São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Em seis cenários pesquisados pelo Datafolha, Lula mantém liderança com índice que varia de 31% a 36%

Roseana sobe 4 pontos e assume 2º lugar

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), cresceu quatro pontos percentuais nos últimos dois meses e assumiu a segunda colocação entre os postulantes à Presidência da República, revela pesquisa do Datafolha realizada entre 19 e 21 de novembro. A pefelista é a mais bem colocada entre os pré-candidatos dos partidos que apóiam o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Entre os tucanos, o ministro da Saúde, José Serra, bate os governadores Tasso Jereissati (CE) e Geraldo Alckmin (SP). Em um dos cenários pesquisados -sem a concorrência de Roseana-, Serra cresce três pontos e atinge 10%. Em sua melhor performance, Tasso obtém 4%, e Alckmin, 7% (leia texto na página ao lado).
No cenário eleitoral mais provável até o momento, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera o levantamento com 31%. Está 15 pontos à frente de Roseana, com 16%. Sua vantagem em relação a ela em setembro era de 18 pontos.
Embolados, aparecem em seguida Ciro Gomes (PPS), com 12% -dois pontos a menos do que na pesquisa anterior-, Itamar Franco (PMDB), com 10%, Anthony Garotinho (PSB), com 9%, e José Serra (PSDB), com 8%. Há um empate técnico entre os candidatos (entenda por que no texto abaixo). À exceção de Ciro, todos mantiveram-se estáveis ou oscilaram dentro da margem de erro nesse cenário.
Outras cinco situações foram pesquisadas pelo Datafolha (veja quadro), sempre com Lula na liderança, obtendo entre 31% e 36% dos votos.

Rádio e TV
A ascensão de Roseana coincide com sua exposição neste semestre nos programas eleitorais do PFL na televisão e no rádio. Entre agosto e novembro, a governadora apareceu em 60 minutos do horário nacional gratuito do partido em cada meio de comunicação -20 minutos durante o programa de 1º de novembro e em 80 inserções comercias de 30 segundos, levadas ao ar durante oito dias não-consecutivos, de 7 de agosto a 25 de outubro.
Roseana se destaca entre os jovens (crescimento de sete pontos), entre a classe média (oito pontos a mais) e entre os que têm diploma universitário (subiu dez pontos). A pefelista tem mais eleitores entre as mulheres (18%) do que entre os homens (14%).

Empate com Lula
Em faixas do eleitorado mais bem remunerado, Roseana chega a estar tecnicamente empatada com Lula. Entre os que declararam renda mensal de R$1.801 a R$ 3.600, a governadora obtém 21% das intenções, contra 24% dele.
Ela registra nessa faixa um crescimento de oito pontos percentuais, e o petista, uma queda de seis pontos, na comparação entre o levantamento feito na semana passada e o anterior.
Entre os eleitores com renda acima de R$ 3.600, a governadora cresceu sete pontos, e Lula perdeu seis. Mas o petista lidera (31% a 15%). Nesse estrato, registra-se ainda uma queda de seis pontos de Ciro (de 18% para 12%).

Educação e Nordeste
Na análise do eleitor por grau de escolaridade, Roseana saltou, em dois meses, de 12% para 22% entre os que concluíram uma universidade. Entre esses eleitores, Serra cresceu quatro pontos (de 5% para 9%). Lula caiu de 37% para 33%, e Ciro Gomes, de 18% para 15%.
Governadora de um Estado do Nordeste, Roseana sai-se melhor no Sudeste -onde cresceu seis pontos (de 9% para 15%), e Lula caiu três (de 29% para 26%). Na sua região, Roseana perde para Lula por 34% a 19%.
A melhor performance de Lula em todos os estratos da pesquisa está entre os eleitores do Norte/ Centro-Oeste. Ali o petista cresceu sete pontos desde setembro, onde Roseana oscilou um ponto positivamente. É a maior margem de liderança de Lula, atingindo 21 pontos (37% a 16%).
Na região Sul, Lula cresceu quatro pontos, apesar da crise política envolvendo o seu partido e o jogo do bicho no Rio Grande do Sul. Lula atingiu 36%, contra 16% de Roseana (três pontos a mais do que na pesquisa anterior).

Desdobramento
A dúvida que persiste é se a candidatura Roseana tem força para manter-se ou continuar em ascensão sem o suporte da televisão e do rádio.
Como ponto de partida, a governadora conseguiu penetrar nas camadas sociais mais bem informadas. Beneficiou-se do fato de o PT já ter usado seu tempo na TV, e do PSDB ter optado por não colocar seus candidatos fazendo campanha nas inserções comerciais a que tinha direito.
Numa disputa que é a cada dia mais midiática, a pefelista ocupou o espaço nos meios de comunicação sozinha, sem ter sido combatida por adversários ou ter tido um discurso político que concorresse com o seu.
Até 6 de outubro de 2002, data do primeiro turno da eleição presidencial, isso mudará. No primeiro semestre, todos os grandes partidos voltarão a ter acesso ao rádio e à televisão. O PT terá 60 minutos em abril e maio, e o PSDB e o PFL, em maio e junho.
Em situação ruim está Ciro Gomes. O PPS só terá dois minutos de propaganda no primeiro semestre. Poderá se beneficiar dos 60 minutos do PTB em junho, caso confirme o apoio a ele e drible a legislação eleitoral, que impede que os trabalhistas façam campanha para alguém de outra legenda no tempo dedicado ao partido.
No segundo semestre, a partir de 20 de agosto de 2002, terá início o horário eleitoral gratuito, que se estenderá por 45 dias. Nesse período, a disputa deve começar a ser decidida.

Rejeição
Um índice importante para medir a possibilidade de crescimento eleitoral é a taxa de rejeição -percentual de entrevistados que afirmam que não votariam de jeito algum em um candidato. Lula atinge 30%, Itamar, 27%, Serra, 20%, e Roseana e Ciro, 16%.
Em tese, Lula tem menos chance de crescer do que os demais. No entanto, um nome pouco conhecido tem menos chances de ser rejeitado do que um mais conhecido e, quanto mais exposto e/ou criticado um candidato é, mais essa taxa tende a crescer.
Quando simplesmente questionados sobre seu voto, sem apresentação de lista de candidatos, 16% dos entrevistados disseram optar por Lula -que tem o maior percentual dos chamados votos cristalizados, aqueles mais difíceis de serem mudados. Ciro ficou com 4%; Roseana, 3%; Garotinho, 2%; Itamar e Serra, 1%.
Ao Datafolha, 59% dos eleitores disseram espontaneamente não saber em quem votar (51%) ou não ter candidato (8%).
Com a estimulação de opções apresentadas pelos pesquisadores, o percentual dos sem-candidato cai para 11%, número que mostra quão frágeis são as escolhas hoje.
Ainda faltam mais de dez meses para a eleição presidencial. Como a política na frase atribuída ao mineiro José de Magalhães Pinto (1908-1996), a opinião refletida na pesquisa "muda como nuvem".


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