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"MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Senadores tucanos e pefelistas prometem obstruir pauta da Casa enquanto plenário da Câmara não votar cassação de José Dirceu
Senado fica contra STF e ameaça não votar o Orçamento
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A oposição no Senado resolveu
entrar na rusga entre a Câmara e o
Supremo Tribunal Federal (STF)
e ontem anunciou que irá obstruir a aprovação do Orçamento
enquanto não for votada em plenário a cassação do deputado e
ex-ministro José Dirceu (PT-SP).
"Dirceu está usando de todo o
expediente para procrastinar uma
decisão", disse o líder do PFL no
Senado, José Agripino (RN). "Ele
está entupindo o duto que levará
outros processos a julgamento."
Para o líder do PSDB, senador
Arthur Virgílio (AM), se é "legítimo" a Câmara absolver ou não
Dirceu, também é legítimo e regimental fazer obstrução. "Nossa
decisão não significa desrespeito
ao STF nem intromissão em assuntos da Câmara", disse.
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), reagiu com indignação à proposta da
oposição. "O princípio do Estado
de Direito, que está na Constituição Federal, dispõe que a acusação tem de ser apresentada primeiro, para depois a defesa contestar", observou. "Houve inversão do direito de defesa e isso prejudica o processo." Mercadante
disse que "o Congresso tem de
respeitar a decisão do STF e não
pode tomar uma decisão para
constranger o Supremo".
Antes de PSDB e PFL anunciarem que irão obstruir as votações
no Senado, Jefferson Peres (PDT-AM) já havia manifestado sua indignação contra o STF. "O Judiciário está agindo politicamente
ao interferir no Congresso", acusou. "Isso aqui está virando uma
republiqueta", afirmou.
Revolta no Conselho de Ética
A revolta contra o STF deu a tônica da sessão do Conselho de Ética da Câmara pela manhã, originalmente convocada para tomar
o depoimento do deputado João
Paulo (PT-SP), que teve de esperar mais uma hora, mudo, até que
os protestos cessassem.
Houve até quem defendesse que
o conselho desse o troco no Supremo, como o deputado Carlos
Sampaio (PSDB-SP). "Essa Casa
tem de se posicionar e entrar com
um mandado de segurança contra o ministro Nelson Jobim [presidente do STF]", declarou.
Chico Alencar (PSOL-RJ) disse
que achou "estranha" a manifestação de Jobim, de considerar que
houve um empate e não uma derrota de Dirceu na votação. Com
sarcasmo, arrematou: "Esclareço
que estou falando do ministro
Nelson Jobim, não do juiz Márcio
Rezende Freitas", em referência
ao árbitro que não deu pênalti para o Internacional na partida contra o Corinthians pelo Brasileiro,
no último domingo.
Mais dramática foi a intervenção do deputado Nelson Trad
(PMDB-RS), que chegou a chorar
de raiva. "Não defendo canalhas
que aviltam essa Casa. Tenho até
vontade de sair da Câmara antes
do fim de meu mandato."
À tarde, no entanto, o conselho
se acalmou um pouco, principalmente após o próprio ministro
Cézar Peluzo ter confirmado que
deferira, ainda que em parte, a liminar pedida por Dirceu.
"É um empate, certamente", admitiu o presidente do conselho,
Ricardo Izar (PTB-SP). "Agora
vamos lutar pelo voto do ministro
Sepúlveda [Pertence]."
O conselho chegou a cogitar
uma interpelação contra Jobim,
mas optou por apenas emitir uma
nota branda no final do dia. "Uma
das alegações da defesa do deputado José Dirceu, de que a inversão das oitivas das testemunhas
teria ofendido o princípio do contraditório e da ampla defesa, não
faz o menor sentido", diz a nota.
O presidente da Câmara, Aldo
Rebelo (PC do B-SP), também
tratou de serenar os ânimos. Tanto que recusou sugestão da bancada do PFL de interpelar o Supremo. "Os Poderes são harmônicos
e independentes. A cada momento você pode enfrentar tensões",
declarou. Aldo manteve a votação
da cassação de Dirceu para o dia
30, enquanto aguarda uma posição final do STF.
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