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OUTRO BRASIL
Debate sobre rumos do país reúne intelectuais e líderes da oposição
Giannotti cobra "utopia" do PSDB
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Falta utopia ao poder e à oposição. A avaliação é do filósofo José
Arthur Giannotti, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP,
em debate sobre democratização
e reforma do Estado, promovido
ontem pelo Instituto Sérgio Motta, em São Paulo, que tem como
presidente o economista Luiz
Carlos Mendonça de Barros.
"Concordo com a definição do
[novo presidente do PSDB, José]
Serra de que o PT é o bolchevismo
sem utopia. Mas, do nosso lado,
quais são as nossas utopias?",
questionou Giannotti a uma platéia de cerca de 60 pessoas, a
maior parte ligada ao PSDB, como o ex-ministro Clóvis Carvalho, o deputado Alberto Goldman
(SP) e a atriz Ruth Escobar.
Coordenador da mesa sobre política nacional, Giannotti deu o
tom do debate: "Ainda estamos
fascinados com a vitória do PT.
Estamos nos atendo aos errinhos
e aos errões do PT, mas não falamos aqui do papel que podemos
fazer como oposição".
Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Giannotti disse que o PT tem o "domínio simbólico nacional" e que o
PSDB fez um governo "economicista, eficaz", mas sem que tenha
tido possibilidade de contrapor-se ao petismo no campo imaginário. "O PT construiu uma hegemonia ideológica que agora começa a se perder. Não acho que se
possa fazer oposição sem mostrar
que tipo de utopia defendemos
para o país", analisou.
Mídia de joelhos
Também palestrante, o líder do
PFL na Câmara dos Deputados,
José Carlos Aleluia (BA), defendeu a forma como seu partido e o
PSDB vêm atuando na oposição.
"Bater nas contradições do PT
mostra resultados. Acho até que
estamos atuando preocupados
demais com a governabilidade.
Quem tem que se preocupar com
a governabilidade é o governo.
Não vou usar da minha massa para tapar buracos do PT", disse.
O parlamentar citou novamente
entrevista concedida recentemente pelo publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira, ao AOL, um
portal da internet. "O PT quer a
mídia de joelhos. Quem disse isso
não fui eu. Foi o sr. Frias. Estou só
repetindo", disse Aleluia.
Denis Lerer Rosenfield, professor de filosofia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,
questionou a cobertura da mídia
ao caso Santo André, investigação
de supostas irregularidades cometidas na prefeitura do município, cujo dinheiro seria remetido
para o PT. "Se fosse com o PSDB,
esse caso não seria esquecido tão
rápido. Seria um cadáver repetidas vezes exumado", disse.
Rosenfield pôs em dúvida o
projeto político petista. "Não sou
tão seguro da convicção democrática do PT. Tenho dúvida da
conversão do PT, mas não do fortalecimento inequívoco das instituições democráticas."
O deputado federal Custódio
Mattos (PSDB-MG), o quarto debatedor, afirmou que a eleição de
Luiz Inácio Lula da Silva foi um
"fato universal". "O Lula é mais
do que o PT. O PT do Lula nunca
foi um partido de esquerda, mas
sim de negociações pragmáticas.
Nesse caso, o Lula é uma bênção
para o establishment, em especial
o financeiro", declarou.
O presidente nacional do PSDB,
José Serra, disse ontem, em Brasília, que é "difícil" os tucanos se
aliarem ao PT nas eleições de
2004. Segundo ele, a intenção é
discutir todas as questões nacionais relacionadas às cidades.
"A população não mora no país
nem no Estado, mas no município. Vamos fazer uma campanha
que discuta as questões nacionais
que têm a ver com as cidades."
Colaborou a Sucursal de Brasília
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