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POLÍTICA EXTERNA
Representante da Comunidade Européia diz que presidente americano é contra reuniões muito amplas
Bush não deve chamar Lula para cúpula do G8
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
A diplomacia brasileira terá que
fazer muito esforço para que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja convidado por seu colega
norte-americano George Walker
Bush a participar da Cúpula do
G8, marcada para entre 8 e 10 de
junho na Sea Island, no Estado sulino da Georgia.
Lula participou, no ano passado, em Evian (França), do que a
diplomacia francesa batizou de
"diálogo ampliado", ou seja, uma
reunião entre os sete países mais
ricos do mundo (G7) mais a Rússia e 12 países em desenvolvimento, de diferentes áreas geográficas.
Em entrevista coletiva após a
reunião, Lula chegou a dizer que
"dificilmente o Bush fará o G8
sem convidar todos os países presentes hoje. Não tem volta atrás".
Tem, sim, a julgar pela avaliação
que fez ontem Stefano Sannino,
representante pessoal do presidente da Comissão Européia (o
italiano Romano Prodi) para as
cúpulas do G8. Os representantes
são chamados de "sherpa" porque, como os guias do Himalaia,
são os que fazem o trabalho de
preparar tudo o que os chefes de
governo vão discutir na cúpula.
Sannino diz que Bush é contrário a reuniões muito amplas e prefere manter o G8 no formato original, mais simples e informal.
Mas a decisão final sobre a repetição ou não do convite não está
tomada, até porque só na semana
que vem, em Washington, haverá
a primeira reunião dos "sherpas"
para começar a definir a agenda.
A eventual ausência do presidente brasileiro na reunião da
Georgia combina com o fato de
que a América Latina "sumiu do
radar de Washington", conforme
a avaliação do especialista venezuelano Moisés Naím, que trabalha na capital norte-americana
(no centro Carnegie para a Paz Internacional) e edita a revista "Foreign Policy".
"Continente perdido"
No sábado, em debate sobre a
América Latina no encontro
anual-2004 do Fórum Econômico
Mundial, Naím, PhD do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), disparou uma tremenda provocação, que incendiou o debate. "A América Latina
passou de ser o quintal dos Estados Unidos para se transformar
em Atlântida, o continente perdido", afirmou.
Criticou então a elite latino-americana pelo que chamou de
"coexistência pacífica com a normalidade", quando a normalidade é "horrenda".
"Tolice", rebateu Rodrigo Rato,
vice-primeiro-ministro espanhol,
armado com o seguinte argumento: "Se fosse um continente perdido, as empresas espanholas (que
investiram pilhas de dinheiro na
região) teriam sido punidas pelo
mercado" (porque teriam feito
mau investimento).
Mas Rato acabou por aceitar
que, em pelo menos um aspecto, a
América Latina parece de fato
perdida: "A menos que os países
latino-americanos mudem suas
práticas parlamentares, será impossível conseguir estabilidade,
porque nenhum governo é capaz
de impor a sua agenda", afirmou.
É uma alusão ao fato de que a liberdade para troca de partidos e a
proliferação destes impedem a
existência de maiorias estáveis como as que se formam habitualmente na Europa.
Felipe Larraín, professor de
Economia da Universidade Católica do Chile, também saltou retoricamente na garganta de Naím,
ao propor uma aposta (um jantar) sobre o crescimento da América Latina em 2004, que o provocador Naím situara em apenas 2%
a 3%, o que "gerará mais 1 milhão
de pobres".
Larraín aposta em algo entre
3,2% e 4%. Naím devolveu: "Mesmo que seja 4%, não terá nada a
ver com a América Latina, exceto
nos casos de Chile e México. Será
por conta dos altos preços das
commodities e dos juros baixos
no mundo".
Foi então a vez de Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do
Fundo Monetário Internacional e
agora professor de Economia da
Universidade Harvard, puxar para outro defeito da América Latina: batizou-a de "serial defaulter".
É uma ironia com os "serial killers", matadores em série, porque a América Latina dá calotes
seguidos. O Brasil já deu sete, a
Argentina, cinco.
O economista ficou a uma palavra de defender um novo default:
prefere falar em "reestruturação"
da dívida e pediu "ajuda da comunidade internacional e liderança
entre os latino-americanos".
Reforçou o presidente equatoriano Lúcio Gutiérrez: "40% do
Orçamento vai para pagar a dívida. Com o restante, é impossível
cumprir os parâmetros mínimos
da ONU" (as metas de redução da
pobreza, aperfeiçoamento da
educação e da saúde etc).
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