São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O MARQUETEIRO

Quebra de sigilo da Dusseldorf revela operação realizada em 2003; defesa diz que transações foram feitas para "pagamentos a terceiros"

Conta de Duda enviou US$ 730 mil à Suíça

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A conta Dusseldorf, que o publicitário Duda Mendonça abriu no BankBoston de Miami (EUA) para receber recursos do caixa dois do PT, mandou US$ 730,34 mil para o Credit Suisse, banco com sede em Zurique, na Suíça.
O comprovante da operação indica que o dinheiro seguiu para uma conta do banco suíço no BankBoston e de lá para um beneficiário na Suíça não identificado.
A operação foi realizada em 19 de setembro de 2003 e seu registro está entre as 15 mil folhas de papel que constituem a quebra do sigilo bancário da Dusseldorf. Na última quinta-feira, a Justiça americana permitiu o acesso da CPI dos Correios aos papéis.
Os documentos, que deverão ser consultados por parlamentares da comissão na sede do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) em Brasília a partir da próxima quinta, registram também remessas da Dusseldorf para as contas Bankhaus Carl e Prudential Securities Inc..
Essas contas pertenceriam a bancos homônimos. Nas bases de dados que contêm a quebra de sigilo de bancos americanos suspeitos de lavagem de dinheiro -obtidas pela CPI do Banestado (2003-2004)- constam duas referências à Bankhaus, que recebeu da Dusseldorf US$ 473,87 mil em 19 de dezembro de 2003. É a última movimentação expressiva da Dusseldorf, que passou a registrar, naquela data, um saldo aproximado de US$ 1.000, quantia consumida posteriormente com pagamento de taxas à agência do BankBoston de Miami.
Conforme dados da CPI do Banestado, a Bankhaus poderia ser uma instituição financeira com sede em Bremen (Bankhaus Carl F. Plum and Co.), na Alemanha, ou operadora de conta no banco Chase Manhattan de Miami.
Já a empresa Prudential Securities Inc., sobre a qual as investigações não têm maiores detalhes, recebeu US$ 100 mil em 16 de dezembro de 2003. A remessa que saiu da Dusseldorf foi creditada numa conta do Chase Manhattan de Nova York.
O advogado Tales Castelo Branco, que defende Duda e seus sócios, afirmou que as transações foram feitas para "pagamentos a terceiros" e que cabe ao BankBoston explicar o caminho utilizado para movimentar o dinheiro.
Na quarta-feira passada, a Folha revelou que a Dusseldorf mandou dinheiro para as empresas "offshore" Raspberry e Strongbox, que têm sede nas Bahamas e apresentam como endereço uma mesma caixa postal, em Nassau, no Caribe. As remessas somaram US$ 632,7 mil.
A Dusseldorf operou entre março e dezembro de 2003. Segundo Duda disse à CPI dos Correios no ano passado, a empresa e a conta bancária no BankBoston de Miami foram abertas por orientação do publicitário Marcos Valério de Souza. Seria esse o caminho para que Duda recebesse por serviços prestados ao PT em campanhas em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu presidente.
Em seu segundo depoimento à PF, em Salvador, dia 2 de fevereiro, Duda foi questionado a respeito das remessas feitas para as contas relacionadas à Raspberry e à Strongbox. O publicitário negou conhecer tais contas. Disse repetidas vezes que a soma de R$ 10,5 milhões recebida pela Dusseldorf teve como destino "gastos [pessoais] e parte [foi] incorporada ao seu patrimônio".


Texto Anterior: "Mensalão"/Partido rachado: Na mira, João Paulo usa cassação a fim de negociar apoio no PT
Próximo Texto: Outro lado: Dinheiro foi para pagar terceiros, afirma advogado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.