São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Velhas feridas

O "New York Times" deu uma das fotos do "Correio Braziliense" e atestou:
- Foto recém-descoberta de Vladimir Herzog mostra o jornalista nu em sua cela.
A reportagem de Larry Rohter foi mais cautelosa, dizendo que as fotos "são descritas" como de Herzog. De todo modo, o mais significativo, para o "NYT" de ontem, é que o episódio "reabre velhas feridas no Brasil".
João Luiz Pinaud, presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, crítico do próprio governo de que faz parte, aparece no jornal para repisar:
- Eu sinto urgência em chegar ao fundo disso, mas eu não sei se eles também.
"Eles" são o resto do governo.
Na Folha Online e em programa na Globo News, Kennedy Alencar manteve a pressão, dizendo que "sigilo eterno de arquivo oficial é crime" -e Lula "tem dever de mudar" o decreto assinado por FHC dias "antes de transmitir o cargo".
Para o jornalista, isso vale para os arquivos da ditadura e para os demais na história:
- Que democracia é essa que não resistiria à desconstrução de um mito [Caxias] por atrocidades na Guerra do Paraguai?
 
Em meio à pressão, José Dirceu saiu dizendo que Lula "está ciente da necessidade de solução para a questão", segundo a Globo Online. Do ministro:
- O governo tem a consciência de que é uma questão que tem que ser tratada. Mas o país precisa fazer de maneira que não volte ao passado e não mude a agenda do país, que é uma agenda democrática.
E não deu uma data.

BIZARRO

Reprodução
O "Guardian" enalteceu anteontem o livro "Empire Adrift" (capa ao lado), algo como império levado pela correnteza, sobre a "Roma subtropical" instalada no Rio por d. João, em 1808.
Segundo a resenha, essa "narrativa brilhante de um evento bizarro" se dedica em grande parte à influência britânica -com personagens como "lord Strangford, enviado do Reino Unido, um "spin-doctor" sempre disposto a roubar o crédito". Com Strangford, o Rio abriu seu porto a uma "invasão" de produtos britânicos e viu surgir "o primeiro pub".
Quanto a d. Pedro, "provavelmente" filho de d. João, seria "um namorador sem freios, bonito, semi-educado, urinando e defecando" em público, "mas que se tornou, no fim, o porta-estandarte da independência do Brasil".

Coisa cruel
Governistas podem teorizar sobre conspiração o quanto quiserem, mas os ecologistas não gostaram nada do episódio da "rinha de galo". Do site O Eco, uma entre várias reações:
- Duda Mendonça foi preso fazendo coisa cruel e por isso mesmo ilegal desde 1934.

Cedeu
De quebra, um colunista de meio ambiente do "Guardian" destacou na semana como Lula "cedeu às pressões" e liberou a soja transgênica -e como agora "a Monsanto está felicíssima e se preparando para os royalties".
A cara
De Marcos Sá Corrêa, sobre meio ambiente, no Nomínimo:
- A política ambiental agora tem nome, retrato 3x4 e ficha na polícia. Já não adianta mostrar a ministra Marina Silva chorando sobre a soja derramada ou pôr o líder seringueiro Chico Mendes no panteão da pátria. A cara é a de Duda Mendonça, o "Sansão" das brigas de galo.

Contra
E tem mais. Diz "O Globo" que "o sonho de Lula de retomar o programa nuclear, com quatro novas usinas, pode ser abortado pelo Partido Verde alemão".

ESTADOS UNIDOS DO SUL

O ex-presidente argentino Eduardo Duhalde, que chefia a comissão do Mercosul, anunciou que o encontro de chefes de Estado para criar um bloco na América do Sul será no dia 9 de dezembro, "na história Cuzco, no Peru". Era o que diziam as agências Dow Jones e AP, ontem.
Mas o "Miami Herald" tratou de mostrar que o projeto "que alguns anunciam como o início dos Estados Unidos da América do Sul" enfrenta "enormes obstáculos". Por exemplo, "um mercado comum não faz sentido para países com acordos de livre comércio com os EUA".
E o projeto está sendo tocado por ministros de relações exteriores, que podem discordar de colegas de comércio em seus próprios países. Para o ministro do comércio do Peru, por exemplo, "a matemática [do bloco] não fecha". O mesmo se pode dizer da crítica do ministro Luiz Furlan às restrições argentinas -embora o chanceler argentino, ontem no "La Nación", tenha amenizado o conflito, dizendo que "uma geladeira não congelará as relações".


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