São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

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QUESTÃO INDÍGENA
Quiriris, armados, expulsam mais 1.100 pessoas de casas construídas dentro de sua reserva em Banzaê
Ataque de índios esvazia cidade baiana

Paulo Giandália/Folha Imagem
Índios quiriris armados com arco e flecha tomam povoado em Banzaê, depois de expulsar posseiros


LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Banzaê (BA)

Índios quiriris, armados com arco e flecha e pintados para a guerra, estão transformando Banzaê (BA) em uma cidade "fantasma", expulsando seus moradores e obrigando-os a viver em barracas e abrigos improvisados, enquanto ocupam suas casas.
A presença de policiais federais, militares e tropas do Exército na área não inibiu a invasão ontem de mais quatro povoados do município (260 casas) e a expulsão de todos os moradores (1.100 pessoas).
Cerca de 2.500 pessoas de nove povoados já foram expulsas pelos índios nos últimos cinco dias, segundo levantamento realizado pela Polícia Militar de Banzaê (296 km de Salvador).
A reserva indígena de Banzaê tem 12.320 hectares, o que equivale a 75% da área do município. Banzaê tem 11 mil habitantes, dos quais 6.500 viviam em áreas dentro da reserva indígena.
Nos povoados invadidos, os índios circulam livremente de casa em casa e estabelecem o horário para que os antigos proprietários retirem seus pertences.
"Quem não retirar suas coisas em três horas é porque perdeu o interesse", disse o líder indígena Manoel Cristovão Batista, 42.
Sem alternativa, os moradores estão deixando suas casas e levando o que podem. Alguns estão destruindo as casas para utilizar tijolos e madeiras em novas construções. "Estou começando minha vida agora", disse o agricultor Oswaldo Chaves do Nascimento, 62.
Todos os serviços públicos e privados dos povoados invadidos não funcionam desde a chegada dos índios.
A Prefeitura de Banzaê iniciou ontem a construção de 86 barracas de plástico, usadas pela Defesa Civil durante enchentes, para abrigar parte das famílias expulsas pelos índios. A prefeita de Banzaê, Jailma Alves Dantas (PFL), 28, disse que 3.000 estudantes do município estão sem aula. "As escolas foram transformadas em abrigos."



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