|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES
"Qual crime eu cometi?", pergunta ex-presidente da Câmara, que alega ter pedido dinheiro ao tesoureiro do PT para pagar pesquisas
João Paulo diz que usou R$ 50 mil na eleição
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado João Paulo Cunha
(PT-SP) afirmou ontem, em depoimento ao Conselho de Ética da
Câmara, que sua mulher, Márcia
Milanésio, sacou R$ 50 mil no
Banco Rural a mando do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, e
negou que soubesse que o dinheiro pertencia a Marcos Valério
Fernandes de Souza, acusado de
ser o "operador do mensalão".
"Recurso você busca no tesoureiro do seu partido", disse. "Qual
crime eu cometi? Eu peguei do lugar que eu sabia, que era tesouraria nacional do PT", completou.
O ex-presidente da Câmara dos
Deputados (2003-2005) contou
não ter declarado o uso do dinheiro nem ao partido nem à Receita.
"Eu admito que tenha problema
contábil. Gostaria que alguém pudesse me dizer como posso corrigir", afirmou. "Eu não me preocupei com a comprovação fiscal."
João Paulo disse ter mantido relação "intensa" com Marcos Valério em 2003, apesar de dizer que
não sabia que os recursos sacados
na agência de Brasília do Banco
Rural pertenciam a uma conta da
SPMB -empresa da qual Valério
era sócio e que manteve contrato
com a Câmara na sua gestão.
O deputado contou ter recebido
o empresário para tomar café da
manhã na residência oficial da
presidência da Câmara em 3 de
setembro de 2003, véspera do dia
em que a mulher dele sacou os R$
50 mil. Ele contou que não conversaram sobre os recursos. "Ele
só foi me cumprimentar pela minha atuação na votação da reforma tributária", disse.
João Paulo tentou provar que o
dinheiro sacado no Rural foi gasto
para pagar pesquisas eleitorais
em quatro municípios da região
de Osasco (SP), seu reduto. Ele
apresentou cópias de três notas
fiscais com numeração seqüencial
(de 151 a 153) em que aparece como responsável pelo pagamento.
As três notas foram emitidas pela empresa "Datavale" que teria
realizado as pesquisas pré-eleitorais nas cidades de Carapicuíba,
Jandira, Cotia e Osasco. O deputado reconheceu que pelo menos
um dos sócios da Datavale, identificado como "Tupi", pode ser filiado ao PT: "Acredito que sim".
Além das notas, João Paulo
apresentou ao conselho papéis
encadernados que seriam cópias
das pesquisas realizadas: "O produto é mais importante que o
comprovante fiscal". O relator do
caso no conselho, deputado Cezar
Schirmer (PMDB-RS), e os demais integrantes do órgão redobraram os cuidados durante o depoimento do deputado, que chegou até a ouvir elogios.
O comportamento deve-se às
recentes decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) que questionaram a atuação do conselho,
principalmente no caso do deputado José Dirceu (PT-SP).
Contrato
Um dos momentos de excesso
de zelo foi demonstrado quando
Schirmer começou a fazer questões sobre o relatório do Tribunal
de Contas da União sobre o contrato da empresa de publicidade
SMPB com a Câmara. De imediato, João Paulo declarou que não
tinha cópia do documento e questionou Schirmer como ele havia
conseguido a dele. O deputado
Carlos Sampaio (PSDB-SP) pediu
a palavra e perguntou ao advogado do petista, Alberto Toron, se o
cliente preferia não responder
perguntas sobre aquele caso.
O advogado disse que não havia
problemas, mas mesmo assim o
deputado Nelson Trad (PTB-MG), que no momento presidia a
sessão depoimento, pediu que as
perguntas e as respostas sobre o
relatório do TCU no contrato da
SMPB fossem retiradas das notas.
O contrato assinado com a
SMPB foi feito com licitação e assinado no valor anual de R$ 9 milhões, mas recebeu aditamento de
R$ 1,7 milhão. "Este contrato eu
defendo com a maior tranqüilidade do mundo", disse João Paulo.
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/CPI dos bingos: CPI aprova convocação de compadre do presidente Próximo Texto: PT descrê das instituições, diz historiador Índice
|