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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DANÇA DAS CADEIRAS
Senador tem a confiança de Lula e estaria disposto a manter os rumos da política econômica
Mercadante ganha força como substituto de Palocci
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cresceu a possibilidade de o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), substituir o ministro Antonio Palocci
Filho na Fazenda. O presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, segue cotado com menos força do que até
anteontem à noite. Lula analisa
outros nomes, não descartados,
mas com menor chance.
A Folha apurou que Mercadante é o preferido de parte da cúpula
do governo e do PT. Tem a proximidade com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva que Mantega
também possui e que é considerada o critério principal para a troca
de Palocci. A favor do senador
contam o maior peso e traquejo
político para missão espinhosa e o
melhor trânsito com o empresariado nacional.
No fim do ano passado, quando
Palocci enfrentou duelo sobre política econômica contra a chefe da
Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda pediu demissão
três vezes, mas Lula não aceitou.
O presidente, porém, sondou
Mercadante para o cargo.
Pesa contra Mercadante o temor de arroubos para mudar o
"paloccismo" da política econômica. Mercadante, porém, já sinalizou que, se for o escolhido, dará
provas inequívocas de manutenção do rumo econômico.
Exemplo: crítico da meta de inflação de 4,5% ao ano, poderia dizer que acha que esse patamar deva continuar num eventual segundo governo Lula. "Beijaria a
cruz dos mercados", diz um ministro, e se firmaria no posto.
Para Lula, Mercadante amadureceu politicamente e deixaria a
disputa pela candidatura petista
ao governo paulista para assumir
a Fazenda. Ele foi referência econômica no PT até Palocci virar o
homem-forte na área.
Um integrante da cúpula do governo diz ser "o fim da linha" para
Palocci, petista que coordenou o
programa de governo de Lula em
2002, convenceu o presidente a
abandonar o receituário econômico tradicional do PT, aprofundou a ortodoxia fiscal e monetária
do governo FHC e virou o ministro mais forte em seus quase três
anos e meio de governo.
Palocci deverá sair em breve,
como antecipou ontem a Folha. O
presidente da Caixa, Jorge Mattoso, também. Mattoso teria, no mínimo, perdido credibilidade para
continuar na Caixa, instituição
centenária e com imagem arranhada no episódio.
Uma parte da cúpula do governo defende uma troca na Fazenda
ainda no final de semana para o
novo titular ser apresentado até
hoje à noite, e para que o mercado
abra calmo amanhã. Lula, porém,
tem dito que deve decidir até
amanhã, quando encontrará
Mercadante.
Caseiro
Palocci só poderia permanecer
se um rápido desfecho da apuração da Polícia Federal isentasse o
ministro ou sua assessoria de participação na quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa.
Há, porém, suspeitas de que Marcelo Netto, assessor especial do
ministro, tenha participado do
vazamento, o que ele nega em
conversas reservadas.
Mesmo que Palocci seja isentado da quebra ilegal de sigilo, há o
agravante da perda das "condições políticas" para continuar, segundo palavras do próprio ministro da Fazenda em reunião com
Lula na quinta-feira.
Lula estava decidido a bancar
Palocci a qualquer custo quando a
crise era alimentada pelo debate
se ele havia ou não freqüentado a
chamada "casa do lobby". No entanto, avalia que não pode segurá-lo após a quebra ilegal do sigilo do
caseiro e de indícios de participação de assessores pelo menos no
vazamento.
Francenildo diz que Palocci freqüentou a casa alugada em Brasília por ex-auxiliares para fazer
lobby e dar festas com garotas de
programa. Palocci disse à CPI dos
Bingos que nunca foi à casa. Em
reuniões do governo, admitiu ter
ido à casa para atividade de caráter privado, mas nunca para participar de corrupção.
Na opinião de Lula e principais
auxiliares, o presidente está sendo
visto pela opinião pública como
protetor de um poderoso ministro contra um cidadão de origem
humilde à custa de abusos das
instituições do Estado. Essa imagem é tida no Planalto como mortal eleitoralmente.
Além de Mercadante e Mantega, há outros cotados para a Fazenda: os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o
secretário-executivo da Fazenda,
Murilo Portugal.
Bernardo é afinado com Palocci
e bem avaliado por Lula, mas não
teria tanta intimidade com o presidente. Portugal é solução difícil
de ser aceita pelo PT, apesar de
querido pelo mercado. Furlan seria independente demais. A chance de um banqueiro ou empresário existe, mas é pequena.
Confirmada a saída de Palocci,
ele manterá o direito de concorrer
a deputado federal nas eleições de
outubro. O ministro teme que um
juiz de primeira instância acate
eventual pedido de prisão por
suspeitas de corrupção do tempo
em que foi prefeito de Ribeirão
Preto. Um mandato de deputado
lhe daria foro privilegiado -poderia responder a eventuais processos somente no STF (Supremo Tribunal Federal).
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