São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Senador afirma que conversa comprometeria interlocutor

ACM desafia procurador a divulgar gravação inteira

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) desafiou ontem o procurador da República Luiz Francisco de Souza a divulgar a "fita completa" contendo a conversa dele com três procuradores do Distrito Federal e não apenas trechos das declarações. Segundo o senador, a conversa toda não foi divulgada porque isso "comprometeria" os procuradores.
Segundo ACM, Souza propôs a ele, no encontro, que apresentasse "várias ações para pegar pessoas do governo", inclusive uma ação cautelar com procuradores do Pará contra o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA). "Mas eu não aceitei. Meus consultores acharam errado", disse.
O senador poupou os outros procuradores que participaram do encontro, Guilherme Schelb e Eliana Torelly, que teriam sido "muito corretos" com ele.
De Miami (Estados Unidos), onde passa o feriado do Carnaval, ACM disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso foi "vingativo e mesquinho" ao demitir os ministros ligados a ele, Waldeck Ornélas (Previdência Social) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia). Mesmo assim, o senador se mostrou menos raivoso em relação a FHC.
Disse que "não é propósito" seu atingir o presidente com as denúncias de corrupção no governo que fará quando retornar a Brasília e negou que seu rompimento com o governo seja total.
"Eu sou um homem independente para dizer as coisas boas e ruins do governo. Vou dar preferência às ruins", afirmou.
Segundo o senador, "não há hipótese de desestabilização" do governo por causa das denúncias que irá apresentar, mas garante que elas serão suficientes para derrubar o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, peemedebista que já foi chamado por ACM de Eliseu "Quadrilha".

Mágoa
ACM disse que, nesse episódio todo, FHC só teve a "devida resposta" de Ornélas. "O Waldeck foi duro com ele (o presidente), mostrando que ele prefere ladrão a homens corretos", disse.
Embora não tenha admitido, o senador demonstrou certa mágoa em relação a outros aliados seus que não partiram em sua defesa.
"Não estou decepcionado com ninguém, porque eu conheço o caráter humano. E sei as pessoas que não podem viver sem as benesses do poder", disse, sem apontar nomes.
O senador afirmou que, ao contrário de Tourinho, indicado por ele para o governo, Ornélas foi indicado por Bornhausen. Segundo ele, o presidente do partido o indicou para impedir a nomeação do senador Vilson Kleinubing, também catarinense e hoje morto, então cotado para ser ministro.
"Waldeck foi uma atuação do Bornhausen para evitar o Kleinubing", disse ACM.
Três dias após a divulgação de supostas declarações suas a procuradores da República no Distrito Federal, que causaram seu rompimento com o governo e levaram à demissão dos dois ministros, ACM disse estar "satisfeito" com a repercussão das supostas declarações, porque acha estar "na tese certa".
Além disso, o senador acha que que não está isolado, ao contrário do que a imprensa tem publicado. Diz receber apoio de muita gente por telefone, fax e e-mail. "Não estou isolado porque toda a opinião pública está comigo", disse

PFL
O senador não quer tomar nenhuma atitude contra o governo antes da reunião da Executiva Nacional do PFL, dia 8 de março, na qual será definida a posição do partido em relação ao Planalto. Ele irá à reunião para cobrar posição de independência do partido.
"Vou à reunião pedir que o PFL tome uma linha de decência. Que o Bornhausen faça aquilo que me prometeu que ia fazer: propor a independência", disse. Se a decisão não for essa, ACM disse que será um dissidente do PFL, mas não deixará o partido.
"Eu sou o homem forte do partido, por que iria sair? As vitórias que tenho no PFL me autorizam a lutar no PFL", disse.
O senador considerou "bobagem" a iniciativa da oposição de pedir a cassação do seu mandato. "Não estou levando a sério."
Segundo ele, o povo irá reagir se a oposição insistir no processo e conseguir o apoio dos governistas. "Não se pode tentar impedir a presença de um homem de bem só para facilitar o roubo. Eu não cometi nenhum pecado. Os pecadores são outros", afirmou.
ACM disse que as duas medidas adotadas por FHC junto à demissão de Ornélas e Tourinho -afastamento da diretoria do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) e pressa na extinção da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia)- provam que ele estava certo ao apontar corrupção nos dois órgãos.
"Eles (o governo) diziam que não tinha nada, mas vão acabar com a Sudam por causa da roubalheira. Demitem a diretoria do DNER por causa da roubalheira. Então, tinha ou não tinha? Esses atos provam que eu estava certo e eles, errados", disse.
ACM reafirmou seu apoio a uma candidatura de Tasso Jereissati, governador cearense, a presidente da República em 2002 "se o PFL não tiver candidato próprio". O senador afirmou que o Palácio do Planalto vai fortalecer Tasso por causa de sua importância no PSDB.


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