|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA FEDERAL
Deputados e ex-deputados estaduais são autuados por omitirem rendimentos extras no cálculo do IR
Malha fina nas Assembléias rende R$ 44 milhões
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deputados e ex-deputados de 18
Assembléias Legislativas foram
autuados pela Receita Federal
neste ano por omitirem rendimentos no cálculo do Imposto de
Renda. Além dos salários sobre os
quais pagavam imposto, os deputados recebiam dinheiro extra para bancar consórcios de carros e
até viagens de familiares.
Com a fiscalização dos deputados estaduais e com o início do
trabalho em relação aos vereadores (municípios), a Receita já fez
autuações no valor de R$ 51 milhões até agora. Só as autuações
nas Assembléias já somam R$ 44
milhões. Os nomes dos deputados não podem ser divulgados
por causa do sigilo fiscal.
Durante a fiscalização, que começou em meados do ano passado, os fiscais relataram vários tipos de ajudas de custo que não integravam o salário dos deputados
para efeito de tributação.
Além dos "extras" mais comuns, como verbas para envio de
correspondências e para ligações
telefônicas, os fiscais encontraram ajuda para pagamento de
consórcios de automóveis, para
viagens de familiares dos deputados estaduais e para distribuição
de cestas básicas. No caso das cestas, o deputado deduzia do seu salário o dinheiro para a compra
dos alimentos e declarava apenas
a parcela restante do rendimento.
De acordo com o coordenador
de Fiscalização da Receita, Paulo
Ricardo Cardoso, em alguns casos a ajuda de custo chegava a R$
10 mil, enquanto o salário declarado era de apenas R$ 2.000. A
parcela salarial de até R$ 1.800
mensais tem uma alíquota de 15%
na tabela do Imposto de Renda.
Em uma das casas legislativas, os
deputados votaram uma resolução interna estabelecendo que as
ajudas de custo não deveriam ser
tributadas. Mas a tentativa de tornar legal a prática esbarra, é claro,
na legislação federal.
A Receita não encontrou irregularidades em cinco Assembléias
Legislativas. Ainda serão concluídas as investigações em outras
três Assembléias.
Com as descobertas feitas nas
Assembléias Legislativas, a Receita Federal iniciou recentemente
uma fiscalização nas Câmaras de
Vereadores. Segundo o coordenador de Fiscalização da Receita, os
fiscais só conseguiram examinar
os salários de dez Câmaras de capitais até agora. As autuações foram de R$ 7 milhões.
Restituição indevida
Mas as irregularidades não estão só no Legislativo. Em setembro, a Receita pediu explicações a
1.300 prefeituras que deixaram de
informar o pagamento de impostos de 17 mil servidores no valor
de R$ 33 milhões. Os dados se referem ao ano passado.
Os funcionários ficaram na malha fina da Receita porque reivindicavam restituições indevidas,
de acordo com as informações
que os fiscais tinham à época.
Mas havia a suspeita de que
quadrilhas estavam utilizando
contribuintes isentos para recebimento de restituições. Segundo
Cardoso, muitas prefeituras retificaram as informações que haviam repassado à Receita. Um balanço sobre o trabalho deverá ser
divulgado ainda neste mês, mas o
coordenador afirmou que ainda
não foi feita nenhuma representação para o Ministério Público.
No caso das prefeituras, a Receita Federal não tem como fazer autuações porque se trata de um poder público. Se for o caso, podem
ser abertos processos criminais
pelos procuradores.
A Receita arrecada cerca de R$
200 bilhões por ano, sendo que o
Imposto de Renda da pessoa física rende R$ 25 bilhões.
São Paulo
Na Assembléia paulista, pelas
contas do fisco, desde março de
1997, os deputados estaduais receberam R$ 48 milhões sem prestar contas. O número não inclui
os dados deste ano. Todo mês, a
Assembléia deposita na conta do
parlamentar R$ 6.000 de salário
bruto e repassa, em cheque, R$
12.250,50 de ajuda de custo.
Para a Casa, o auxílio não é tributável no Imposto de Renda
porque os valores servem para a
"substituição de materiais" utilizados pelos deputados.
Colaborou a Redação
Texto Anterior: Janio de Freitas: O juízo (ainda) dos juízes Próximo Texto: No Planalto - Josias de Souza: Filantropia da viúva banca escola da vizinhança chique de FHC Índice
|