São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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OUTRO BRASIL

Debate sobre rumos do país reúne intelectuais e líderes da oposição

Giannotti cobra "utopia" do PSDB

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta utopia ao poder e à oposição. A avaliação é do filósofo José Arthur Giannotti, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em debate sobre democratização e reforma do Estado, promovido ontem pelo Instituto Sérgio Motta, em São Paulo, que tem como presidente o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros.
"Concordo com a definição do [novo presidente do PSDB, José] Serra de que o PT é o bolchevismo sem utopia. Mas, do nosso lado, quais são as nossas utopias?", questionou Giannotti a uma platéia de cerca de 60 pessoas, a maior parte ligada ao PSDB, como o ex-ministro Clóvis Carvalho, o deputado Alberto Goldman (SP) e a atriz Ruth Escobar.
Coordenador da mesa sobre política nacional, Giannotti deu o tom do debate: "Ainda estamos fascinados com a vitória do PT. Estamos nos atendo aos errinhos e aos errões do PT, mas não falamos aqui do papel que podemos fazer como oposição".
Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Giannotti disse que o PT tem o "domínio simbólico nacional" e que o PSDB fez um governo "economicista, eficaz", mas sem que tenha tido possibilidade de contrapor-se ao petismo no campo imaginário. "O PT construiu uma hegemonia ideológica que agora começa a se perder. Não acho que se possa fazer oposição sem mostrar que tipo de utopia defendemos para o país", analisou.

Mídia de joelhos
Também palestrante, o líder do PFL na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (BA), defendeu a forma como seu partido e o PSDB vêm atuando na oposição. "Bater nas contradições do PT mostra resultados. Acho até que estamos atuando preocupados demais com a governabilidade. Quem tem que se preocupar com a governabilidade é o governo. Não vou usar da minha massa para tapar buracos do PT", disse.
O parlamentar citou novamente entrevista concedida recentemente pelo publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira, ao AOL, um portal da internet. "O PT quer a mídia de joelhos. Quem disse isso não fui eu. Foi o sr. Frias. Estou só repetindo", disse Aleluia.
Denis Lerer Rosenfield, professor de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, questionou a cobertura da mídia ao caso Santo André, investigação de supostas irregularidades cometidas na prefeitura do município, cujo dinheiro seria remetido para o PT. "Se fosse com o PSDB, esse caso não seria esquecido tão rápido. Seria um cadáver repetidas vezes exumado", disse.
Rosenfield pôs em dúvida o projeto político petista. "Não sou tão seguro da convicção democrática do PT. Tenho dúvida da conversão do PT, mas não do fortalecimento inequívoco das instituições democráticas."
O deputado federal Custódio Mattos (PSDB-MG), o quarto debatedor, afirmou que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva foi um "fato universal". "O Lula é mais do que o PT. O PT do Lula nunca foi um partido de esquerda, mas sim de negociações pragmáticas. Nesse caso, o Lula é uma bênção para o establishment, em especial o financeiro", declarou.
O presidente nacional do PSDB, José Serra, disse ontem, em Brasília, que é "difícil" os tucanos se aliarem ao PT nas eleições de 2004. Segundo ele, a intenção é discutir todas as questões nacionais relacionadas às cidades.
"A população não mora no país nem no Estado, mas no município. Vamos fazer uma campanha que discuta as questões nacionais que têm a ver com as cidades."


Colaborou a Sucursal de Brasília

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