São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

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Diante de Lula, empresários "emudecem" sobre a CPMF

Encontro com presidente é marcado por elogios e falta de debate sobre a cobrança

Quase cem líderes do setor privado vão a encontro no Palácio do Planalto, mas guardam reclamações sobre o tributo para entrevistas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As tradicionais reclamações do setor privado foram deixadas de lado no encontro de quase cem empresários com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na entrada, vários reclamaram da intenção de prorrogar a CPMF, mas no encontro a preocupação foi trocada por pedidos de menor burocracia, mais infra-estrutura e reformas tributária e previdenciária, além de elogios ao governo.
A reunião de três horas no Palácio do Planalto também foi marcada pelo discurso otimista do governo, que divulgou uma série de indicadores para reforçar a idéia de que a economia tem apresentado um bom desempenho. Depois do quadro róseo pintado por Guido Mantega (Fazenda) e Luciano Coutinho (BNDES), 16 empresários falaram. Todos elogiaram a política econômica e disseram que os negócios vão bem.
Em seguida, o presidente Lula fez um discurso de cerca de uma hora para tentar estimular os presentes a aumentar os investimentos no país.
"Eu me assusto quando ouço dizer que a [utilização da] capacidade produtiva do país já chegou a 87%, e nós sabemos que não pode chegar a mais do que isso. É preciso haver mais investimentos para que a gente não tenha a volta da chamada "demanda maior do que a oferta", porque o resultado disso é o surgimento de mercado paralelo, a volta da inflação, o desajuste da economia", afirmou Lula.
A CPMF não foi citada nem pelo governo nem pelo setor privado. Até mesmo a constante reclamação em relação aos juros e a recente decisão do Banco Central de interromper os cortes foi deixada de lado.
"Não viemos aqui para buscar culpados, viemos para ajudar a resolver os problemas do Brasil", disse o presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, após a reunião.
Na mesma linha, Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, avaliou que o chamado imposto do cheque não é o tema principal da discussão com o governo. "O problema não é ficar com a CPMF ou não. Pode até ficar se baixar os outros [tributos]. O problema é que a carga tributária é alta. A CPMF é um imposto justo: eu pago, mas todo mundo paga."
Após o encontro, Mantega se exaltou ao ser questionado se o governo pediu apoio do empresariado à CPMF. "Não tem que debater todas as questões numa reunião. Estamos discutindo outras questões, discutimos o país, discutimos o desenvolvimento. Parece que você [repórter] tem idéia fixa agora, só tem CPMF. O Brasil tem muito mais questões."
O tom ouvido após a reunião foi completamente diferente daquele visto antes do encontro com Lula. Ao chegar para a reunião, empresários reclamaram da articulação pela prorrogação da CPMF. "O ideal é que tivéssemos um plano de redução [da CPMF] porque ela é um imposto que afeta em cadeia todos os preços. E, para ser competitiva, a economia brasileira precisa da redução de impostos", disse o vice-presidente sênior do Itaú, Alfredo Setúbal, ao chegar ao Planalto.
"Acho que é um momento oportuno para uma redução gradativa. De, por exemplo, 0,03 ponto percentual no primeiro ano. Tem muita margem [para o corte] com o crescimento da economia", disse o presidente do conselho da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, antes do encontro.
As poucas críticas trataram de temas genéricos. O presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, pediu urgência na reforma trabalhista. O presidente da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Manoel Félix Cintra Neto, defendeu a reforma tributária.
Menores, as outras críticas foram pontuais. O presidente do ABN Amro Real, Fábio Barbosa, cobrou a implantação do cadastro positivo de crédito -histórico de bons pagadores- e Luiza Trajano pediu linha de crédito do BNDES para o varejo nos mesmos moldes existentes para a indústria.
José Roberto Ermírio de Moraes, da Votorantim, disse que o importante é o governo sinalizar que, a longo prazo, a carga tributária possa diminuir". "Ele [Lula] reconhece que é um momento que o Brasil ainda precisa desta carga tributária. A questão dos programas sociais é uma ênfase do governo atual, certamente tem mostrado resultados significativos", disse.
Sem críticas contundentes, o presidente disse que o governo criou condições para que os empresários invistam. Um dos exemplos citados foi o recente leilão de energia elétrica que, para o governo, garante fornecimento de energia até 2012.
O discurso do governo pede que o setor produtivo invista em duas frentes. No Brasil, os recursos devem ter como objetivo o mercado doméstico. Além disso, Lula afirma que, se os investimentos forem feitos agora, não haverá problema de inflação em alta no futuro.


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