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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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ACM controla 14 cargos federais

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cinco meses após o início do governo Lula, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) mantém sob sua influência pelo menos 14 cargos relevantes em órgãos do governo federal. Todos estão ocupados ou prestes a ser por afilhados políticos de ACM.
Levantamento feito pela Folha na semana passada mostra que dez cargos já eram ocupados por carlistas no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e foram mantidos por Lula. Outros quatro aliados de ACM foram nomeados já em 2003 ou aguardam a nomeação pelo atual governo.
Há dois anos, a Folha obteve a lista oficial de cargos de ACM no governo FHC. À época, ele tinha 29 afilhados em postos importantes da máquina federal.
O principal cargo nas mãos de carlistas é a direção geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ocupada por José Mário Abdo, indicado no governo FHC pelo deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Abdo tem mandato e fica no cargo ao menos até 2005, caso não seja reconduzido por Lula.
Outros cargos importantes sob influência de ACM são a chefia do Departamento Jurídico do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a gerência na Bahia da Dataprev (Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social) e a direção nacional de Recursos Humanos dos Correios.
Tradicional adversário do PT, ACM começou a se aproximar do partido ao apoiar Lula, no segundo turno da eleição presidencial, contra o tucano José Serra. Recentemente, o senador escapou de um processo político por envolvimento em grampos telefônicos na Bahia e ficou grato ao Planalto. Lula ordenou a seus comandados que não interferissem no processo, o que resultou em uma grande ajuda para ACM não ser cassado.
Como prova de gratidão, o senador baiano iniciou um trabalho para levar parte do PFL a votar com o governo federal. Apesar disso, ACM continua sendo o maior adversário do PT na Bahia, que tem em seus quadros o líder do partido na Câmara, Nelson Pellegrino, e os ministros Jaques Wagner (Trabalho) e Waldir Pires (Controladoria).
Para ampliar sua área de influência no governo Lula, ACM espalhou alguns deputados de seu grupo político por partidos da base governista, como PL, PTB e PP. Com isso, esses parlamentares conseguiram indicar oficialmente os ocupantes de alguns cargos.

Aliados
É o caso de Félix Mendonça (PTB), que tem um cargo nos Correios e outro no Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), e de Mário Negromonte, filiado recentemente ao PP, que indicará o gerente regional do Banco do Nordeste na Bahia.
Já o deputado João Leão, que se filiou ao PL já em 2003, indicou o ex-deputado Eujácio Simões para o DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes) e Galdino Leite para a diretoria administrativa e financeira da Codeba (Companhia das Docas da Bahia). O PT resiste aos nomes e tenta reverter as escolhas.
Outros casos são mais explícitos de indicações feitas pelo próprio senador ou por políticos pefelistas. É o caso de Herbert Drumond, diretor de engenharia da Codevasf, que esteve no Senado na semana passada sendo apresentado a políticos nordestinos por ACM, responsável por sua nomeação.
A influência do carlismo no governo Lula divide os petistas. Pellegrino, rival local de ACM, nega o poder do adversário: "Se houver indicação do ACM, é residual. O PFL-BA não faz parte da base do nosso governo, que está em um processo de substituição dos cargos herdados do governo passado". Questionado se tal processo não estaria sendo muito lento, o líder do partido desconversou: "Não está levando muito tempo. Ainda há três anos e sete meses de governo Lula pela frente".
Já o ministro Ricardo Berzoini (Previdência) admite a manutenção de afilhados de ACM, desde que eles tenham competência: "Não há critério político-partidário. O que prevalece é a qualidade da gestão. Se receber indicação de alguém que é competente e honesto, não tem problema".
Berzoini manteve na gerência do Dataprev na Bahia um indicado de Waldeck Ornélas (PFL-BA), um carlista que foi ministro da Previdência Social durante parte do governo FHC.


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