São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Lula ou Palocci

Antônio Palocci "garantiu que não haverá intervenção no câmbio", anunciou o Bom Dia Brasil, reproduzindo frases do ministro:
- Não há motivo para preocupação. As mudanças cambiais ocorrem em vários continentes, mudanças entre as moedas. Precisamos ter tranqüilidade com esses indicadores.
Mas não foi bem assim. Horas depois Lula deu entrevista à Bloomberg e disse que "seria melhor" se o real se desvalorizasse. Aí veio o Banco Central e divulgou uma compra de dólares. E a Bloomberg:
- Real cai após declaração de Lula e anúncio do BC.
E quem não ficou bem na tela foi Antônio Palocci.
 
O ministro Luiz Furlan surgiu então no noticiário da queda, na Globo News, para elogiar o BC e dizer que não era uma "intervenção" no câmbio:
- É natural que se aproveite este momento de excesso de oferta de dólares.
No Jornal Nacional, acrescentou um diretor do BC:
- Estamos fazendo recomposição de reservas. Não tem absolutamente nenhuma preocupação com nenhum nível específico de taxa de câmbio.
Mas o contraste com Lula foi flagrante, resumido em duas frases pelo JN:
- Ontem, Palocci disse que não vai intervir para elevar a cotação do dólar. Hoje, Lula disse que, para as exportações, seria melhor que o dólar ficasse entre R$ 2,90 e R$ 3,10.
Na dúvida, o JN deu os prós e contras do dólar valorizado.
 
A entrevista de Lula foi base para uma longa reportagem da Bloomberg em seu site, em que incluiu um perfil do presidente. Pelo jeito, segue forte a mística lulista. Uma passagem:
- Seu passado contrasta com o dos advogados, empresários, generais e acadêmicos que lideraram o Brasil desde Deodoro da Fonseca em 1889.
E por aí foi. Mas não faltaram registros de que "os sucessos de Lula tiveram custo".
Foram mencionadas a derrota em São Paulo e declarações mais ou menos críticas do petista Ivan Valente e até de Caetano Veloso. Do cantor, sobre as promessas eleitorais:
- Todo mundo sabia que era tarefa impossível.
O texto fechou com o ex-presidente José Sarney:
- Por sua história de vida e seu carisma, Lula não tem adversário nas próximas eleições. Seu apelo vai direto ao povo e está acima de partidos.
A Bloomberg, como Sarney, se enamorou de Lula.

Bloomberg/Reprodução
Lula fala ao canal de notícias financeiras Bloomberg, em entrevista transmitida ontem

Calma
Lula reuniu os deputados do PMDB, posou para a televisão e, no destaque do Jornal Nacional, "pediu calma ao partido e que a decisão na convenção do dia 12 seja consciente".
Como sublinhou a Globo News, Lula "evitou falar sobre mais espaço no governo" -em outras palavras, o presidente "foi mais nebuloso" do que com os senadores do partido.
A cobertura do JN observou que, "no plenário, o PMDB faz corpo mole para votar, diz que ainda está em negociação, mas mesmo assim a Câmara está conseguindo votar".

Senhor
Com o PMDB e na Bloomberg, avaliou a Globo News, "Lula está mais senhor do governo".
Para o bem ou para o mal.

Oásis
Mais uma mostra de que a mística lulista continua firme, no exterior. O "Financial Times" deu reportagem sobre o "oásis" que ele planeja, contra o êxodo do Nordeste. É a transposição do São Francisco. O texto fecha com uma frase de Lula:
- Eu sonho com nordestinos vindo para São Paulo não para trabalhar, mas como turistas.

SEM FIM

A notícia surgiu antes no site do "Washington Post", em despacho da agência Reuters, e depois -aos poucos- na Globo News, nos sites noticiosos e, por fim, na manchete do JN. Explica-se: a Globo e outros anunciaram mais de uma vez, nos últimos meses, um acordo inexistente. Agora parece que saiu. O âncora William Bonner, em tom "oficial", anunciou "o fim de uma crise delicada":
- Com autorização, a fábrica de combustível nuclear de Resende entra em produção de urânio enriquecido.
Mas não, a agência Associated Press foi ouvir a ONU mais tarde e, de novo, não havia "autorização".


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