São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 2005

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QUESTÃO AGRÁRIA

Texto se contrapõe ao documento final do relator da CPI da Terra

Ruralistas fazem relatório paralelo "anti-MST" na CPI

Lula Marques/Folha Imagem
João Paulo, do MST, e Luiz Nabhan Garcia, da UDR, na CPI da Terra


SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A bancada ruralista que integra a CPI da Terra apresentou ontem um relatório paralelo ao do deputado João Alfredo (PSOL-CE) e conseguiu adiar para a próxima terça-feira o desfecho da comissão. O prazo para conclusão da CPI expira na quarta-feira, dia 30.
A CPI, entretanto, chega ao final com dois relatórios antagônicos, já que o parecer de João Alfredo, com 750 páginas, é considerado pelos ruralistas favorável ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O relatório alternativo, de autoria do deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), gerou polêmica, especialmente por sugerir o indiciamento de dirigentes do MST pelos crimes de formação de quadrilha e extorsão, entre eles o coordenador nacional do movimento João Pedro Stedile.
O contra-relatório de Lupion, com 370 páginas, pede ainda a formalização de um pedido de devolução de R$ 18 milhões em recursos destinados pela União a convênios com cooperativas ligadas ao MST, sobre os quais há suspeita de irregularidades.
O texto também sugere que a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investiguem denúncias de treinamento de guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no MST pernambucano.
A leitura do relatório alternativo e a iminência de rejeição do parecer de João Alfredo provocaram reação de um grupo do MST que acompanhava a sessão. Eles gritaram "UDR [União Democrática Ruralista] assassina".
O presidente da UDR, Luiz Nabhan Garcia, e o relator também trocaram farpas ao fim da sessão.
"É a primeira vez na história que um parlamentar advoga em causa própria, é o advogado dos sem-terra. Esse relatório é uma aberração", afirmou Nabhan.
"Em 20 anos foram mais de mil trabalhadores mortos pela UDR. Trabalhadores rurais que são vítimas acabam colocados como assassinos", disse João Alfredo.
Temendo uma derrota do parecer de João Alfredo, já que os ruralistas têm maioria na CPI, o PT pediu o adiamento da votação, aceito pela oposição. Os senadores Sibá Machado (PT-AC) e Eduardo Suplicy (PT-SP) tentam costurar um acordo para aprovar um terceiro texto, com o apoio dos chamados moderados da CPI e do presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR).


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