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Governo estica tensão até meia-noite
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará se há corrupção em contratos dos Correios
está criada. O governo sofreu uma
grande derrota e, mesmo tendo se
empenhado até quase o último
minuto, fracassou em sua tentativa de desarticular a comissão retirando votos do requerimento que
pediu sua criação. O documento
foi lido em sessão do Congresso
Nacional tumultuada, marcada
pela manobra dos governistas e
provocações da oposição.
Correndo contra o tempo, governistas tentaram até a meia-noite, prazo máximo para retirada de assinaturas, convencer deputados de sua base que apóiam a
CPI a recuar. Entre os argumentos usados, liberações crescentes
de emendas parlamentares, que
teriam atingido níveis recordes
nos últimos dias, segundo levantamento da oposição, promessas
de mais verbas e cargos, além de
ameaças de retaliação.
O Congresso assistiu a um corre-corre até os primeiros minutos
da madrugada de hoje, quando a
derrota do Planalto foi confirmada. Desde as 21h30, o presidente
do PT, José Genoino, e líderes dispararam telefonemas para deputados na tentativa de retirar ao
menos 87 assinaturas.
"Não deu", anunciou Arlindo
Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara, às 23h40, para depois voltar a se animar com informação trazida de última hora por
um assessor. Governistas correram então da liderança do governo na Câmara para o Senado, onde eram conferidos os votos, onde
chegaram esbaforidos faltando
oito minutos para a meia-noite.
No final, o fracasso foi ratificado. Segundo contas ainda extra-oficiais, os governistas teriam
conseguido retirar apenas 79 assinaturas, nove a menos que o necessário. A oposição ainda apresentou 13 novos nomes, o que levava a não haver números exatos
até o fechamento desta edição.
A CPI chegou a ter 257 assinaturas na Câmara e 52 no Senado,
sendo que o mínimo era de 171 e
27 nomes, respectivamente.
Os ânimos se alternaram durante o dia. "Ainda é possível reverter
a desvantagem numérica", disse,
no meio da tarde, o líder do PT na
Câmara, Paulo Rocha (PA). Já o
presidente da Câmara, Severino
Cavalcanti (PP-PE), já contava
com a derrota governista por volta das 21h: "Não houve um trabalho ordenado [para evitar a CPI].
Não foi bem feito o trabalho dos
líderes, acredito que houve falta
de entrosamento."
O problema do Planalto foram
os dissidentes do PT e do PMDB,
que colaborou com 39 assinaturas
ao requerimento e que sofre influência de várias correntes distintas. No final das contas, a redução no PMDB chegou a apenas 22
nomes. No PT, baixou para 14.
Muitos deputados de PTB, PP,
PSB, PL e PT já haviam aceitado
tirar seus nomes, mas no PMDB o
progresso era mais lento. Havia o
peso da influência do ex-governador do Rio Anthony Garotinho
(PMDB), presidenciável e opositor do governo, sobre 25 deputados dos 39 que assinavam a CPI.
O governo, por José Dirceu (Casa Civil), aproximou-se de Garotinho, sem sucesso. Isso levou Chinaglia a ensaiar um discurso sobre o que fazer após a instalação
-incluindo retirar quórum das
sessões. "Se tivermos que ir para a
CPI, vamos para a guerra com todos os seus horrores", afirmou.
Agora as esperanças do governo
para derrubar a CPI se concentrarão em duas manobras. A primeira foi acordada anteontem à noite
em reunião na casa de Aldo Rebelo (Coordenação Política) com líderes aliados e Dirceu. A segunda
foi selada em reunião de Dirceu
com Renan, ontem à tarde.
Seguindo o roteiro, o deputado
João Leão (PL-BA), vice-líder do
governo, apresentou a Renan, no
meio da sessão, um requerimento
para derrubar a CPI com base no
argumento de que ela não trata de
um fato específico, exigência
constitucional para a sua criação.
O recurso de Leão foi encaminhado à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, onde o governo tem maioria. Se acatado e referendado pelo plenário,
extinguiria a CPI. Ao mesmo tempo, o governo adotará a segunda
manobra: inviabilizar a CPI por
falta de quórum, já que terá a
maioria dos membros. O Planalto
pode, por exemplo, evitar a realização da primeira sessão, a de instalação, se conseguir esvaziá-la.
A sessão de ontem foi aberta às
10h16 por Renan. Foi a primeira
derrota do dia do governo, que
contava com o baixo quórum de
uma sessão matutina, véspera de
feriado, para evitar a leitura.
Pela manhã, a Executiva do PP
aprovou resolução recomendando retirada de assinaturas, o que,
nas contas do partido, significaria
que 10 dos 17 deputados que
apoiaram a CPI recuariam. Havia
ainda a perspectiva de retirada de
13 assinaturas do PTB e dos resultados do esforço de convencimento sobre deputados petistas.
Dos 19 que assinaram, 6 haviam
retirados os nomes.
Não há prazo para que, uma vez
criada, a comissão seja efetivamente instalada. Tudo vai depender da indicação de seus integrantes. Governistas esperam que Renan dê algumas semanas para que
isso ocorra e que, entre a criação e
a instalação, a CCJ se manifeste
sobre o recurso de Leão.
Os líderes governistas avaliam
que o requerimento da CPI é tecnicamente ruim, mas a decisão
será política. Na CCJ, 40 dos 60 integrantes são da base aliada, mas
essa conta inclui aliados pouco
confiáveis. O presidente da CCJ,
Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ),
prometeu colocar o requerimento
em votação na semana que
vem.
(FÁBIO ZANINI, RANIER BRAGON, LEILA SUWWAN E FERNANDA KRAKOVICS)
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