. conseguiu aprovar diversos projetos de interesse do Executivo. Como se deu sua atuação para
aprovar esses projetos?
Falcão - Primeiro você tem de ter
muita capacidade de diálogo e de
audiência. Tem de ouvir as pessoas, saber em que terreno está pisando, elaborar os projetos em
conjunto. Eventualmente aglutinar forças, eventualmente isolar
uma para atrair as outras.
Folha - Algum vereador pediu dinheiro para aprovar projetos?
Falcão - Para mim, nunca.
Folha - E para outra pessoa?
Falcão - Que eu tenha conhecimento, não. A aprovação de projetos sempre passou por contemplar o interesse específico de um
vereador. Vários projetos nós
sancionamos porque eram bons
ou, às vezes, eram projetos que
não faziam mal a ninguém, inócuos, mas que entram no jogo do
convencimento do vereador. Participação no governo também,
sem nenhuma precondição.
Folha - O PSDB qualifica isso como loteamento. É um loteamento?
Falcão - Acho que não. Loteamento é o que havia na época do
[ex-prefeito Celso] Pitta, em que
ele entregava uma regional para
um vereador e ele fazia o que quisesse. Nós nunca fizemos isso.
Folha - Os vereadores dizem que
essa participação se dá da seguinte
forma: um indica o subprefeito,
mas o chefe-de-gabinete não é dele. É dessa forma que acontece?
Falcão - Não. O Quércia, por
exemplo, no governo dele deixou
as pessoas participarem das estatais, mas indicava os diretores financeiros. Era um jeito de fazer
um controle orçamentário, fiscal,
e às vezes até das licitações e coisas do tipo. Nós fazemos controles políticos das subprefeituras.
Folha - Vocês, do PT, sempre comparam a atual administração com a
anterior. Dizem que receberam
uma herança maldita e que havia
muita corrupção. Houve corrupção
nesta administração?
Falcão - Não. Teve casos pontuais de pessoas acusadas de cobrarem propina. A Marta pôs
mais de cem pessoas para fora da
administração. Todos as denúncias foram apuradas. Não houve
corrupção com secretários, negociatas, como no governo Pitta.
Folha - Luiza Erundina levantou
suspeitas de corrupção na licitação
do lixo. As empresas de lixo passaram a ser grandes
parceiras do PT?
Falcão - Elas nunca foram grandes
parceiras do PT.
Houve algumas
que contribuíram,
na forma da lei.
Nós defendemos
contribuição pública de campanha. Não há nenhuma contrapartida de alguém que
contribua e depois
é favorecido. A
Erundina levantou
suspeitas sem nunca comprovar nada. Foram denúncias levianas.
Folha - O sr. crê
que as empresas
dão dinheiro aos
candidatos sem ter
interesse em alguma coisa, simplesmente pelas idéias
do candidato?
Falcão - Normalmente as grandes
contribuem para
mais de um candidato. Eu imagino
que elas querem
ter possibilidade
de aproximação com os governos.
De nossa parte nunca houve nenhum compromisso, ao receber
doações, de conceder qualquer
privilégio ou favorecimento.
Folha - Quem doa consegue se
aproximar mais facilmente?
Falcão -Não sei. Antônio Ermírio sempre fez as maiores doações
entre os tucanos. E tem relações
próximas com todo mundo. Posso dizer também o contrário: não
discriminamos quem não contribuiu. Nunca alguém deixou de ser
recebido porque não contribuiu.
Folha - Acha que foi um erro admitir que a saúde tem problemas?
Falcão - Não, porque seria ingenuidade supor que se nós não tivéssemos tocado na questão ela
não seria abordada pelos adversários. Segundo, uma das principais
características da Marta é a sinceridade. Trabalhar contra os fatos
seria artificial do ponto de vista do
caráter dela e da campanha. Houve um processo para melhorar a
saúde. Sabíamos que havia problemas. O Eduardo Jorge não foi
demitido porque não queria que
houvesse injunções políticas na
secretaria dele. Foi demitido porque estava administrando mal.
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