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COMENTÁRIO
Marta adota estratégia de bate-estaca
NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Se Marta Suplicy se deixou
abalar no debate anterior, na
Record, ontem foi a vez de Gilberto Kassab. Embora tenha
começado com agressividade
acima do recomendável, sobretudo para quem tem rejeição
tão alta, a ex-prefeita se estabilizou e atravessou o programa
com aparente firmeza de argumentos. Com um questionamento constante, bate-estaca,
mas que não feria o espectador.
Feriu o adversário. O prefeito
abriu com a estratégia que usou
ao longo de toda a campanha,
de transformar Marta em governo e assim reativar a memória negativa do paulistano. Para
tanto, recorreu ao próprio vice
de Marta. Ela reagiu agressiva,
mas também em sua estratégia
costumeira, ao menos neste segundo turno, de associar Kassab com Celso Pitta.
Por qualquer razão, talvez
por instrução de marqueteiro
para se conter, talvez pelo impacto da propaganda com o
"vagabundo", Kassab tremeu.
Repetia as frases feitas, "cidade
quebrada", "cidade falida", "Paris", mas não soava especialmente atento ao que ele mesmo
falava. Deixou que Marta tomasse a iniciativa, no primeiro
e depois no correr dos outros
três blocos. Nem as questões
generalistas tiradas do nada pelo âncora conseguiam conter a
ex-prefeita, que seguia deixando marcas no adversário.
Depois de não pouca confusão, o documento de despejo
repisado por ela deixou nele
uma imagem de insensibilidade e até desconhecimento. Sobre educação, "Kassab, você
nunca entendeu os CEUs". Sobre trânsito, "você não fez um
corredor de ônibus". Pior,
"quando é que vai começar o
pedágio?". Sentia-se tão à vontade que tentou até "esclarecer" os túneis que ela fez.
Não faltaram acenos da ex-prefeita ao eleitorado feminino, aproveitando a desatenção
kassabista. Ele falou em creches como tema "delicado", ela
reagiu que "creche é um assunto concreto para a mulher, isso
é que você não entende". Poderia ter evitado, porém, o aparente esforço para chorar, ao
descrever a visita à favela. Aliás,
até falou, "foi lá que eu chorei".
Sobre quem venceu ou perdeu, é certo que Gilberto Kassab entrou para evitar qualquer
risco de desastre, algo que pudesse ameaçar sua imensa vantagem, e isso ele conseguiu.
Mas não saiu engrandecido do
debate, pelo contrário.
De seu lado, Marta muito
provavelmente entrou para iniciar uma recuperação de sua
imagem com vistas ao futuro. E
saiu maior, uma personagem
mais leve e aberta, menos arrogante. Reafirmou também a
opção pelos pobres, que havia
desaparecido na campanha.
Da parte da Globo, o formato
do programa não trouxe inovação e o âncora Chico Pinheiro,
apresentador do "SPTV" marcado por confrontos com a petista, só existiu para abrir e fechar o programa. Poderia não
ter falado "Geraldo Kassab".
Como na Record, também na
Globo os dois candidatos, treinados que são, mal precisaram
de cortes. A exemplo dos bordões que repetiam sem parar,
também um relógio parecia
ter-se instalado neles.
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