ELVIRA LOBATO
RAPHAEL GOMIDE
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Um instituto sem sede definida, que recebeu R$ 26,89 milhões do governo do Estado do Rio na gestão da governadora Rosinha Matheus (PMDB), é o elo entre duas empresas que doaram R$ 250 mil para a campanha do pré-candidato do PMDB à Presidência da República, Anthony Garotinho.
Procurado ontem pela Folha, Garotinho, inicialmente, se recusou a comentar o assunto. Depois, divulgou uma nota na qual informou que devolverá o dinheiro aos doadores.
O protético Nildo Jorge Nogueira Raja, sócio da Emprin - Empresa de Projetos de Informática Ltda., maior doador fluminense da pré-campanha, com R$ 200 mil, é também sócio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (IBDT), que recebeu o dinheiro do governo de Rosinha, mulher de Garotinho.
O economista Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio da Virtual Line, que doou R$ 50 mil, divide um endereço no centro do Rio com o presidente do IBDT, Reinaldo Pavarino Júnior.
O contador do instituto, Renato Ferreira Alves, é o mesmo da empresa Inconsul, que doou R$ 150 mil a Garotinho. Pavarino Júnior tem como endereço a rua do Ouvidor, 90, no centro. O mesmo endereço aparece na lista telefônica como sendo de Roncoli e também da Alves&Chianello Contabilidade e Assessoria Empresarial, do contador Alves.
"Ao tomar conhecimento da conduta ética e fiscal dos referidos doadores, determino a Comissão Arrecadadora do PMDB providenciar o mais rápido possível a devolução dos recursos às referidas empresas", afirmou o pré-candidato do PMDB na nota, "mesmo não havendo nenhuma irregularidade do ponto de vista legal no momento da doação, já que os depósitos foram feitos em cheques nominais ao partido e em conta específica, com certidões da Receita Federal e Estadual, CNPJ, Previdenciária".

Sem licitação
O IBDT foi contratado sem licitação pública por duas fundações do governo estadual, a Fesp (Fundação Escola do Serviço Público) e o Instituto Vital Brazil, ambos ligados à Secretaria de Administração do Estado. A entidade recebeu das duas fundações R$ 2,008 milhões em 2004, R$ 16,568 milhões em 2005 e R$ 8,315 milhões desde o começo do ano.
No endereço que aparece na base de dados do Siafem (Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios) como sede do IBDT, uma pequena sala comercial no centro do Rio, funciona o escritório de um profissional liberal que não quis dizer o nome.
Ele afirmou que ocupa a sala desde maio do ano passado e que nunca ouviu falar do IBDT. Funcionários que trabalham há mais de seis anos no prédio também disseram desconhecer a existência do IBDT.
No cadastro da Receita Federal disponível na internet, o instituto aparece com sede em Saquarema (cidade a cerca de 70 km do Rio). O telefone que a entidade forneceu à Receita está instalado no centro do Rio. É de um dos escritórios de contabilidade Alves&Chianello, que também presta serviços às empresas Emprin e Virtual Line.

Contratos
De acordo com dados do Siafem, dos R$ 16,568 milhões que o IBDT recebeu do governo do Estado no ano passado, R$ 14,33 milhões vieram da Fesp. O restante veio do Instituto Vital Brazil.
Entre os contratos assinados entre a Fesp e o IBDT, sem licitação pública, está um no valor de R$ 689,24 mil, de julho do ano passado, para ""reestruturação da rede pública de ensino". Em agosto do mesmo ano, a fundação contratou o IBDT para prestar serviços ao Detran (também sem licitação), por R$ 1,26 milhão.
O Vital Brazil também dispensou licitação ao contratar o IBDT, em maio de 2005, para selecionar e capacitar pessoal. O valor do contrato foi de R$ 526,4 mil.
No Siafem consta que, dos R$ 2,008 milhões que o IBDT recebeu do governo do Rio em 2004, R$ 500 mil saíram do Fundo Estadual do Combate à Pobreza.

Doações
Divulgar na internet seus gastos na pré-campanha foi um compromisso firmado neste ano por Garotinho. Em seu site (www.anthonygarotinho.com.br), o pré-candidato divulga que recebeu R$ 650 mil em doações.
De acordo com o site, fizeram doações três empresas sediadas no Estado do Rio -Emprin, com R$ 200 mil; Inconsul, com 150 mil; e Virtual Line, com R$ 50 mil- e uma de Pernambuco, a Teldata, com R$ 250 mil.


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