São Paulo, quarta, 25 de novembro de 1998

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REPERCUSSÃO
Para diretor da entidade, saída de Mendonça de Barros, que estava cotado para o cargo, foi um "acidente"
Fiesp defende criação de novo ministério

da Reportagem Local


O empresário Roberto Nicolau Jeha, diretor de política industrial da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), afirmou ontem que a criação do Ministério da Produção depende da substituição da atual "vertente neoliberal e monetarista" do governo por uma filosofia "social-democrata".
"O segundo mandado do presidente Fernando Henrique Cardoso deve ser mais do PSDB do que do PFL. Se prevalecer o neoliberalismo dos juros altos, do câmbio baixo e da política fiscal que tira a competitividade da indústria, não haverá espaço para um ministério como esse", disse, referindo-se à defesa, pelo PFL, da atual política econômica do governo.
FHC reafirmou anteontem, na Venezuela, que pretende dar continuidade aos planos de criação do novo ministério.
Na avaliação do empresário, a pasta deverá ter sob sua administração órgãos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Banco do Brasil e agências de fomento.
Segundo ele, uma das principais finalidades do ministério deverá ser a concessão de linhas de financiamento com prazos e taxas de juros que permitam isonomia de condições entre os setores produtivos nacionais e os estrangeiros.
Além disso, a pasta ficaria encarregada também do desenvolvimento da política de comércio exterior do Brasil, "desestimulando as importações predatórias", e de incentivos ao turismo interno.
"Não será um ministério salva-vidas, mas um instrumento para auxiliar a organização de uma política industrial de inserção no mundo e uma política de comércio exterior agressiva."
²
Covas
Como forma de tentar garantir a criação da nova pasta, Jeha defendeu a presença do governador reeleito de São Paulo, Mário Covas (PSDB), como interlocutor dos setores produtivos de São Paulo com o governo federal.
Embora ainda não tenha sido feito um convite para que o governador assuma a função, Jeha declarou que, "no momento oportuno", a proposta será feita ao tucano pela Fiesp e demais setores envolvidos com a produção.
"Todos os que querem um país melhor têm de fazer pressão para ter o ministério e para que ele seja forte. Devemos promover mobilizações políticas, um arco de alianças com a CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, Fiesp, Federações da Agricultura e do Comércio. Ir a Brasília, conversar com deputados, senadores e com a sociedade."
Jeha declarou que a demissão do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, até então um dos nomes mais cotados para o cargo, não inviabiliza a criação da pasta. "Foi um acidente de percurso. Temos de ir em frente, independentemente dos homens."
Em sua opinião, o ministro Paulo Renato (Educação) seria um dos possíveis nomes para ocupar a função. "Ele é do PSDB, conhece o problema da produção e tem feito um bom trabalho na Educação."
² Cargo do PSDB
O deputado eleito Emerson Kapaz (PSDB-SP) defendeu a indicação de alguém identificado com o PSDB para o Ministério da Produção -como, por exemplo, um "empresário referendado pelo partido". Citou, como alguém que se encaixa nesse perfil, o nome de Paulo Cunha, do grupo Ultra.
Ele utilizou um argumento semelhante em relação ao BNDES -para o qual, no entanto, está sendo cotado o economista Rodolpho Tourinho, ligado ao presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"É preciso alguém que conheça o setor empresarial a fundo", afirmou Kapaz, que foi secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo.
O deputado eleito, que se encontrou ontem com FHC, junto com outros parlamentares recém-eleitos do PSDB, lamentou a saída dos irmãos Mendonça de Barros e de Lara Resende do governo federal.
"Eles estavam preparando uma política de financiamento diferenciado para a retomada do crescimento econômico", afirmou.
² CNI
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Fernando Bezerra, que é senador pelo PMDB-RN, também saiu em defesa da criação do novo ministério.
"Se há uma unanimidade, hoje, no Brasil, é a de que precisamos exportar mais, inclusive para gerarmos mais empregos", afirmou.
Ele também fez a defesa da forma como Luiz Carlos Mendonça de Barros e Lara Resende conduziram o leilão do Sistema Telebrás, no fim de julho.



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