São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Decisão foi de comitê, afirma Rioli

RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO

O ex-vice-presidente de operações do Banespa Vladimir Antônio Rioli diz que não tomou sozinho a decisão de dar empréstimos à tecelagem Calfat S/A em 1992.
Segundo ele, a decisão foi tomada por um comitê formado por 15 diretores do banco, com base em relatórios de áreas inferiores.
A revista "IstoÉ" diz que Rioli liberou dois empréstimos à Calfat, um de R$ 1,7 milhão e outro de US$ 3 milhões. Na madrugada de ontem, Rioli falou à Folha:
 

Folha - O sr. aprovou dois empréstimos à Calfat?
Vladimir Antônio Rioli -
Todas as operações dessa natureza são aprovadas pelo comitê de crédito [do Banespa]. Nenhum diretor ou vice-presidente tem poderes para aprovar sozinho uma operação dessas. São 15 diretores [no comitê] e todos têm o voto igualitário.

Folha - A votação foi unânime?
Rioli -
Não me recordo. Mas eu votei a favor. As operações vêm das áreas inferiores, que vão dando as recomendações e vão negociando com o cliente a forma da operação, as garantias, sempre respeitando a regra do banco. Quando [a operação de empréstimo] chega para o comitê, já chega uma recomendação pronta.

Folha - O sr. liberou para a Calfat o equivalente hoje a R$ 1,7 milhão?
Rioli -
Eu não liberei nenhuma operação de R$ 1,7 milhão. Não sei de onde tiraram isso aí. Olha, tem aqui uma assinatura minha que é de 16 de abril de 1992. Essa operação é a dos US$ 3 milhões.

Folha - E essa do R$ 1,7 milhão?
Rioli -
Não sei. O que existe é o seguinte. O comitê de crédito aprovou essa operação dos US$ 3 milhões. Mas, antes, eles [a Calfat] já operavam com o banco. Eu desconheço que operação é essa [de R$ 1,7 milhão]. Não é que não exista. A Calfat fez outras operações aprovadas pelo comitê.

Folha - A revista diz que a Calfat estava em processo de liquidação.
Rioli -
Que eu me recorde, não estava. Ao contrário, estava em processo de investimento.

Folha - O então governador Luiz Antônio Fleury Filho sabia da operação com a Calfat?
Rioli -
Que eu saiba não. Os empréstimos eram feitos em nível interno do banco, sem interferência.

Folha - O sr. foi indicado pelo PSDB ao cargo?
Rioli -
Não, não. Fui convidado pelo presidente do banco.

Folha - O sr. arrecadou dinheiro para a campanha de Serra?
Rioli -
Não, nunca fui arrecadador de campanha. Sou um profissional de mercado, de banco.

Folha - Uma das suposições é que o dinheiro que vem das Ilhas Cayman é de sobras de campanha.
Rioli -
Fantasiosa essa suposição.

Folha - O sr. acha que é comum uma empresa como a Calfat levantar US$ 3 milhões no exterior? Quem compraria esses títulos?
Rioli -
Olha, as operações são feitas dentro de regras bancárias. Como essas, outras operações são feitas no mercado bancário. Tem de ver à luz da época.

Folha - O que fazia a empresa que o sr. teve com Serra [de 86 a 95]?
Rioli -
Era uma empresa de consultoria. O Serra acabou eleito deputado e não tinha mais sentido ficar trabalhando.

Folha - Ele tinha 10%?
Rioli -
Ela era minoritário, mas não me lembro quanto. Era uma empresa pequena. Te garanto que não tinha mais de US$ 10 mil de capital. Só teve um balanço, de 86.

Folha - Por que funcionou até 95?
Rioli -
A formalidade no Brasil para fechar é de outra natureza. Você tem de manter a empresa no mínimo cinco anos registrada.


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