São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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CÂMARA

Partido tem a maior representação de funcionários públicos entre deputados

PFL tem mais servidores que o PT

RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO

O PFL, que teve papel fundamental nas reformas liberalizantes que diminuíram o tamanho do Estado na década de 90, é também o partido com maior representação de funcionários públicos entre seus deputados federais.
Muito maior que a do PT, tradicionalmente associado à defesa dos interesses dos servidores. O Partido da Frente Liberal tem 24% dos seus integrantes na Câmara advindos de ocupações ligadas às administrações municipais, estaduais e federal. Entre os petistas, por sua vez, os deputados oriundos do serviço público representam meros 3%.
A informação se encontra em estudo realizado pelo professor de ciência política da Unicamp Leôncio Martins Rodrigues, 68. Deve virar livro nos próximos meses, pela Edusp, sob o título "Partidos, Ideologia e Composição Social".
A explicação para a aparente contradição, segundo Rodrigues, está na relação do PFL com o poder e nos demais grupos sociais do partido. "A bancada do PFL é a que tem mais parlamentares saídos da alta burocracia estatal, além da proporção ainda mais elevada de empresários", diz o pesquisador.
"Além disso, a pesquisa capta a composição a partir da última ocupação antes da entrada na classe política. O PFL está no poder há muito tempo. A atual composição de sua bancada reflete esse fato. Mas veja que o PFL tem bem mais empresários do que funcionários públicos."
Para além desse dado significativo, o estudo procura demonstrar que a repisada idéia de fragilidade e de ausência de coerência do quadro político-partidário no Brasil é falsa. O professor da Unicamp conseguiu mostrar que a orientação ideológica dos partidos, e sua atuação no Congresso, está intimamente ligada à origem social de seus integrantes.
"Os conflitos e as opções partidárias na Câmara dos Deputados não podem ser adequadamente entendidos sem referência aos interesses que a composição social dominante dos partidos sugere", escreve Rodrigues.
Partindo da declaração de bens que os candidatos a cargos eletivos devem registrar nos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e das profissões dos deputados antes de assumirem o cargo, Rodrigues traçou o perfil social dos seis maiores partidos na Câmara: PFL, PSDB, PMDB, PPB, PT e PDT.

"Ricos" e "pobres"
O pesquisador dividiu os deputados em quatro faixas de patrimônio. Os partidos tradicionalmente reconhecidos como de direita (PFL e PPB) são também os mais "ricos", do ponto de vista da posição econômica de seus integrantes. No PFL, 28,6% dos deputados do partido se encontram na faixa de alto patrimônio, e no PPB, 21,6% -contra nenhum deputado nessa faixa no PT, e 9,1% no PDT.
Os partidos reconhecidos como pertencendo à esquerda são, pelo mesmo levantamento, os mais "pobres". No PDT, 40,9% dos seus representantes na Câmara estão na faixa do baixo patrimônio, índice que sobe para 80,4% dos deputados do PT.
A maior ou menor homogeneidade social dos partidos contribuiria, por sua vez, para a maior ou menor coesão e disciplina dos partidos.
"Acredito que bancadas mais homogêneas do ângulo sócio-ocupacional são capazes, relativamente, de definir com mais clareza e menos divergências seus interesses. Se assim for, a maior disciplina vem da maior coesão, que vem da maior homogeneidade social", diz Rodrigues.
Seguindo esse raciocínio, não seria gratuito que partidos como o PT -com 100% de seus integrantes pertencentes às faixas de baixo ou médio-baixo patrimônio- e o PFL -com 61% de empresários e 62,9% de deputados com patrimônio alto ou médio-alto- sejam reconhecidos como os mais coesos e claramente orientados ideologicamente.
O mesmo raciocínio, com resultados inversos, poderia valer para o PMDB -partido com significativas divisões internas e que, ao lado do PSDB, tem a composição social mais heterogênea das seis siglas analisadas.


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