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CASO SILVEIRINHA
Para especialistas, centralização pode ter facilitado corrupção
Inspetoria aumentou o seu poder na gestão Garotinho
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
Foco do suposto esquema de
corrupção comandado pelo fiscal
Rodrigo Silveirinha Corrêa durante a gestão de Anthony Garotinho no governo do Estado do Rio de Janeiro (1999 a abril de 2002), a
Inspetoria de Contribuintes de Grande Porte não se limitava a fiscalizar apenas as grandes empresas arrecadadoras do Estado, como o seu próprio nome sugere.
A Folha teve acesso a documento da Secretaria Estadual de Fazenda que traz a arrecadação das 368 empresas, sob a fiscalização
da inspetoria, entre 1999 e abril de 2002. Do total, apenas 118 eram
consideradas realmente de grande porte - arrecadavam acima
de R$ 1 milhão por mês de ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços).
Outras 206 empresas registraram arrecadação menor que R$ 1
milhão e 44 não apresentaram dados completos. Em função do sigilo fiscal, a Folha não divulgará os nomes dos contribuintes.
Na lista, em meio a grandes
companhias de petróleo, telefonia
e eletricidade, há pequenos mercados, distribuidoras de bebidas,
uma usina de açúcar e até uma cooperativa de leite.
Uma subsidiária de uma empresa do setor de aviação recolheu, por exemplo, R$ 7,18 de ICMS em um ano e dois meses
sob a fiscalização da inspetoria.
Ex-subsecretário de Administração Tributária de Garotinho,
Silveirinha, três fiscais de renda do Estado e quatro auditores federais são suspeitos de enviar ilegalmente US$ 33,4 milhões para contas na Suíça. O dinheiro teria vindo supostamente do pagamento de propinas por parte de
empresas monitoradas pela inspetoria.
Quando as acusações vieram à tona, Silveirinha tinha acabado de
ser nomeado presidente da Companhia de Desenvolvimento Industrial pela governadora Rosinha Matheus (PSB). Acabou sendo demitido no dia 10.
O órgão fiscalizador é um exemplo do poder que Silveirinha ganhou ao longo da administração
de Anthony Garotinho. Em janeiro de 1999, quando foi criada, a
Inspetoria de Grande Porte fiscalizava 268 empresas. Dois anos
depois, elas já eram 368.
Segundo as regras da Secretaria
de Fazenda, uma empresa para
ser fiscalizada pelo grupo de Silveirinha deveria ser autorizada
por resolução assinada pelo secretário de Fazenda.
Inspetoria
Após a publicação da resolução
no Diário Oficial, apenas os fiscais
da inspetoria -cerca de 50- estavam autorizados a conduzir todo o processo de fiscalização, incluindo o acompanhamento
mensal da arrecadação das empresas, o planejamento da ações
até as inspeções nas empresas.
Para se ter uma idéia, o corpo de
fiscais da inspetoria representava
apenas 6,4% do total da categoria
ativa no Estado -cerca de 780
servidores. Segundo os tributaristas Ives Gandra da Silva Martins e
Osiris Lopes Filho, essa centralização na área de fiscalização do
Estado pode ter favorecido práticas de corrupção pelo grupo de
Silveirinha.
"O acompanhamento fiscal das
grandes empresas deve ser centralizado, mas não a fiscalização,
porque, se isso ocorre, o fiscal fica
com um poder que pode gerar
corrupção. Nessa situação, o cara
[o fiscal] vira dono de um cartório", afirma Lopes Filho, que foi
secretário da Receita Federal no
governo do presidente Itamar
Franco (1992-1994).
Críticas
Ives Gandra também desaprova
o método adotado pela inspetoria
de Silveirinha. "O ideal é que
quem fiscaliza não pode ter o controle da arrecadação das empresas. É assim que acontece na Receita Federal", declarou.
O líder do PT na Assembléia Legislativa, Carlos Minc, que deverá
integrar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o caso, afirma que o suposto esquema
atuava em quatro áreas: na venda
de anistia de multas a empresas
com dívidas com o Estado; na
aplicação de multas ilegais, posteriormente canceladas mediante
pagamento de propina; na autorização de fusões de empresas devedoras de ICMS; e na concessão de benefícios fiscais pelo Fundes
(Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social).
Procurado pela Folha, o ex-governador Anthony Garotinho não
quis fazer comentários sobre o
conteúdo desta reportagem.
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