São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2005

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QUESTÃO INDÍGENA

Executivo de Pacaraima, que organizou bloqueio em BR, critica "forças de ocupação" em Raposa/Serra do Sol

Prefeito põe cidade de reserva em emergência

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Índios e não-índios bloqueiam a BR-174, em Pacaraima (RR)


JOSÉ MASCHIO
EDUARDO KNAPP
ENVIADOS ESPECIAIS A PACARAIMA

No segundo dia de bloqueio da rodovia BR-174, que liga o Brasil à Venezuela pelo Estado de Roraima, o prefeito de Pacaraima, Paulo César Justo Quartiero (PDT), 52, decretou "estado de emergência" no município. Ele justificou a medida em razão "da ingerência das forças federais de ocupação" nas comunidades rurais.
O bloqueio na BR-174 é um protesto organizado por moradores índios e não-índios de Pacaraima contra a homologação, pelo governo federal, da reserva Raposa/ Serra do Sol em área contínua.
Quartiero, que esteve à frente da organização do bloqueio, acusa "as tropas federais de ocupação" de impedir o trânsito de ônibus escolares na área rural e nas comunidades indígenas e de dificultar o trabalho das equipes de assistência à saúde dos índios.
Com a decretação do estado de emergência, o município pode requisitar propriedades de particulares e fazer contratos sem necessidade de licitações. O superintendente da Polícia Federal em Roraima, José Francisco Mallmann, criticou a atitude do prefeito.
"Ele quer criar um fato político. A Operação Upatakon ("nossa terra", em macuxi) é justamente para garantir a ordem. É mentira que ela esteja atrapalhando o trânsito de ônibus escolares ou do pessoal da saúde", disse.
No início da tarde de ontem houve um momento de tensão no bloqueio. Tuxauas (líderes) pintados e ostentando cocares exigiram que a Polícia Federal desmontasse uma tenda do Exército, instalada a menos de cinqüenta metros do local do bloqueio.
Em discurso em macuxi -traduzido pelo vice-prefeito Anísio Pedrosa Lima (PSDC), também tuxaua macuxi-, o tuxaua Patrício Padilha disse aos policiais federais que eles não eram "queridos no local e que deveriam se retirar". Depois de certa hesitação, os policiais federais e soldados do Exército desmontaram a tenda. Os policiais se deslocaram para o posto da PF na fronteira com a Venezuela, distante 500 metros do bloqueio.

Reféns
Permanecia inalterada, até o fim da noite de ontem, a situação dos quatro policiais federais mantidos reféns desde a última sexta-feira por cerca de 1.300 índios na comunidade Flechal, no município de Uiramutã.
O superintende da PF em Roraima, José Francisco Mallmann, disse ontem que a tática da PF para libertar os reféns será "o diálogo até a exaustão". Ele afirmou ter a expectativa de que os policiais sejam libertados no máximo até amanhã.
"Eles [os índios] já conseguiram o que queriam, que era dar publicidade ao seu descontentamento. Agora, quanto mais deixarem os policiais presos, menos apoio da sociedade irão ter", afirmou. Mallmann descartou o uso de força para resgatar os policiais.
A disposição é diferente com relação ao bloqueio da BR-174. "O bloqueio está impedindo o legítimo direito de ir e vir e causa transtornos em uma área de fronteira. Vamos desobstruir a rodovia e medidas para isso já estão sendo tomadas", afirmou.
Ontem desembarcaram na capital roraimense 73 agentes da PF, mas eles só serão incorporados à operação hoje.


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