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Ficha revela bilhete redigido em Morse por Marighella
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTOS
O arquivo do Deops em Santos guarda uma história de pescadores e guerrilheiros.
Dois pescadores e um funcionário público caçavam passarinho no morro dos Itatins, em
Peruíbe, e, no meio de uma trilha, dizem ter achado um bilhete escrito em código Morse cuja
autoria é atribuída pela polícia
ao líder guerrilheiro Carlos
Marighella (1911-1969).
O bilhete, arquivado no dossiê de Marighella, estava numa
clareira, segundo o trio, onde
havia latas de sardinha e de
pêssego em calda. A polícia
achou que havia encontrado
uma pista do guerrilheiro, um
dos homens mais procurados
pelos militares em 1969.
Traduzido "com algumas dúvidas", como anota a polícia, o
bilhete menciona a movimentação de cem homens -"distribua homens em grupo na Baixada dia 5 para ? [ação] no porto e o restante na serra Xixova e
na Baixada dia 7". É assinado
por "Maringhela".
Foi encontrado em setembro
de 1969, um mês quente para a
ALN (Ação Libertadora Nacional), que adotava a estratégia
de focos guerrilheiros preconizada por Che Guevara. Nesse
mês, o grupo participou junto
com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) do
sequestro do embaixador americano Charles Elbrick no Rio
de Janeiro.
Com base no bilhete a polícia
criou uma estratégia de defesa,
descrita num documento de
três páginas assinado pelo delegado Adalberto Dias de Almeida. Fez um mapa dos supostos
pontos que Marighella poderia
atacar, deduzidos a partir do bilhete em código Morse: uma
usina na serra Pouso Alto, o
porto de Santos e a fortaleza de
Itaipu. Os locais são descritos
como "objetivos relevantes para um grupo de audaciosos terroristas que pretendesse, em
ação simultânea, a eclosão de
três atentados".
O jornalista Mário Magalhães, que prepara há sete anos
um livro com a história de Marighella, diz que o guerrilheiro
cultuava códigos, mas nunca
viu algo escrito por ele em código Morse. Por causa do culto,
ele acha que Marighella poderia ter escrito o bilhete.
Em setembro de 1969, Marighella passava a maior parte do
tempo na zona norte do Rio, de
acordo com o jornalista. A ação
poderia ter sido planejada por
militantes da Baixada Santista.
Havia militantes da ALN em
Cubatão e Mongaguá, segundo
Agenor Ortega, militante do
PCB em Santos à época.
Completamente improvável,
segundo Magalhães, seria imaginar um foco guerrilheiro da
ALN no litoral paulista: "A ALN
nunca conseguiu viabilizar
uma base rural", afirma, apesar
das tentativas que fez em Goiás,
no Maranhão e no Pará.
(MCC)
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