São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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Ficha revela bilhete redigido em Morse por Marighella

DO ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

O arquivo do Deops em Santos guarda uma história de pescadores e guerrilheiros.
Dois pescadores e um funcionário público caçavam passarinho no morro dos Itatins, em Peruíbe, e, no meio de uma trilha, dizem ter achado um bilhete escrito em código Morse cuja autoria é atribuída pela polícia ao líder guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969).
O bilhete, arquivado no dossiê de Marighella, estava numa clareira, segundo o trio, onde havia latas de sardinha e de pêssego em calda. A polícia achou que havia encontrado uma pista do guerrilheiro, um dos homens mais procurados pelos militares em 1969.
Traduzido "com algumas dúvidas", como anota a polícia, o bilhete menciona a movimentação de cem homens -"distribua homens em grupo na Baixada dia 5 para ? [ação] no porto e o restante na serra Xixova e na Baixada dia 7". É assinado por "Maringhela".
Foi encontrado em setembro de 1969, um mês quente para a ALN (Ação Libertadora Nacional), que adotava a estratégia de focos guerrilheiros preconizada por Che Guevara. Nesse mês, o grupo participou junto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick no Rio de Janeiro.
Com base no bilhete a polícia criou uma estratégia de defesa, descrita num documento de três páginas assinado pelo delegado Adalberto Dias de Almeida. Fez um mapa dos supostos pontos que Marighella poderia atacar, deduzidos a partir do bilhete em código Morse: uma usina na serra Pouso Alto, o porto de Santos e a fortaleza de Itaipu. Os locais são descritos como "objetivos relevantes para um grupo de audaciosos terroristas que pretendesse, em ação simultânea, a eclosão de três atentados".
O jornalista Mário Magalhães, que prepara há sete anos um livro com a história de Marighella, diz que o guerrilheiro cultuava códigos, mas nunca viu algo escrito por ele em código Morse. Por causa do culto, ele acha que Marighella poderia ter escrito o bilhete.
Em setembro de 1969, Marighella passava a maior parte do tempo na zona norte do Rio, de acordo com o jornalista. A ação poderia ter sido planejada por militantes da Baixada Santista. Havia militantes da ALN em Cubatão e Mongaguá, segundo Agenor Ortega, militante do PCB em Santos à época.
Completamente improvável, segundo Magalhães, seria imaginar um foco guerrilheiro da ALN no litoral paulista: "A ALN nunca conseguiu viabilizar uma base rural", afirma, apesar das tentativas que fez em Goiás, no Maranhão e no Pará. (MCC)


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