São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Suposta vítima disse à polícia que não dirigia Dakota vermelha quando prefeito Celso Daniel foi seqüestrado

Comerciante contesta versão de acusados

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos principais argumentos usados por membros da quadrilha acusada de seqüestrar e matar o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), o de que o grupo tinha como alvo um comerciante do Ceagesp que dirigia uma Dakota vermelha, foi colocado em questão no depoimento de um comerciante que possuía o mesmo tipo de carro.
C.C.M, 34, foi ouvido pela primeira vez pela 1ª Delegacia da Divisão de Homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) no dia 15 de agosto de 2002. Ele confirmou que trabalha no Ceagesp e que, no dia do seqüestro de Celso Daniel, 18 de janeiro daquele ano, era proprietário de uma Dakota vermelha. O prefeito foi encontrado morto a tiros dois dias depois.
Porém, em um aditamento ao depoimento, em 18 de novembro de 2003 à 3ª Delegacia da Divisão de Homicídios e Latrocínios, do DHPP, C.C.M. afirmou que no dia do crime dirigia um Corsa Sedan, no qual também estavam sua mãe, a filha e a irmã.
O comerciante se lembrou do detalhe porque faz aniversário em 17 de janeiro e havia combinado com a namorada, que mora em Santos, de encontrá-la no dia seguinte, depois de sair do Ceagesp.
Na conclusão do inquérito que apurou a morte do prefeito, o relatório afirma que, "no final da tarde de 18 de janeiro de 2002, é dado o sinal verde para que a quadrilha ponha-se em ação; Ivan [Rodrigues da Silva] recebe comunicação de [José] Edison [Edison da Silva] de que este já se encontrava em seu próprio auto, um Tempra de cor preta, seguindo o comerciante do Ceasa [sic], que dirigia uma pick-up na cor vermelha, veículo este que originalmente deveria ser atacado".
Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, é acusado de ser o mentor do grupo. José Edison da Silva é apontado no relatório da polícia como um dos autores dos disparos que vitimaram o prefeito. O outro responsável pelos tiros, segundo inquérito da 1ª Delegacia da Divisão de Homicídios, é um adolescente.
Seis pessoas estão presas. Também está detido o empresário Sérgio Gomes da Silva, apontado como o mandante.
O prefeito teria sido morto ao tentar deter um esquema de cobrança de propina na Prefeitura de Santo André, do qual Gomes da Silva seria um dos beneficiários. O próprio PT, segundo testemunhas, recebeu parte desse dinheiro em campanhas eleitorais -o partido nega.
No primeiro depoimento, C.C.M. apenas confirmou que era dono de uma Dakota e que, para ir a Santos, utilizava dois percursos, um deles passando pelo local onde Celso Daniel foi seqüestrado. Não há menção à possibilidade de ele ter usado outro veículo.
O comerciante também declarou que "pouco trabalha com dinheiro, sendo a maioria dos negócios satisfeitos através de títulos de crédito".
O delegado José Masi, em depoimento na 1ª Vara Judicial de Itapecerica da Serra, afirma que o que despertou a atenção de José Edison da Silva para a suposta tentativa de seqüestro do comerciante foi o fato de ele achar que "aquele homem tinha R$ 35 mil no bolso". Seria como alguém ter no mínimo 350 notas de R$ 100 ou 700 notas de R$ 50 no bolso.
No outro depoimento, em novembro do ano passado, o comerciante do Ceagesp afirmou que, anteriormente, não se recordava ao certo se na data do seqüestro do prefeito ele realmente conduzia a Dakota. Depois, disse que viajou no Corsa Sedan de sua mãe, "pelo fato de abrigar mais pessoas e ser mais confortável". C.C.M. afirmou que, naquela noite, dirigiu "moderadamente" e que em nenhum momento percebeu que estava sendo perseguido.
Itamar Messias Silva dos Santos, que também é acusado de participar da quadrilha, disse, em dezembro do ano passado, aos promotores e à polícia, que "o grupo todo combinou que iria sustentar que houve a perseguição à Dakota, passando pela Bandeirantes". "Foi José Edison quem orientou a todos sobre a tal perseguição à Dakota", afirmou o detento.
Para o Ministério Público, o depoimento do comerciante "confirma que a história da tal Dakota vermelha foi inventada", como disse o promotor Roberto Wider.
Em janeiro, a Folha publicou que seis pessoas ligadas ao crime foram mortas em circunstâncias que não foram esclarecidas.


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