São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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Ex-gerente de marketing denuncia pressões do governo em relatório

DA REPORTAGEM LOCAL

Sentindo-se o "bode expiatório" por irregularidades que também envolveriam outros funcionários e diretores, o ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior, entregou ao Comitê de Disciplina e Ética do banco relatório em que faz denúncias e cita pressões que recebeu do Palácio dos Bandeirantes.
Ele narra, por exemplo, que, de maio a outubro de 2004, "período das últimas eleições municipais", a Contexto coordenou uma campanha publicitária intitulada "O que faz a diferença", com verba de R$ 30 milhões, distribuída entre empresas estatais, cabendo à Nossa Caixa a fatia de R$ 5 milhões.
Castro Júnior diz que, na campanha, houve "atendimento a veículos de comunicação que apoiavam as candidaturas do PSDB e a bases aliadas do governo".
Em junho de 2005, num e-mail a Carlos Eduardo Monteiro, presidente da Nossa Caixa, Castro Júnior confirma que os anúncios e patrocínios para os veículos de Wagner Salustiano -revista "De Fato" e "Entrevista de Fato", na televisão- foram programados para um período longo e envolveram também a Sabesp. O plano de mídia da estatal previa anúncios de página dupla (R$ 42.600) e 25 comerciais de televisão de 30 segundos (R$ 91.487,50), no período de maio a dezembro de 2004.
Castro Júnior narra episódio ocorrido em março de 2005, na época em que os tucanos tentaram eleger presidente da Assembléia Legislativa o deputado estadual Edson Aparecido (PSDB), preferido de Alckmin.
O ex-gerente diz que recebeu telefonema da área de marketing da Secretaria de Comunicação do Estado, "informando sobre a necessidade política do governo do Estado patrocinar", através da Nossa Caixa, com R$ 70 mil, a décima edição do "Troféu Talento Música Cristã", no Credicard Hall, evento da Rede Aleluia de Rádio (da Igreja Universal).
Esse patrocínio foi considerado "um compromisso assumido pelo governador com deputado estadual da base aliada do governo, que estava exercendo fortíssima pressão sobre o Palácio, visto a votação iminente na Assembléia Legislativa, de projeto de extremo interesse do governo do Estado".
A condição: "o pagamento deveria ser feito imediatamente, antecipadamente". O ex-gerente diz que o presidente da Nossa Caixa pediu-lhe que o pagamento fosse feito "o quanto antes, se possível, imediatamente". Mesmo tendo reduzido o valor negociado, de R$ 70 mil para R$ 40 mil, Castro Júnior diz que o pagamento foi feito três dias antes do evento.
O ex-gerente narrou que "o projeto inicial para uma política de patrocínios foi encomendado pela presidência da Nossa Caixa a uma empresa de consultoria, a Articultura Comunicação Ltda., com custo final de R$ 80 mil, sem qualquer cotação ou consulta de custos a outras empresas".
Disse que conseguiu reduzir o preço, pagando R$ 62,7 mil. E que o projeto foi "descartado", "esquecido" pela diretoria.
(FV)


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