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SUCESSÃO NO ESCURO
Em seis cenários pesquisados pelo Datafolha, Lula mantém liderança com índice que varia de 31% a 36%
Roseana sobe 4 pontos e assume 2º lugar
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A governadora do Maranhão,
Roseana Sarney (PFL), cresceu
quatro pontos percentuais nos últimos dois meses e assumiu a segunda colocação entre os postulantes à Presidência da República,
revela pesquisa do Datafolha realizada entre 19 e 21 de novembro.
A pefelista é a mais bem colocada
entre os pré-candidatos dos partidos que apóiam o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Entre os tucanos, o ministro da
Saúde, José Serra, bate os governadores Tasso Jereissati (CE) e
Geraldo Alckmin (SP). Em um
dos cenários pesquisados -sem
a concorrência de Roseana-,
Serra cresce três pontos e atinge
10%. Em sua melhor performance, Tasso obtém 4%, e Alckmin,
7% (leia texto na página ao lado).
No cenário eleitoral mais provável até o momento, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) lidera o levantamento com 31%. Está 15 pontos à
frente de Roseana, com 16%. Sua
vantagem em relação a ela em setembro era de 18 pontos.
Embolados, aparecem em seguida Ciro Gomes (PPS), com
12% -dois pontos a menos do
que na pesquisa anterior-, Itamar Franco (PMDB), com 10%,
Anthony Garotinho (PSB), com
9%, e José Serra (PSDB), com 8%.
Há um empate técnico entre os
candidatos (entenda por que no
texto abaixo). À exceção de Ciro,
todos mantiveram-se estáveis ou
oscilaram dentro da margem de
erro nesse cenário.
Outras cinco situações foram
pesquisadas pelo Datafolha (veja
quadro), sempre com Lula na liderança, obtendo entre 31% e
36% dos votos.
Rádio e TV
A ascensão de Roseana coincide
com sua exposição neste semestre
nos programas eleitorais do PFL
na televisão e no rádio. Entre
agosto e novembro, a governadora apareceu em 60 minutos do horário nacional gratuito do partido
em cada meio de comunicação
-20 minutos durante o programa de 1º de novembro e em 80 inserções comercias de 30 segundos, levadas ao ar durante oito
dias não-consecutivos, de 7 de
agosto a 25 de outubro.
Roseana se destaca entre os jovens (crescimento de sete pontos), entre a classe média (oito
pontos a mais) e entre os que têm
diploma universitário (subiu dez
pontos). A pefelista tem mais eleitores entre as mulheres (18%) do
que entre os homens (14%).
Empate com Lula
Em faixas do eleitorado mais
bem remunerado, Roseana chega
a estar tecnicamente empatada
com Lula. Entre os que declararam renda mensal de R$1.801 a R$
3.600, a governadora obtém 21%
das intenções, contra 24% dele.
Ela registra nessa faixa um crescimento de oito pontos percentuais, e o petista, uma queda de
seis pontos, na comparação entre
o levantamento feito na semana
passada e o anterior.
Entre os eleitores com renda
acima de R$ 3.600, a governadora
cresceu sete pontos, e Lula perdeu
seis. Mas o petista lidera (31% a
15%). Nesse estrato, registra-se
ainda uma queda de seis pontos
de Ciro (de 18% para 12%).
Educação e Nordeste
Na análise do eleitor por grau de
escolaridade, Roseana saltou, em
dois meses, de 12% para 22% entre os que concluíram uma universidade. Entre esses eleitores,
Serra cresceu quatro pontos (de
5% para 9%). Lula caiu de 37%
para 33%, e Ciro Gomes, de 18%
para 15%.
Governadora de um Estado do
Nordeste, Roseana sai-se melhor
no Sudeste -onde cresceu seis
pontos (de 9% para 15%), e Lula
caiu três (de 29% para 26%). Na
sua região, Roseana perde para
Lula por 34% a 19%.
A melhor performance de Lula
em todos os estratos da pesquisa
está entre os eleitores do Norte/
Centro-Oeste. Ali o petista cresceu sete pontos desde setembro,
onde Roseana oscilou um ponto
positivamente. É a maior margem
de liderança de Lula, atingindo 21
pontos (37% a 16%).
Na região Sul, Lula cresceu quatro pontos, apesar da crise política
envolvendo o seu partido e o jogo
do bicho no Rio Grande do Sul.
Lula atingiu 36%, contra 16% de
Roseana (três pontos a mais do
que na pesquisa anterior).
Desdobramento
A dúvida que persiste é se a candidatura Roseana tem força para
manter-se ou continuar em ascensão sem o suporte da televisão
e do rádio.
Como ponto de partida, a governadora conseguiu penetrar
nas camadas sociais mais bem informadas. Beneficiou-se do fato
de o PT já ter usado seu tempo na
TV, e do PSDB ter optado por não
colocar seus candidatos fazendo
campanha nas inserções comerciais a que tinha direito.
Numa disputa que é a cada dia
mais midiática, a pefelista ocupou
o espaço nos meios de comunicação sozinha, sem ter sido combatida por adversários ou ter tido
um discurso político que concorresse com o seu.
Até 6 de outubro de 2002, data
do primeiro turno da eleição presidencial, isso mudará. No primeiro semestre, todos os grandes
partidos voltarão a ter acesso ao
rádio e à televisão. O PT terá 60
minutos em abril e maio, e o
PSDB e o PFL, em maio e junho.
Em situação ruim está Ciro Gomes. O PPS só terá dois minutos
de propaganda no primeiro semestre. Poderá se beneficiar dos
60 minutos do PTB em junho, caso confirme o apoio a ele e drible a
legislação eleitoral, que impede
que os trabalhistas façam campanha para alguém de outra legenda
no tempo dedicado ao partido.
No segundo semestre, a partir
de 20 de agosto de 2002, terá início
o horário eleitoral gratuito, que se
estenderá por 45 dias. Nesse período, a disputa deve começar a
ser decidida.
Rejeição
Um índice importante para medir a possibilidade de crescimento
eleitoral é a taxa de rejeição
-percentual de entrevistados
que afirmam que não votariam de
jeito algum em um candidato. Lula atinge 30%, Itamar, 27%, Serra,
20%, e Roseana e Ciro, 16%.
Em tese, Lula tem menos chance de crescer do que os demais.
No entanto, um nome pouco conhecido tem menos chances de
ser rejeitado do que um mais conhecido e, quanto mais exposto
e/ou criticado um candidato é,
mais essa taxa tende a crescer.
Quando simplesmente questionados sobre seu voto, sem apresentação de lista de candidatos,
16% dos entrevistados disseram
optar por Lula -que tem o maior
percentual dos chamados votos
cristalizados, aqueles mais difíceis
de serem mudados. Ciro ficou
com 4%; Roseana, 3%; Garotinho, 2%; Itamar e Serra, 1%.
Ao Datafolha, 59% dos eleitores
disseram espontaneamente não
saber em quem votar (51%) ou
não ter candidato (8%).
Com a estimulação de opções
apresentadas pelos pesquisadores, o percentual dos sem-candidato cai para 11%, número que
mostra quão frágeis são as escolhas hoje.
Ainda faltam mais de dez meses
para a eleição presidencial. Como
a política na frase atribuída ao mineiro José de Magalhães Pinto
(1908-1996), a opinião refletida na
pesquisa "muda como nuvem".
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