|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO SANTO ANDRÉ
Suposta vítima disse à polícia que não dirigia Dakota vermelha quando prefeito Celso Daniel foi seqüestrado
Comerciante contesta versão de acusados
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos principais argumentos
usados por membros da quadrilha acusada de seqüestrar e matar
o prefeito de Santo André, Celso
Daniel (PT), o de que o grupo tinha como alvo um comerciante
do Ceagesp que dirigia uma Dakota vermelha, foi colocado em
questão no depoimento de um
comerciante que possuía o mesmo tipo de carro.
C.C.M, 34, foi ouvido pela primeira vez pela 1ª Delegacia da Divisão de Homicídios do DHPP
(Departamento de Homicídios e
de Proteção à Pessoa) no dia 15 de
agosto de 2002. Ele confirmou
que trabalha no Ceagesp e que, no
dia do seqüestro de Celso Daniel,
18 de janeiro daquele ano, era
proprietário de uma Dakota vermelha. O prefeito foi encontrado
morto a tiros dois dias depois.
Porém, em um aditamento ao
depoimento, em 18 de novembro
de 2003 à 3ª Delegacia da Divisão
de Homicídios e Latrocínios, do
DHPP, C.C.M. afirmou que no dia
do crime dirigia um Corsa Sedan,
no qual também estavam sua
mãe, a filha e a irmã.
O comerciante se lembrou do
detalhe porque faz aniversário em
17 de janeiro e havia combinado
com a namorada, que mora em
Santos, de encontrá-la no dia seguinte, depois de sair do Ceagesp.
Na conclusão do inquérito que
apurou a morte do prefeito, o relatório afirma que, "no final da
tarde de 18 de janeiro de 2002, é
dado o sinal verde para que a quadrilha ponha-se em ação; Ivan
[Rodrigues da Silva] recebe comunicação de [José] Edison [Edison da Silva] de que este já se encontrava em seu próprio auto, um
Tempra de cor preta, seguindo o
comerciante do Ceasa [sic], que
dirigia uma pick-up na cor vermelha, veículo este que originalmente deveria ser atacado".
Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, é acusado de
ser o mentor do grupo. José Edison da Silva é apontado no relatório da polícia como um dos autores dos disparos que vitimaram o
prefeito. O outro responsável pelos tiros, segundo inquérito da 1ª
Delegacia da Divisão de Homicídios, é um adolescente.
Seis pessoas estão presas. Também está detido o empresário Sérgio Gomes da Silva, apontado como o mandante.
O prefeito teria sido morto ao
tentar deter um esquema de cobrança de propina na Prefeitura
de Santo André, do qual Gomes
da Silva seria um dos beneficiários. O próprio PT, segundo testemunhas, recebeu parte desse dinheiro em campanhas eleitorais
-o partido nega.
No primeiro depoimento,
C.C.M. apenas confirmou que era
dono de uma Dakota e que, para
ir a Santos, utilizava dois percursos, um deles passando pelo local
onde Celso Daniel foi seqüestrado. Não há menção à possibilidade de ele ter usado outro veículo.
O comerciante também declarou que "pouco trabalha com dinheiro, sendo a maioria dos negócios satisfeitos através de títulos
de crédito".
O delegado José Masi, em depoimento na 1ª Vara Judicial de
Itapecerica da Serra, afirma que o
que despertou a atenção de José
Edison da Silva para a suposta
tentativa de seqüestro do comerciante foi o fato de ele achar que
"aquele homem tinha R$ 35 mil
no bolso". Seria como alguém ter
no mínimo 350 notas de R$ 100 ou
700 notas de R$ 50 no bolso.
No outro depoimento, em novembro do ano passado, o comerciante do Ceagesp afirmou que,
anteriormente, não se recordava
ao certo se na data do seqüestro
do prefeito ele realmente conduzia a Dakota. Depois, disse que
viajou no Corsa Sedan de sua
mãe, "pelo fato de abrigar mais
pessoas e ser mais confortável".
C.C.M. afirmou que, naquela noite, dirigiu "moderadamente" e
que em nenhum momento percebeu que estava sendo perseguido.
Itamar Messias Silva dos Santos,
que também é acusado de participar da quadrilha, disse, em dezembro do ano passado, aos promotores e à polícia, que "o grupo
todo combinou que iria sustentar
que houve a perseguição à Dakota, passando pela Bandeirantes".
"Foi José Edison quem orientou a
todos sobre a tal perseguição à
Dakota", afirmou o detento.
Para o Ministério Público, o depoimento do comerciante "confirma que a história da tal Dakota
vermelha foi inventada", como
disse o promotor Roberto Wider.
Em janeiro, a Folha publicou
que seis pessoas ligadas ao crime
foram mortas em circunstâncias
que não foram esclarecidas.
Texto Anterior: Brasil profundo: Corpos sem identificação são liberados Próximo Texto: Eleições 2004: Novos prefeitos terão que enfrentar falta de crédito Índice
|