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Trabalhador anda 40 km para relatar "escravidão"
Parente de fazendeiro acusado nega a suspeita
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma suspeita de escravidão
por dívida e de trabalho degradante em uma propriedade rural de Alta Floresta (MT) levou
à prisão em flagrante do dono
da fazenda -o que nunca havia
ocorrido até então no Estado.
O Ministério Público do Trabalho só teve conhecimento da
situação na fazenda depois que
um dos trabalhadores abandonou seu alojamento e andou
-sem água ou comida- cerca
de 40 km em um atalho aberto
na meio da mata fechada para
fazer a denúncia.
De acordo com seu relato, ele
e dois colegas só poderiam ir
embora depois de pagar, com
trabalho, alimentos comprados
pelo proprietário.
O procurador do Trabalho
Rafael de Araújo Gomes afirmou que, ainda assim, a travessia não pode ser considerada
uma fuga, já que o fazendeiro
Altair Vezentin não o impediu
fisicamente de ir embora, apenas o obrigou a andar pela floresta para fazê-lo.
"[Vezentin] Disse que ele
[trabalhador] poderia ir, mas os
outros dois deveriam ficar para
garantir o pagamento do que
ele havia comprado para eles
comerem, uns R$ 400 em arroz, café, açúcar e óleo", afirmou o procurador.
Antes uma das principais
modalidades de trabalho análogo à escravidão, a ligação por dívida é hoje uma prática raramente encontrada pela fiscalização. Normalmente, as péssimas condições de alojamento e
alimentação é que acabam por
configurar o crime.
A discórdia entre os três e o
empregador começou quando
eles perceberam que o trabalho
combinado -preparar o campo
para a pecuária- seria mais
complicado do que parecia.
Eles tentaram então negociar um pagamento mais alto, o
que foi negado pelo fazendeiro,
segundo a Procuradoria.
A denúncia foi feita no dia 17
e o procurador chegou ao alojamento no último dia 20, quando, com dois policiais, prendeu
Vezentin -que já foi liberado.
Gomes disse que os trabalhadores banhavam-se e bebiam a
água de um riacho. Como banheiro, usavam a floresta. Ficavam em uma barraca cujo teto
era de plástico.
A Folha ligou para a casa de
um irmão de Vezentin, mas
não encontrou o fazendeiro.
Uma cunhada disse que ele nega a suspeita. Ele também pode
ser indiciado por aliciamento
de trabalhadores.
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