|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Diante de Lula, empresários "emudecem" sobre a CPMF
Encontro com presidente é marcado por elogios e falta de debate sobre a cobrança
Quase cem líderes do setor privado vão a encontro no
Palácio do Planalto, mas guardam reclamações sobre
o tributo para entrevistas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As tradicionais reclamações
do setor privado foram deixadas de lado no encontro de quase cem empresários com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na entrada, vários reclamaram da intenção de prorrogar a
CPMF, mas no encontro a
preocupação foi trocada por
pedidos de menor burocracia,
mais infra-estrutura e reformas tributária e previdenciária,
além de elogios ao governo.
A reunião de três horas no
Palácio do Planalto também foi
marcada pelo discurso otimista
do governo, que divulgou uma
série de indicadores para reforçar a idéia de que a economia
tem apresentado um bom desempenho. Depois do quadro
róseo pintado por Guido Mantega (Fazenda) e Luciano Coutinho (BNDES), 16 empresários falaram. Todos elogiaram a
política econômica e disseram
que os negócios vão bem.
Em seguida, o presidente Lula fez um discurso de cerca de
uma hora para tentar estimular
os presentes a aumentar os investimentos no país.
"Eu me assusto quando ouço
dizer que a [utilização da] capacidade produtiva do país já chegou a 87%, e nós sabemos que
não pode chegar a mais do que
isso. É preciso haver mais investimentos para que a gente
não tenha a volta da chamada
"demanda maior do que a oferta", porque o resultado disso é o
surgimento de mercado paralelo, a volta da inflação, o desajuste da economia", afirmou Lula.
A CPMF não foi citada nem
pelo governo nem pelo setor
privado. Até mesmo a constante reclamação em relação aos
juros e a recente decisão do
Banco Central de interromper
os cortes foi deixada de lado.
"Não viemos aqui para buscar culpados, viemos para ajudar a resolver os problemas do
Brasil", disse o presidente da
Nestlé no Brasil, Ivan Zurita,
após a reunião.
Na mesma linha, Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, avaliou que o chamado imposto do cheque não é
o tema principal da discussão
com o governo. "O problema
não é ficar com a CPMF ou não.
Pode até ficar se baixar os outros [tributos]. O problema é
que a carga tributária é alta. A
CPMF é um imposto justo: eu
pago, mas todo mundo paga."
Após o encontro, Mantega se
exaltou ao ser questionado se o
governo pediu apoio do empresariado à CPMF. "Não tem que
debater todas as questões numa reunião. Estamos discutindo outras questões, discutimos
o país, discutimos o desenvolvimento. Parece que você [repórter] tem idéia fixa agora, só tem
CPMF. O Brasil tem muito
mais questões."
O tom ouvido após a reunião
foi completamente diferente
daquele visto antes do encontro com Lula. Ao chegar para a
reunião, empresários reclamaram da articulação pela prorrogação da CPMF. "O ideal é que
tivéssemos um plano de redução [da CPMF] porque ela é um
imposto que afeta em cadeia todos os preços. E, para ser competitiva, a economia brasileira
precisa da redução de impostos", disse o vice-presidente sênior do Itaú, Alfredo Setúbal,
ao chegar ao Planalto.
"Acho que é um momento
oportuno para uma redução
gradativa. De, por exemplo,
0,03 ponto percentual no primeiro ano. Tem muita margem
[para o corte] com o crescimento da economia", disse o presidente do conselho da Gerdau,
Jorge Gerdau Johannpeter, antes do encontro.
As poucas críticas trataram
de temas genéricos. O presidente do Santander, Gabriel
Jaramillo, pediu urgência na
reforma trabalhista. O presidente da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Manoel
Félix Cintra Neto, defendeu a
reforma tributária.
Menores, as outras críticas
foram pontuais. O presidente
do ABN Amro Real, Fábio Barbosa, cobrou a implantação do
cadastro positivo de crédito
-histórico de bons pagadores- e Luiza Trajano pediu linha de crédito do BNDES para
o varejo nos mesmos moldes
existentes para a indústria.
José Roberto Ermírio de Moraes, da Votorantim, disse que o
importante é o governo sinalizar que, a longo prazo, a carga
tributária possa diminuir". "Ele
[Lula] reconhece que é um momento que o Brasil ainda precisa desta carga tributária. A
questão dos programas sociais
é uma ênfase do governo atual,
certamente tem mostrado resultados significativos", disse.
Sem críticas contundentes, o
presidente disse que o governo
criou condições para que os
empresários invistam. Um dos
exemplos citados foi o recente
leilão de energia elétrica que,
para o governo, garante fornecimento de energia até 2012.
O discurso do governo pede
que o setor produtivo invista
em duas frentes. No Brasil, os
recursos devem ter como objetivo o mercado doméstico.
Além disso, Lula afirma que, se
os investimentos forem feitos
agora, não haverá problema de
inflação em alta no futuro.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|