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ELIO GASPARI
Dona Rosinha almoçou em paz
A primeira boa notícia
vem do secretário de Administração Penitenciária do Rio,
coronel Astério Pereira dos Santos: a população do Rio de Janeiro, novamente humilhada pelo tráfico, deve saber que os 24 presos do Comando Vermelho
guardados em Bangu 1 ficarão sem visitas íntimas e banho de
sol.
A segunda boa notícia vem do
doutor Josias Quintal, secretário
de Segurança da garotada. As
ordens para a baderna de segunda-feira saíram de Bangu 1:
"Não tenho dúvida de que a determinação partiu dos presídios". É essa a opinião do doutor
Marquinhos Niterói, traficante
preso em Bangu. Ele diz ser o autor do panfleto que expôs à população as razões dos delinquentes. Doutor Marquinhos
contou isso a agentes penitenciários, segundo a linguagem do
meio, em "depoimento informal".
Depois do desfile das campeãs,
é provável que a galera de Bangu, doutor Marquinhos inclusive, poderá voltar a receber senhoras (ou senhores, ao gosto do
criminoso) e a tomar seu solzinho. Já o Isaías do Borel, que jogou um rádio em cima de agentes penitenciários, ficará 30 dias
isolado. Passado esse contratempo, voltará ao normal. Talvez fique sem rádio.
Não há país no mundo onde a
bandidagem receba esse tipo de
tratamento, mas não se deve desanimar. É possível almoçar em
paz no Rio. Na segunda-feira a
governadora teve o ministro do
Turismo, doutor Walfrido Mares Guia à mesa, no Palácio Laranjeiras. A principal cidade do
Estado que governa estava entregue à desordem, mas dona
Rosa e o doutor Walfrido Mares
Guia comeram em paz seu prato
de comida, no Laranjeiras, a menos de 15 minutos do pedaço da
rua São Clemente onde incendiou-se um ônibus. Seis pessoas
ficaram feridas, mas ninguém
foi preso, apesar da pira ter ardido a cem metros de um quartel
da PM.
Incendiaram-se 24 ônibus em
toda a cidade. E diz o ministro
do Turismo: "É uma má hora
para acontecer uma coisa dessas". Tem humor o doutor, talvez ele deva almoçar com os traficantes, propondo que a próxima barbarização fique marcada
para o dia de Finados. Para
quem acredita que uma das causas da anarquia carioca esteja
na ausência do Estado, o que
aconteceu na segunda-feira é
exemplar. O Estado está ausente
da rua, presente à mesa de palácio.
Inúmeras autoridades públicas e privadas ocuparam o tempo da patuléia dizendo que situações como a ocorrida no Rio
são "inadmissíveis". Falso. São
completamente admissíveis,
tanto que sucedem sempre que a
bandidagem assim deseja. É Fernandinho Beira-Mar, e não a
turma dos carros blindados,
quem diz o que é admissível ou
não.
Depois de uma campanha eleitoral em que a senhora Matheus
e o prefeito Cesar Maia tiraram
todo o proveito possível da desordem que o tráfico impôs à governadora Benedita da Silva,
chegou a hora de provarem da
receita que deram à adversária.
Maia ficou quieto como um
monge. Dona Rosa almoçou
com o ministro do Turismo. Devem ter discutido onde se pode
passar o Carnaval em paz.
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