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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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TEORIA & PRÁTICA

Central vê "combinação perigosa" nas medidas do governo; presidente cobra participação menos corporativa

CUT pressiona Lula, que critica sindicatos

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Momentos depois de se reunir com a Executiva Nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um discurso oficial para condenar sindicalistas que exigem aumento ou reposição salarial sem se dar ao trabalho de "meter o dedo" durante a elaboração do Orçamento.
Durante o encontro com a CUT, Lula teria prometido, segundo relato dos sindicalistas, dar um aumento real para o salário mínimo, que poderia ficar acima dos R$ 240,00. Lula avisou que não há como "garantir" o aumento para o funcionalismo público porque não há previsão de verbas.
"Defendo sobretudo um sindicato que se preocupa com as coisas que acontecem em Brasília. Por exemplo, quando está se discutindo política tributária no Congresso, a discussão deve interessar mais ao sindicato do que apenas uma reivindicação de 5% em sua categoria específica", disse Lula ao empossar Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na presidência do Conselho Nacional de Segurança Alimentar.
"Quando se discute o Orçamento da União, é naquele instante que o movimento sindical, sobretudo trabalhadores e funcionalismo público, tem que estar metendo o dedo para aprovar a verba que depois eles irão reivindicar como aumento de salário. Se não estiver no Orçamento, não tem como garantir esse aumento."
Antes disso, João Felício, presidente da CUT, disse que explicou a Lula que há uma combinação perigosa diante do funcionalismo: por um lado, podem perder benefícios na reforma da Previdência e, por outro, não obtiveram os reajustes reivindicados.
A CUT exige um reajuste de 46,95% e a não-votação do PL-9, projeto de lei de número 9 que altera o regime previdenciário dos futuros funcionários públicos. Os trabalhadores já ameaçam com uma greve nacional caso o projeto seja votado. O governo não deu garantia de que aguardará a negociação com os sindicatos para apoiar a votação no Congresso.
Felício diz acreditar que o governo pretende negociar alterações no PL-9, um reajuste acima de 4% para os funcionários públicos, um salário mínimo acima dos R$ 230 previstos para abril e a taxação de inativos -assuntos sobre os quais há pouca ou nenhuma margem de manobra. Segundo Felício, Lula se comprometeu com um "ganho real" no valor do mínimo, acima de R$ 240.
Zé Maria, presidente do PSTU e 1º tesoureiro da CUT, disse que alertou Lula para o mal começo de seu mandato. "Expressamos nossa perplexidade sobre a decisão de reduzir os gastos do governo mexendo com os funcionários antes dos banqueiros, que têm, com essa taxa de juros, a mais alta lucratividade do mundo", disse.
Segundo o relato, Lula tentou abafar o constrangimento evocando a metáfora de que um bom técnico de futebol não começa ganhando, mas termina vencedor. "Mas, se chegar a 3 x 0, não tem como virar o jogo", retrucou Zé Maria na reunião.
Em seu discurso, Lula elogiou a trajetória de Luiz Marinho, que deve assumir também a presidência da CUT. O presidente diz que trabalha há dez anos pelo "sindicato-cidadão", que seriam menos "corporativistas" e mais engajados na política social.
"Tenho chamado a atenção para que o sindicato se transforme em instrumento político da sociedade, mais que um instrumento corporativo de uma categoria específica", disse Lula, cobrando representação sindical para os que não têm trabalho, comida ou escola. Para ele, o combate à miséria é tarefa sindical.


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