São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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Lula e Chávez voltam a discutir refinaria

Projeto em Pernambuco é alardeado desde 2005 como o maior entre os países na área energética; encontro ocorre hoje em Recife

Pauta inclui a segurança nas fronteiras e a tentativa de adesão da Venezuela ao Mercosul; estão previstos acordos na área agrícola

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A RECIFE

RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez farão hoje em Recife uma terceira rodada de conversas na tentativa de formalizar o acordo sobre a refinaria Abreu e Lima, anunciado desde 2005 como o maior projeto energético entre Brasil e Venezuela, mas até hoje não assinado entre as partes interessadas -a Petrobras e a PDVSA, a estatal venezuelana.
A pauta dos mandatários, ambos acompanhados de uma grande comitiva ministerial, é ampla. Será o primeiro encontro dos dois desde o atrito que ocorreu entre Equador e Colômbia após a morte de um dirigente das Farc, processo que elevou a tensão na região e colocou Lula e Chávez em campos retóricos opostos.
Hoje, em Recife, eles deverão tratar sobre a segurança nas fronteiras, a idéia da criação de um conselho de defesa regional e a polêmica tentativa de adesão da Venezuela ao Mercosul, processo pendente de aprovação pelo Congresso brasileiro.
Ontem, em Caracas, Chávez disse que este é o momento mais "cálido e frutífero" das relações bilaterais. "Em cinco anos e alguns meses que coincidimos como presidentes, nunca antes o diálogo entre nós esteve tão cálido e tão frutífero."
Estão previstas assinaturas de acordos nas áreas agrícola, industrial e comercial. No campo da educação, Lula e Chávez devem assinar um memorando de entendimento para formação de estudantes brasileiros em cursos de medicina comunitária da Venezuela. No entanto, a questão energética é o cerne da visita. O porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, foi otimista ao ser questionado sobre Abreu e Lima. "A expectativa é que se possa finalizar essas negociações e, nessa reunião entre os presidentes, presenciar a assinatura do contrato de associação entre a Petrobras e a PDVSA", disse.
Logo depois, entretanto, ele mesmo ponderou: "Mas as negociações ainda estão ocorrendo, e existem alguns detalhes que têm que ser acertados".
Lula e Chávez se encontraram em setembro de 2007 em Manaus e não chegaram a um consenso sobre a refinaria. Em dezembro, num novo encontro em Caracas, foi anunciado um acordo sobre Abreu e Lima, prevendo, como era esperado, que a Petrobras terá 60% de participação no projeto e a PDVSA, 40%. Porém, não se avançou, à época, sobre o projeto complementar, de exploração de petróleo pesado na Venezuela, em Carabobo 1.
Por essa e outra série de indefinições, que vão do campo financeiro ao político, o acordo ainda não foi assinado pelos países. Mesmo assim, a Petrobras deu início à obra e o governo diz que até 2010 a refinaria entrará em operação.
Apesar dos visíveis desacertos entre as duas empresas, Lula e Chávez insistem no empreendimento por considerá-lo uma "manifestação concreta" da integração energética regional, algo que ambos pregam. Hoje Lula também deve assinar ordens de serviço para o início de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Pernambuco, no valor de R$ 307 milhões.


Colaborou FABIANO MAISONNAVE , de Caracas


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