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VISÕES DA CRISE
O fracasso da ortodoxia
LUIZ FERNANDO DE PAULA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A economia brasileira nos
últimos anos tem sido
marcada pelo baixo crescimento:
média de 2,3% de 1999 a 2004 e
possivelmente 3% em 2005. O
crescimento econômico tem sido
obstaculizado, entre outros fatores, pela vulnerabilidade externa,
que torna o país vulnerável a choques externos e a avaliação de risco dos investidores, e pela adoção
de um mix de políticas fiscal e
monetária contracionistas, o que
impõe uma restrição de demanda
ao crescimento, que tem sido parcialmente compensado pelo crescimento das exportações líquidas.
Comparativamente à performance de outros países emergentes, o
crescimento brasileiro tem sido
modesto: a Índia cresceu a taxa
média de 6,1% de 1992 a 2003, a
Malásia, 6%, e a China, 9,8% no
mesmo período.
Um dos elementos centrais do
imbróglio macroeconômico brasileiro é o elevado nível da taxa de
juros reais praticada no país (10%
reais, em média, de 1999 a 2004),
incompatível com um crescimento econômico sustentável e financeiramente estável.
As altas taxas de juros resultam
em: (1) um constrangimento ao
crescimento econômico, através
do encarecimento do preço do
crédito e dos impactos negativos
das taxas de juros sobre as expectativas empresariais de longo prazo; (2) um aumento na dívida pública, que é formada em boa parte
por títulos indexados à taxa de
overnight.
O alto grau de abertura da conta
de capitais no Brasil é um dos fatores que colocam a taxa de juros
entre as mais altas do mundo, ao
torná-la bastante influenciada
tanto pelo risco-país quanto pela
expectativa da taxa de câmbio.
Adiciona-se a esses fatores o
conservadorismo excessivo das
autoridades monetárias que faz
com que o BC (Banco Central)
eleve a taxa de juros sempre que
haja qualquer ameaça de uma
possível elevação nos preços, independentemente da causa. No
atual regime de política econômica observa-se uma dominância da
política monetária sobre a política
fiscal: dado o compromisso do
governo com a solvência fiscal,
quando o BC, por algum motivo,
eleva a taxa de juros básica, o Tesouro é obrigado a se ajustar, elevando ainda mais o superávit primário fiscal.
A questão central da política
macroeconômica, portanto, é
criar condições para redução da
taxa de juros. Uma redução gradual, porém significativa da taxa
de juros reais, permitiria converter o círculo vicioso em um círculo virtuoso de crescimento: juros
baixos, diminuição na dívida pública, melhoria no quadro fiscal,
aumento nos investimentos públicos, menores taxas de empréstimos, crescimento do crédito,
maior crescimento econômico.
No Brasil, em contexto de operação de um regime de metas de
inflação acoplado a um regime de
flutuação cambial "puro", há uma
forte relação entre a política monetária e a política cambial: a volatilidade excessiva da taxa de câmbio gera problemas de gerenciamento da política macroeconômica, além de afetar negativamente as decisões empresariais de
investimento. De forma geral, a
política monetária praticada no
Brasil tem sido endógena: o BC
eleva a taxa de juros para mitigar
os efeitos da volatilidade da taxa
de câmbio, embora recentemente
o BC venha elevando de forma
mais autônoma a taxa de juros, no
que tem resultado uma apreciação da taxa de câmbio e uma queda da inflação.
Uma redução da taxa de juros
de curto prazo seria possível através da adoção de um conjunto de
medidas: (1) desmantelamento
dos mecanismos de indexação da
economia ainda existentes; (2)
combinação de uma política de
formação de reservas cambiais
com uma regulamentação nos
fluxos de capitais permitiria uma
maior estabilidade da taxa de
câmbio nominal; (3) adoção de
restrições aos fluxos de capitais,
que permitiria um maior grau de
autonomia da política monetária;
(4) melhoria na situação fiscal,
proporcionada por esforço moderado de geração de superávits
fiscais com juros mais baixos e
maior crescimento.
Evidentemente, uma mudança
desta natureza não será feita pelo
atual governo, que há muito fez
sua opção por uma política ao
agrado do mercado financeiro e
que a nosso juízo tem um viés anticrescimento. Mas, certamente,
uma política macroeconômica
voltada para o crescimento estará
na pauta da discussão na eleição
que se aproxima.
Luiz Fernando de Paula é professor da
Faculdade de Economia da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ) e
co-editor do livro "Novo-Desenvolvimentismo" (Manole)
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