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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Ministério Público de Mato Grosso pediu abertura de inquérito

Justiça investiga suposto elo entre quadrilha e juiz

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Justiça Federal de Mato Grosso abriu inquérito para apurar a suposta conexão entre a quadrilha de João Arcanjo Ribeiro, de Mato Grosso, e o STJ (Superior Tribunal de Justiça). O pedido foi feito pelo Ministério Público. Assina-o Pedro Taques, procurador da República lotado em Cuiabá (MT). Foi deferido na quinta-feira da semana passada.
O abertura do inquérito se baseia no conteúdo de escuta telefônica feita pela PF, sob supervisão judicial. A Folha publicou no domingo passado o conteúdo do grampo, que mostra diálogos entre advogados e lobistas a serviço da quadrilha de Arcanjo Ribeiro em que é mencionado o nome de Erick José Travassos Vidigal. Ele é filho do ministro Edson Vidigal, vice-presidente do STJ.
Relatório confidencial da PF informa que os diálogos do grampo indicam a "negociação de decisões" no STJ. As gravações mencionam cifras que vão de US$ 100 mil (preço de um habeas corpus) a R$ 2 milhões (valor de um contrato de "assessoramento" nos tribunais superiores de Brasília).
Em ofício entregue na segunda ao ministro Márcio Thomaz Bastos, Edson Vidigal pede a apuração de quatro crimes: tráfico de influência, corrupção ativa, exploração de prestígio e vazamento de documentos e fitas confidenciais para a reportagem da Folha. Tanto ele quanto o filho negam ter praticado quaisquer crimes.
Ouvido ontem, o procurador Pedro Taques disse: "O ministro está correto quanto ao desejo de apurar o vazamento de informações. Mas não podemos perder o foco da investigação. O mais estranho no caso é a reunião, na madrugada de 23 de janeiro, envolvendo Erick Vidigal com advogados de um grupo criminoso."
Taques acrescentou: "Mais estranho ainda é o fato de uma decisão do ministro [Vidigal] ter sido discutida pelos mesmos advogados e lobistas em 21 de janeiro". O procurador se refere a um pedido de habeas corpus que libertaria da prisão Luiz Alberto Dondo Gonçalves, contador da quadrilha.
O procurador Taques diz que "o Ministério Público e a PF não estão investigando juiz do STJ. Mas se chegar à conclusão de que existem indícios de que a negociação se processava dentro do gabinete do ministro [Edson Vidigal] remeterei o caso para o STF". O Supremo é o foro adequado para processar membros do STJ.
"No tocante a Erick Vidigal", diz ainda Taques, "entendo que a participação dele é efetiva. O Ministério Público não se intimidará diante de bravatas e ameaças. Entendemos que é muito grave que o crime organizado esteja chegando ao STJ, por meio de lobistas e parentes de magistrados, como este caso está a revelar."


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