São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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Fraude desvia R$ 2 milhões na Câmara

Quadrilha formada por 70 servidores burlava auxílio-creche e vale-transporte

Casa abre inquéritos para investigar golpe, que tinha ao menos 3 modalidades; Polícia Legislativa descarta envolvimento de deputados


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara dos Deputados investiga uma quadrilha de cerca de 70 servidores que fraudava o pagamento de auxílio-creche e vale-transporte. Foram instaurados 15 inquéritos pela Polícia Legislativa. O rombo ultrapassa R$ 2,1 milhões. Em nota, a Câmara diz que não foi "encontrado qualquer indício" de envolvimento parlamentar.
O caso, revelado pelo site "Congresso em Foco", está sendo investigado desde agosto passado e foi encaminhado para o Ministério Público.
As investigações apontam três tipos de fraude. Uma delas era contratar funcionários-fantasmas para ficar com salários e benefícios. Severino Lourenço dos Santos, 29 anos, foi contratado em 2008 como secretário parlamentar do deputado Sandro Mabel (PR-GO).
Ele, que trabalha em uma pastelaria no Gama (cidade-satélite de Brasília), conta que foi procurado por uma prima para se registrar na Câmara e ganhar um auxílio mensal para seus três filhos. "Achei que fosse o Bolsa Família", diz. A quadrilha repassava R$ 250 mensais a Severino e ficava com o resto do salário e do auxílio-creche.
Por meio de sua assessoria, Mabel diz que também foi vítima do esquema, que já exonerou todos os envolvidos e que pediu um exame para descobrir quem fraudou a sua assinatura na contratação de Severino.
O grupo agia ainda nos gabinetes de Raymundo Veloso (PMDB-BA) e Enio Tatico (PTB-GO). A Polícia Legislativa isenta os deputados, que não foram encontrados pela Folha.
Em outra modalidade de fraude, a quadrilha pedia notas fiscais frias a escolas particulares para pedir reembolso de mensalidades. Segundo a assessoria de imprensa da Casa, o rombo com esse benefício pode chegar a R$ 1,15 milhões.
Na fraude com vale-transporte, servidores que moravam em Brasília diziam morar em Formosa, cidade próxima da capital. Com isso, em vez de ganhar R$ 80, recebiam R$ 480.
Questionado ontem sobre o caso, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), disse que todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas. "Nós estamos colocando o ponto eletrônico exatamente para evitar tantas irregularidades. Não haverá ninguém de lençol branco aqui na Câmara", afirmou, numa referência a fantasmas. (MARIA CLARA CABRAL)

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