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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O PRESIDENTE
Para senador, requerimento assinado por 35 parlamentares não tinha "fato determinado"
Renan veta "CPI do Lula" e alivia pressão sobre petista
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Alegando a inexistência de um
fato determinado, o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), arquivou ontem o
requerimento para criar a "CPI do
Lula", que contava com a assinatura de 35 senadores, oito a mais
do que o necessário.
O pedido, do senador Almeida
Lima (PMDB-SE), apontava como alvo das investigações cinco
itens. Entre eles, o pagamento de
uma dívida do presidente e de
pessoas próximas a ele pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e denúncias contra familiares
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de parte dos senadores
da oposição ter assinado o requerimento, o arquivamento já era
esperado, até para evitar que a
CPI dos Bingos ficasse esvaziada.
A comissão já tenta investigar alguns desses temas -embora já
esteja definhando.
Para os governistas, que querem tirar Lula do foco da crise, a
decisão foi positiva. O presidente
do Senado citou parecer da CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça), que em 1996 foi usado para
arquivar o pedido de criação da
CPI dos Bancos.
O argumento era que a falta de
objetivo preciso da comissão poderia levar frustração, e não esclarecimento, à opinião pública. Renan ainda justificou sua decisão
dizendo que os temas listados no
requerimento estão sendo ou já
foram objetos de investigação.
"Para a constituição de CPI, o
fato determinado é essencial, é sagrado. Listar fatos difusos, desconexos ou pulverizados na tentativa de viabilizar sua instalação não
encontra respaldo na Constituição nem nos regimentos das Casas legislativas e menos ainda no
Supremo Tribunal Federal", disse
Renan, ao anunciar o arquivamento no plenário do Senado.
Antes, o presidente da Casa havia enumerado as CPIs instaladas
no último ano -sendo três mistas (deputados e senadores) e a
dos Bingos, composta apenas por
senadores- afirmando ter dado
"apoio logístico e político" para
que todas trabalhassem.
"Nunca se investigou tanto. Os
pedidos continham fato determinado, prazo de funcionamento e o
terço constitucional necessário",
afirmou Renan. E completou:
"Quando se tentou desfigurar o
relatório da CPI dos Correios, por
meio de requerimentos intempestivos, esta presidência manteve o apoio às conclusões (...). Em
nenhuma dessas oportunidades
foi suprimido ou violado o direito
da minoria de investigar".
Indiretamente, o senador se referia à tentativa do PT de derrubar
a sessão em que foi aprovado o relatório final da CPI dos Correios.
O senador Almeida Lima, em
viagem oficial à Áustria, não comentou o assunto ontem. Coube
à senadora Heloísa Helena
(PSOL-AL), uma das que assinaram o requerimento, a defesa do
pedido de instalação da CPI.
A senadora, pré-candidata à
Presidência da República, não
concordou com a justificativa dada por Renan: "Como coloquei
minha assinatura [no requerimento], interpretei que há fato
determinado. Não concordo que
não haja fato determinado".
Já a líder do PT no Senado, Ideli
Salvatti (SC), considerou "correta" a decisão do presidente da Casa. "O requerimento era inadequado e inconstitucional."
Objetivos
No requerimento, Almeida Lima estabelecia como alvos de investigação o aporte de R$ 10 milhões feito pela Telemar na empresa Gamecorp, da qual um dos
sócios é Fábio Luiz, filho de Lula, e
a suposta prática de tráfico de influência por Genival Inácio da Silva, irmão do presidente.
O documento também previa
apuração da violação do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
Costa e a investigação da origem
do dinheiro transportado na cueca, no ano passado, pelo petista
José Adalberto Vieira da Silva.
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