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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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ELIO GASPARI

Dona Rosinha almoçou em paz

A primeira boa notícia vem do secretário de Administração Penitenciária do Rio, coronel Astério Pereira dos Santos: a população do Rio de Janeiro, novamente humilhada pelo tráfico, deve saber que os 24 presos do Comando Vermelho guardados em Bangu 1 ficarão sem visitas íntimas e banho de sol.
A segunda boa notícia vem do doutor Josias Quintal, secretário de Segurança da garotada. As ordens para a baderna de segunda-feira saíram de Bangu 1: "Não tenho dúvida de que a determinação partiu dos presídios". É essa a opinião do doutor Marquinhos Niterói, traficante preso em Bangu. Ele diz ser o autor do panfleto que expôs à população as razões dos delinquentes. Doutor Marquinhos contou isso a agentes penitenciários, segundo a linguagem do meio, em "depoimento informal".
Depois do desfile das campeãs, é provável que a galera de Bangu, doutor Marquinhos inclusive, poderá voltar a receber senhoras (ou senhores, ao gosto do criminoso) e a tomar seu solzinho. Já o Isaías do Borel, que jogou um rádio em cima de agentes penitenciários, ficará 30 dias isolado. Passado esse contratempo, voltará ao normal. Talvez fique sem rádio.
Não há país no mundo onde a bandidagem receba esse tipo de tratamento, mas não se deve desanimar. É possível almoçar em paz no Rio. Na segunda-feira a governadora teve o ministro do Turismo, doutor Walfrido Mares Guia à mesa, no Palácio Laranjeiras. A principal cidade do Estado que governa estava entregue à desordem, mas dona Rosa e o doutor Walfrido Mares Guia comeram em paz seu prato de comida, no Laranjeiras, a menos de 15 minutos do pedaço da rua São Clemente onde incendiou-se um ônibus. Seis pessoas ficaram feridas, mas ninguém foi preso, apesar da pira ter ardido a cem metros de um quartel da PM.
Incendiaram-se 24 ônibus em toda a cidade. E diz o ministro do Turismo: "É uma má hora para acontecer uma coisa dessas". Tem humor o doutor, talvez ele deva almoçar com os traficantes, propondo que a próxima barbarização fique marcada para o dia de Finados. Para quem acredita que uma das causas da anarquia carioca esteja na ausência do Estado, o que aconteceu na segunda-feira é exemplar. O Estado está ausente da rua, presente à mesa de palácio.
Inúmeras autoridades públicas e privadas ocuparam o tempo da patuléia dizendo que situações como a ocorrida no Rio são "inadmissíveis". Falso. São completamente admissíveis, tanto que sucedem sempre que a bandidagem assim deseja. É Fernandinho Beira-Mar, e não a turma dos carros blindados, quem diz o que é admissível ou não.
Depois de uma campanha eleitoral em que a senhora Matheus e o prefeito Cesar Maia tiraram todo o proveito possível da desordem que o tráfico impôs à governadora Benedita da Silva, chegou a hora de provarem da receita que deram à adversária. Maia ficou quieto como um monge. Dona Rosa almoçou com o ministro do Turismo. Devem ter discutido onde se pode passar o Carnaval em paz.


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