São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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GIRO INTERNACIONAL

Em discurso na Índia, presidente prega a união de países

Pobres podem mudar comércio mundial, diz Lula

DA ENVIADA ESPECIAL A NOVA DÉLI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assinou ontem acordos comerciais e de cooperação tecnológica com a Índia, disse que a união de países pobres poderá mudar a geografia comercial no mundo e quebrar a unilateralidade imposta nas relações comerciais pelas nações desenvolvidas.
"A Índia e o Brasil juntos podem construir uma força política capaz de contribuir para que a geografia comercial do mundo possa mudar para melhor e atender aos interesses dos povos mais pobres do planeta", afirmou.
Os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) assinaram acordo de preferências tarifárias fixas com a Índia. Foi o primeiro acerto comercial do bloco com um país asiático.
Lula realiza agora sua segunda viagem internacional deste ano e a vigésima desde que tomou posse, em janeiro do ano passado. Depois da Índia, irá à Suíça.
A visita tem caráter comercial e político. O Brasil tem interesse em fortalecer o comércio com a Índia, país de 1 bilhão de habitantes com um mercado consumidor estimado em 200 milhões de pessoas.
Além do comércio bilateral, Lula quer fortalecer o chamado G3, formado por Brasil, Índia e África do Sul, para que tenha mais força nas negociações internacionais e consiga um representante entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A negociação entre o Mercosul e a Índia começou a ser alinhavada em junho de 2003, em Assunção (Paraguai). Ontem, foi assinado o acordo-base, que estabelece as diretrizes de implantação das preferências tarifárias -quais serão as regras que nortearão a redução de tarifas de uma lista de produtos.
O Mercosul apresentará uma lista com 1.200 produtos. Já a Índia, espera-se, chegará à mesa de negociação com 600 produtos. Já está previamente acertado que produtos farmacêuticos e pneus ficarão de fora do acordo, porque a indústria indiana tem custos menores e, consequentemente, preços mais competitivos do que os praticados nos países do bloco.
O acordo assinado com a Índia é o primeiro passo para a criação de uma área de livre comércio entre o Mercosul e o país asiático.
Em seu principal discurso do dia, feito durante a reunião ministerial Brasil-Índia, Lula foi duro em relação à política comercial dos países ricos. Citou o G-20 (grupo de países pobres que atua em conjunto na Organização Mundial do Comércio) como uma alternativa para tentar derrubar os "injustificáveis subsídios com que os países ricos distorcem a economia agrícola do mundo".
O presidente, que, numa reunião em Brasília em dezembro, propôs a criação de uma área de livre comércio entre os países do G-20, deu ontem a data para o início das negociações: junho.
Lula ressaltou as similaridades entre Brasil e Índia e os benefícios que o estreitamento das relações entre os dois países pode gerar.
"De nada adianta para a Índia e para o Brasil ficar de braços cruzados esperando que os países ricos resolvam nossos problemas", afirmou. E prosseguiu: "É preciso que nós mesmos, países em desenvolvimento, assumamos a responsabilidade pelo nosso destino e juntemos forças para poder defender em pé de igualdade os nossos interesses, seja nas questões relativas à paz e à segurança internacional". (GABRIELA ATHIAS)


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