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TEORIA & PRÁTICA
Central vê "combinação perigosa" nas medidas do governo; presidente cobra participação menos corporativa
CUT pressiona Lula, que critica sindicatos
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Momentos depois de se reunir
com a Executiva Nacional da CUT
(Central Única dos Trabalhadores), o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva aproveitou um discurso
oficial para condenar sindicalistas
que exigem aumento ou reposição salarial sem se dar ao trabalho
de "meter o dedo" durante a elaboração do Orçamento.
Durante o encontro com a CUT,
Lula teria prometido, segundo relato dos sindicalistas, dar um aumento real para o salário mínimo,
que poderia ficar acima dos R$
240,00. Lula avisou que não há como "garantir" o aumento para o
funcionalismo público porque
não há previsão de verbas.
"Defendo sobretudo um sindicato que se preocupa com as coisas que acontecem em Brasília.
Por exemplo, quando está se discutindo política tributária no
Congresso, a discussão deve interessar mais ao sindicato do que
apenas uma reivindicação de 5%
em sua categoria específica", disse
Lula ao empossar Luiz Marinho,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na presidência
do Conselho Nacional de Segurança Alimentar.
"Quando se discute o Orçamento da União, é naquele instante
que o movimento sindical, sobretudo trabalhadores e funcionalismo público, tem que estar metendo o dedo para aprovar a verba
que depois eles irão reivindicar
como aumento de salário. Se não
estiver no Orçamento, não tem
como garantir esse aumento."
Antes disso, João Felício, presidente da CUT, disse que explicou
a Lula que há uma combinação
perigosa diante do funcionalismo: por um lado, podem perder
benefícios na reforma da Previdência e, por outro, não obtiveram os reajustes reivindicados.
A CUT exige um reajuste de
46,95% e a não-votação do PL-9,
projeto de lei de número 9 que altera o regime previdenciário dos
futuros funcionários públicos. Os
trabalhadores já ameaçam com
uma greve nacional caso o projeto
seja votado. O governo não deu
garantia de que aguardará a negociação com os sindicatos para
apoiar a votação no Congresso.
Felício diz acreditar que o governo pretende negociar alterações no PL-9, um reajuste acima
de 4% para os funcionários públicos, um salário mínimo acima dos
R$ 230 previstos para abril e a taxação de inativos -assuntos sobre os quais há pouca ou nenhuma margem de manobra. Segundo Felício, Lula se comprometeu
com um "ganho real" no valor do
mínimo, acima de R$ 240.
Zé Maria, presidente do PSTU e
1º tesoureiro da CUT, disse que
alertou Lula para o mal começo
de seu mandato. "Expressamos
nossa perplexidade sobre a decisão de reduzir os gastos do governo mexendo com os funcionários
antes dos banqueiros, que têm,
com essa taxa de juros, a mais alta
lucratividade do mundo", disse.
Segundo o relato, Lula tentou
abafar o constrangimento evocando a metáfora de que um bom
técnico de futebol não começa ganhando, mas termina vencedor.
"Mas, se chegar a 3 x 0, não tem
como virar o jogo", retrucou Zé
Maria na reunião.
Em seu discurso, Lula elogiou a
trajetória de Luiz Marinho, que
deve assumir também a presidência da CUT. O presidente diz que
trabalha há dez anos pelo "sindicato-cidadão", que seriam menos
"corporativistas" e mais engajados na política social.
"Tenho chamado a atenção para que o sindicato se transforme
em instrumento político da sociedade, mais que um instrumento
corporativo de uma categoria específica", disse Lula, cobrando representação sindical para os que
não têm trabalho, comida ou escola. Para ele, o combate à miséria
é tarefa sindical.
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