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Fraude desvia R$ 2 milhões na Câmara
Quadrilha formada por 70 servidores burlava auxílio-creche e vale-transporte
Casa abre inquéritos para
investigar golpe, que tinha
ao menos 3 modalidades;
Polícia Legislativa descarta
envolvimento de deputados
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados investiga uma quadrilha de cerca
de 70 servidores que fraudava o
pagamento de auxílio-creche e
vale-transporte. Foram instaurados 15 inquéritos pela Polícia
Legislativa. O rombo ultrapassa R$ 2,1 milhões. Em nota, a
Câmara diz que não foi "encontrado qualquer indício" de envolvimento parlamentar.
O caso, revelado pelo site
"Congresso em Foco", está sendo investigado desde agosto
passado e foi encaminhado para o Ministério Público.
As investigações apontam
três tipos de fraude. Uma delas
era contratar funcionários-fantasmas para ficar com salários e
benefícios. Severino Lourenço
dos Santos, 29 anos, foi contratado em 2008 como secretário
parlamentar do deputado Sandro Mabel (PR-GO).
Ele, que trabalha em uma
pastelaria no Gama (cidade-satélite de Brasília), conta que foi
procurado por uma prima para
se registrar na Câmara e ganhar
um auxílio mensal para seus
três filhos. "Achei que fosse o
Bolsa Família", diz. A quadrilha
repassava R$ 250 mensais a Severino e ficava com o resto do
salário e do auxílio-creche.
Por meio de sua assessoria,
Mabel diz que também foi vítima do esquema, que já exonerou todos os envolvidos e que
pediu um exame para descobrir
quem fraudou a sua assinatura
na contratação de Severino.
O grupo agia ainda nos gabinetes de Raymundo Veloso
(PMDB-BA) e Enio Tatico
(PTB-GO). A Polícia Legislativa
isenta os deputados, que não
foram encontrados pela Folha.
Em outra modalidade de
fraude, a quadrilha pedia notas
fiscais frias a escolas particulares para pedir reembolso de
mensalidades. Segundo a assessoria de imprensa da Casa, o
rombo com esse benefício pode
chegar a R$ 1,15 milhões.
Na fraude com vale-transporte, servidores que moravam
em Brasília diziam morar em
Formosa, cidade próxima da
capital. Com isso, em vez de ganhar R$ 80, recebiam R$ 480.
Questionado ontem sobre o
caso, o presidente da Câmara,
Michel Temer (PMDB-SP),
disse que todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas.
"Nós estamos colocando o ponto eletrônico exatamente para
evitar tantas irregularidades.
Não haverá ninguém de lençol
branco aqui na Câmara", afirmou, numa referência a fantasmas.
(MARIA CLARA CABRAL)
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