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Polícia tenta identificar milícia que age no Pará
A autodenominada "Liga dos Camponeses Pobres" ameaçou fazendeiros e lavradores
Superintendente do Incra de Marabá, Raimundo Oliveira, diz que movimento surgiu no sul do Estado e exige a desapropriação de fazenda
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Civil do Pará identificou uma milícia atuando no
sudeste do Estado. Uma equipe
da delegacia de Redenção (916
km de Belém) encontrou pessoas armadas e encapuzadas na
entrada de uma fazenda em
Santa Maria das Barreiras (PA).
O delegado Neldo Sena Ribeiro disse que o levantamento
preliminar feito por policiais
civis não conseguiu identificar
a quem o grupo armado está ligado -se a fazendeiros ou se a
pequenos agricultores.
No final de setembro, fazendeiros e funcionários de propriedades rurais de Santa Maria das Barreiras, vizinho a Redenção, relataram em boletins
de ocorrência que grupos armados e encapuzados invadiram propriedades, mantiveram
os trabalhadores sob ameaça e
roubaram carros e armas dos
seguranças. "Todas as hipóteses têm de ser levantadas. Mas
essa milícia armada foi identificada", disse o delegado. "Não
deu para identificar [a quem
elas estão ligadas], pois foi um
levantamento prévio."
Os policiais foram a campo
na semana passada. Em relatório, eles dizem que na entrada
da fazenda Colorado foram recebidos por oito pessoas que tinham motos e estavam armadas e encapuzadas. Elas perguntaram o que os policiais faziam no local e se eram conhecidos do dono da fazenda.
Perto da fazenda Manain os
policiais relatam que um motorista que presta serviço de
transporte disse ter sido abordado por um grupo armado
quando levava mantimentos
até a fazenda e que foi obrigado
a se deitar no chão.
Em um dos boletins de ocorrência, o proprietário da fazenda Ninho da Garça, Tarcísio Lemos Andrade, diz que no último dia 22 de setembro foi abordado na fazenda por cerca de 50
homens armados que disseram
fazer parte da Liga dos Camponeses Pobres e ter interesse na
desapropriação da área. O fazendeiro disse ter ficado por 13
horas sob ameaça dos invasores. No mesmo dia, ele relata
que o grupo invadiu a fazenda
Soledade. A reportagem não
conseguiu achar o fazendeiro.
Em outro boletim, um trabalhador da fazenda Manain diz
que foi rendido por integrantes
armados da Liga dos Camponeses Pobres e que foi levado com
funcionários e seguranças da
fazenda para a sede da propriedade, onde foram ameaçados.
A reportagem não conseguiu
falar com nenhum representante da Liga. Segundo o superintendente do Incra de Marabá (PA), Raimundo Oliveira, o
movimento está se organizando no sul do Estado e reivindica
a desapropriação da fazenda
Forquilha, da qual foram desmembradas informalmente as
fazendas Manain, Ninho da
Garça e Soledade, entre outras.
Ele, no entanto, disse não ter sido informado dos ataques.
A promotora Rosângela
Hartmann determinou que a
Polícia Civil instaurasse inquérito policial para apurar possível ocorrência de crime comum. "Entendo que se trata de
prática de crime comum, previsto no Código Penal, e não de
ação de movimento agrário."
Anteontem, uma liderança
da Fetaf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar) foi morto em uma emboscada em Dom Eliseu (PA). O
movimento acusa fazendeiros
de estarem por trás da morte.
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