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QUESTÃO INDÍGENA
Executivo de Pacaraima, que organizou bloqueio em BR, critica "forças de ocupação" em Raposa/Serra do Sol
Prefeito põe cidade de reserva em emergência
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Índios e não-índios bloqueiam a BR-174, em Pacaraima (RR) |
JOSÉ MASCHIO
EDUARDO KNAPP
ENVIADOS ESPECIAIS A PACARAIMA
No segundo dia de bloqueio da
rodovia BR-174, que liga o Brasil à
Venezuela pelo Estado de Roraima, o prefeito de Pacaraima, Paulo César Justo Quartiero (PDT),
52, decretou "estado de emergência" no município. Ele justificou a
medida em razão "da ingerência
das forças federais de ocupação"
nas comunidades rurais.
O bloqueio na BR-174 é um protesto organizado por moradores
índios e não-índios de Pacaraima
contra a homologação, pelo governo federal, da reserva Raposa/
Serra do Sol em área contínua.
Quartiero, que esteve à frente da
organização do bloqueio, acusa
"as tropas federais de ocupação"
de impedir o trânsito de ônibus
escolares na área rural e nas comunidades indígenas e de dificultar o trabalho das equipes de assistência à saúde dos índios.
Com a decretação do estado de
emergência, o município pode requisitar propriedades de particulares e fazer contratos sem necessidade de licitações. O superintendente da Polícia Federal em Roraima, José Francisco Mallmann,
criticou a atitude do prefeito.
"Ele quer criar um fato político.
A Operação Upatakon ("nossa
terra", em macuxi) é justamente
para garantir a ordem. É mentira
que ela esteja atrapalhando o
trânsito de ônibus escolares ou do
pessoal da saúde", disse.
No início da tarde de ontem
houve um momento de tensão no
bloqueio. Tuxauas (líderes) pintados e ostentando cocares exigiram que a Polícia Federal desmontasse uma tenda do Exército,
instalada a menos de cinqüenta
metros do local do bloqueio.
Em discurso em macuxi -traduzido pelo vice-prefeito Anísio
Pedrosa Lima (PSDC), também
tuxaua macuxi-, o tuxaua Patrício Padilha disse aos policiais federais que eles não eram "queridos no local e que deveriam se retirar". Depois de certa hesitação,
os policiais federais e soldados do
Exército desmontaram a tenda.
Os policiais se deslocaram para o
posto da PF na fronteira com a
Venezuela, distante 500 metros
do bloqueio.
Reféns
Permanecia inalterada, até o fim
da noite de ontem, a situação dos
quatro policiais federais mantidos
reféns desde a última sexta-feira
por cerca de 1.300 índios na comunidade Flechal, no município
de Uiramutã.
O superintende da PF em Roraima, José Francisco Mallmann,
disse ontem que a tática da PF para libertar os reféns será "o diálogo até a exaustão". Ele afirmou ter
a expectativa de que os policiais
sejam libertados no máximo até
amanhã.
"Eles [os índios] já conseguiram
o que queriam, que era dar publicidade ao seu descontentamento.
Agora, quanto mais deixarem os
policiais presos, menos apoio da
sociedade irão ter", afirmou.
Mallmann descartou o uso de força para resgatar os policiais.
A disposição é diferente com relação ao bloqueio da BR-174. "O
bloqueio está impedindo o legítimo direito de ir e vir e causa transtornos em uma área de fronteira.
Vamos desobstruir a rodovia e
medidas para isso já estão sendo
tomadas", afirmou.
Ontem desembarcaram na capital roraimense 73 agentes da PF,
mas eles só serão incorporados à
operação hoje.
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