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Igreja lança ofensiva contra valores ateus
Segundo pesquisa, Brasil está em 82º lugar entre os cem países que têm a maior proporção de ateus em sua população
Organizações preparam abaixo-assinado contra a legalização do aborto; Campanha da Fraternidade falará da "defesa da vida"
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil aparece em 82º lugar
entre os cem países que contam
com a maior proporção de
ateus em sua população, segundo levantamento do WCD
(World Christian Database),
base de dados elaborada pelo
Seminário de Teologia Gordon-Conwell, dos EUA. Pesquisa
Datafolha feita em março deste
ano mostra que 97% dos brasileiros dizem acreditar em Deus.
Ambos os números parecem
favoráveis aos religiosos, ainda
mais porque o mesmo WCD
descobriu que a proporção de
pessoas que seguem alguma
das quatro grandes religiões
monoteístas -cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo- cresceu de 67% em 1900
para 73% em 2005.
Mas, nesse caso, os números,
escondem tanto quanto revelam. As pessoas se dizem religiosas, o que não significa obediência às doutrinas pregadas.
Tanto que está em curso uma
ofensiva da Igreja Católica e de
outras religiões contra a influência dos "valores ateus", especialmente os que se materializam em políticas de governo
como a legalização do aborto e
da eutanásia, e propagados por
best-sellers como "Deus, um
Delírio" (Cia. das Letras), do
biólogo Richard Dawkins, publicado pela Companhia das
Letras, e "Deus Não É Grande
-como a religião envenena tudo" (Ediouro), do jornalista
Christopher Hitchens.
No final do mês passado, o
papa Bento 16 lançou sua nova
encíclica, "Salvos pela esperança", e afirmou que o "céu não
está vazio". Disse que os projetos de emancipação do homem
que apostaram na busca da felicidade sem Deus fracassaram:
trocaram um sistema político
pelo outro, até que o homem se
esvaziou e perdeu o sentido.
No Brasil, o maior país católico do mundo, a Campanha da
Fraternidade do próximo ano
trará ao país uma agenda bastante comum na Europa, continente onde é normal não ter religião alguma: a defesa da vida,
expressão usada no Velho
Mundo pelos crentes para se
contrapor aos ateus.
Durante todo o período da
Quaresma, que vai da Quarta-feira de Cinzas à Páscoa, os católicos brasileiros debaterão
esses assuntos em suas paróquias. Já há algumas organizações que preparam um abaixo-assinado contra a legalização
do aborto a ser passado nas
igrejas no período.
Na Europa, isso já é comum.
Em maio, organizações católicas promoveram o "Dia da Família", que reuniu mais de um
milhão de pessoas no centro de
Roma contra a união civil de
pessoas do mesmo sexo. Não à
toa, o Uruguai, o país mais proporcionalmente ateu da América do Sul, é o único da região
que abre esse direito aos homossexuais.
No Brasil, 65% das pessoas
são contra a legalização do
aborto, segundo o Datafolha.
Mas 71% dos entrevistados são
favoráveis ao divórcio, 94%
aprovam a camisinha e 42% são
simpáticos à união civil entre
pessoas do mesmo sexo.
Ateísmo militante
Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, já manifestou
diversas vezes preocupação
com o "ateísmo militante".
Para ele, é preciso dizer que
as pessoas precisam ter fé porque "ninguém neste mundo
tem a explicação suficiente para as realidades que nos cercam". "A religião é uma forma
de se relacionar com Deus e de
dar sentido à vida."
"Deus, um Delírio", a obra de
Dawkins, vendeu 35 mil exemplares no Brasil desde agosto e
está entre as cinco maiores sucessos da editora. "Deus Não É
Grande", livro de Hitchens está
esgotado e já vai para a segunda
tiragem. A primeira teve 10 mil
cópias.
Para d. Odilo, a explicação
para esse fato é simples. "O assunto "Deus" é vital para as pessoas e continua a despertar interesse", afirma o cardeal.
"O sucesso especial de escritos contra Deus e a religião não
significa que as pessoas concordem com o que lêem, pode indicar o desejo de verificar se o autor traz algo novo nessa matéria, ou até mesmo o desejo de
rebater afirmações do autor. Os
atuais escritos nada trazem de
novo e reciclam velhos chavões, preconceitos e generalizações", conclui.
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