São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Governistas já preparam plano B para matar comissão na prática se ela for instalada

Contra CPI, Lula liga da Coréia; Dirceu procura até Garotinho

KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As articulações de última hora para tentar barrar a CPI dos Correios envolveram telefonemas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) da Coréia do Sul para aliados e uma aproximação entre o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), adversário do governo. Dirceu e Garotinho conversaram por telefone e combinaram encontro em breve.
Já prevendo a possibilidade de fracasso das articulações para abafar a CPI por meio da retirada de assinaturas de apoio a ela, o ministro Dirceu e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fecharam em reunião à tarde um plano B: indicar membros fiéis para a CPI, não dar quórum e matá-la na prática. Plano que também será adotado se vingar outra CPI, a dos Bingos
A possibilidade de tentar controlar as duas CPIs com elas em funcionamento era uma saída mais arriscada, avaliava o governo, mas não estava descartada. A maior parte dos aliados prefere que o governo apenas inviabilize a CPI. A senha foi dada no discurso de Renan ao presidir a sessão de leitura do requerimento de criação da comissão: "CPI é instrumento da minoria, mas é também vontade da maioria". Ou seja, se a maioria não quiser que funcione, seria legítimo politicamente.
Em telefonema à bancada do PT no Senado, Lula orientou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, a carimbar as ações da oposição de luta política por conta das eleições de 2006. "Temos que fazer o debate político, porque, se a gente avaliar a área econômica e social, eles [PSDB e PFL] têm muita dificuldade em confrontar a experiência deles [de governo] com a nossa. Eles querem criar uma outra pauta", disse Lula, segundo Mercadante.
Lula também confirmou que será mantido o ritmo acelerado de apurações da Polícia Federal no caso dos Correios, para dar satisfação à opinião pública e vender que a CPI seria desnecessária.
O plano B foi acertado porque o governo julgava difícil o sucesso da operação-abafa apesar de avanços nos últimos dias e horas. Os principais problemas continuavam a ser as adesões de deputados federais do PT, do PC do B e do PMDB ao requerimento de criação da CPI dos Correios.
Em conversa reservada, Dirceu avaliou que, mesmo que não consiga inviabilizar a CPI retirando assinaturas, o governo recompôs parcialmente sua base porque partidos como PTB, PL, PP e PSB reduziram suas adesões. Ele comandou esse esforço.
No esforço anti-CPI, Palocci telefonou às 10h15 para o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que manteve a assinatura na CPI, mas prometeu boa vontade em batalhas futuras. O ministro quis lhe dar uma boa notícia: o Conselho Monetário Nacional aprovaria ontem, o que aconteceu, a suspensão até 31 de outubro das dívidas dos produtores de cacau da base eleitoral do deputado. Até lá, o governo estudará eventual refinanciamento dos débitos, como quer Geddel.
Geddel, que esteve anteontem com Dirceu, foi um dos articuladores da aproximação do ministro da Casa Civil com Garotinho. Garotinho disse que seria difícil retirar entre 20 e 25 assinaturas de seu grupo. Dirceu falou que desejava estabelecer relação institucional e analisar pleitos do governo do Rio, chefiado por Rosinha, mulher de Garotinho.
Nas contas do governo, ele terá 19 dos 32 membros da CPI dos Correios. Para a CPI funcionar, é preciso que haja uma primeira sessão para escolha do presidente. O quórum mínimo para essa reunião é de maioria absoluta de seus membros (pelo menos 17 dos 32). Com 13 membros na CPI, a oposição precisará da presença de aliados do governo para escolher o presidente. Se não ocorrer, a CPI simplesmente não funciona.
Ao indicar membros fiéis para a CPI, o objetivo do governo é não dar quórum durante todo o mês de junho. Em julho, haverá recesso parlamentar. Em agosto, a PF já deverá ter concluído o inquérito e, na visão do governo, "resolvido o caso" dos Correios.


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