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CRIME ORGANIZADO
Ministério Público de Mato Grosso pediu abertura de inquérito
Justiça investiga suposto elo entre quadrilha e juiz
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Justiça Federal de Mato Grosso abriu inquérito para apurar a
suposta conexão entre a quadrilha de João Arcanjo Ribeiro, de
Mato Grosso, e o STJ (Superior
Tribunal de Justiça). O pedido foi
feito pelo Ministério Público. Assina-o Pedro Taques, procurador
da República lotado em Cuiabá
(MT). Foi deferido na quinta-feira
da semana passada.
O abertura do inquérito se baseia no conteúdo de escuta telefônica feita pela PF, sob supervisão
judicial. A Folha publicou no domingo passado o conteúdo do
grampo, que mostra diálogos entre advogados e lobistas a serviço
da quadrilha de Arcanjo Ribeiro
em que é mencionado o nome de
Erick José Travassos Vidigal. Ele é
filho do ministro Edson Vidigal,
vice-presidente do STJ.
Relatório confidencial da PF informa que os diálogos do grampo
indicam a "negociação de decisões" no STJ. As gravações mencionam cifras que vão de US$ 100
mil (preço de um habeas corpus)
a R$ 2 milhões (valor de um contrato de "assessoramento" nos tribunais superiores de Brasília).
Em ofício entregue na segunda
ao ministro Márcio Thomaz Bastos, Edson Vidigal pede a apuração de quatro crimes: tráfico de
influência, corrupção ativa, exploração de prestígio e vazamento
de documentos e fitas confidenciais para a reportagem da Folha.
Tanto ele quanto o filho negam
ter praticado quaisquer crimes.
Ouvido ontem, o procurador
Pedro Taques disse: "O ministro
está correto quanto ao desejo de
apurar o vazamento de informações. Mas não podemos perder o
foco da investigação. O mais estranho no caso é a reunião, na
madrugada de 23 de janeiro, envolvendo Erick Vidigal com advogados de um grupo criminoso."
Taques acrescentou: "Mais estranho ainda é o fato de uma decisão do ministro [Vidigal] ter sido
discutida pelos mesmos advogados e lobistas em 21 de janeiro". O
procurador se refere a um pedido
de habeas corpus que libertaria da
prisão Luiz Alberto Dondo Gonçalves, contador da quadrilha.
O procurador Taques diz que "o
Ministério Público e a PF não estão investigando juiz do STJ. Mas
se chegar à conclusão de que existem indícios de que a negociação
se processava dentro do gabinete
do ministro [Edson Vidigal] remeterei o caso para o STF". O Supremo é o foro adequado para
processar membros do STJ.
"No tocante a Erick Vidigal",
diz ainda Taques, "entendo que a
participação dele é efetiva. O Ministério Público não se intimidará
diante de bravatas e ameaças. Entendemos que é muito grave que o
crime organizado esteja chegando ao STJ, por meio de lobistas e
parentes de magistrados, como
este caso está a revelar."
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