São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

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"MENSALÃO"/PARTIDO RACHADO

Candidatos ao governo de SP, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante disputam preferência e base política do ex-presidente da Câmara

Na mira, João Paulo usa cassação a fim de negociar apoio no PT

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na busca por apoio de lideranças do PT que possam ajudar a conquistar os votos dos militantes para a prévia de 7 de maio, a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, têm um alvo em comum: o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
Mas a ansiedade de Marta e Mercadante vai ter de esperar até abril. João Paulo, que corre o risco de perder o mandato sob acusação de ter recebido R$ 50 mil do esquema Marcos Valério, já avisou que só decidirá sobre quem apoiará depois que seu processo for julgado no plenário da Câmara, o que deve acontecer somente no final de março.
E não será apenas ele quem externará sua predileção em abril. Todo seu grupo de apoio assim o fará. João Paulo tem forte influência sobre a região de Osasco (SP), que abrange 19 cidades. Além disso, quando era um dos pré-candidatos do partido ao governo do Estado, também amealhou apoios pelo interior. São essas lideranças que Marta e Mercadante querem conquistar.
Pelas contas dos grupos da ex-prefeita e do líder do governo no Senado, a disputa está equilibrada. De acordo com esses cálculos, Marta ganharia na capital e dividiria votos na Grande São Paulo. Mercadante tem boa votação no interior. E é aí que o grupo de João Paulo pode fazer a diferença e funcionar como fiel da balança.
Alguns petistas ligados tanto a Marta quanto a Mercadante acreditam que o prazo anunciado pelo ex-presidente da Câmara segue a lógica de sobrevivência.
Segundo esses petistas, João Paulo aguarda demonstrações práticas em favor de seu mandato. Espera que os dois líderes o ajudem a conseguir votos na Câmara para evitar sua cassação, o que o deputado federal nega.
Em dezembro do ano passado, os dois postulantes a candidato do partido ao governo do Estado foram a um ato público em defesa de João Paulo. Na sexta-feira, questionada se defendia a absolvição, Marta disse, por meio de sua assessoria de imprensa: "Sou contra a cassação porque ele agiu com total boa-fé no pressuposto de que o recurso era do PT." A Folha não conseguiu falar com Mercadante. Sua assessoria disse que ele estava em um sítio em São Paulo, incomunicável.
João Paulo já conversou com os dois postulantes. A Mercadante, com quem teve rusgas por causa da postura do líder contra a reeleição do deputado para a presidência da Câmara, disse que não faria sua escolha baseado em "desavenças pretéritas", definição usada por ele. Estava disposto a esquecer o desentendimento.
Com a ex-prefeita João Paulo conversou há cerca de um mês e disse que estava ouvindo líderes de sua região. Antes da eclosão do "mensalão", havia um acordo entre ambos de que se um deles passasse para o segundo turno nas prévias do partido contra Mercadante receberia o apoio do outro.

Cabresto
Um petista com experiência em prévias no partido avalia que, embora importantes, os apoios de lideranças não são cruciais para a vitória de um candidato entre a militância. Esse petista lembra que são os filiados quem escolhem o candidato e não apenas quem tem cargo eletivo. Segundo ele, é comum um pré-candidato sair-se melhor que outro nos debates, porém, na hora da escolha, os militantes costumam optar por quem, na avaliação deles, tem mais votos. Ele afirma que, no PT, não há "voto de cabresto".
Foi assim, por exemplo, em 1996 na disputa interna entre Mercadante e a ex-prefeita Luiza Erundina (hoje no PSB) para a indicação de quem seria o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Mercadante teve apoios expressivos, como o de Lula e de José Dirceu, mas a indicada acabou sendo Erundina.


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