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GOVERNO SOB PRESSÃO
Governistas já preparam plano B para matar comissão na prática se ela for instalada
Contra CPI, Lula liga da Coréia; Dirceu procura até Garotinho
KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As articulações de última hora
para tentar barrar a CPI dos Correios envolveram telefonemas do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) da Coréia do Sul
para aliados e uma aproximação
entre o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), adversário do governo. Dirceu e Garotinho conversaram por telefone e
combinaram encontro em breve.
Já prevendo a possibilidade de
fracasso das articulações para
abafar a CPI por meio da retirada
de assinaturas de apoio a ela, o
ministro Dirceu e o presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), fecharam em reunião à tarde um plano B: indicar
membros fiéis para a CPI, não dar
quórum e matá-la na prática. Plano que também será adotado se
vingar outra CPI, a dos Bingos
A possibilidade de tentar controlar as duas CPIs com elas em
funcionamento era uma saída
mais arriscada, avaliava o governo, mas não estava descartada. A
maior parte dos aliados prefere
que o governo apenas inviabilize a
CPI. A senha foi dada no discurso
de Renan ao presidir a sessão de
leitura do requerimento de criação da comissão: "CPI é instrumento da minoria, mas é também
vontade da maioria". Ou seja, se a
maioria não quiser que funcione,
seria legítimo politicamente.
Em telefonema à bancada do PT
no Senado, Lula orientou o líder
do governo no Senado, Aloizio
Mercadante, a carimbar as ações
da oposição de luta política por
conta das eleições de 2006. "Temos que fazer o debate político,
porque, se a gente avaliar a área
econômica e social, eles [PSDB e
PFL] têm muita dificuldade em
confrontar a experiência deles [de
governo] com a nossa. Eles querem criar uma outra pauta", disse
Lula, segundo Mercadante.
Lula também confirmou que será mantido o ritmo acelerado de
apurações da Polícia Federal no
caso dos Correios, para dar satisfação à opinião pública e vender
que a CPI seria desnecessária.
O plano B foi acertado porque o
governo julgava difícil o sucesso
da operação-abafa apesar de
avanços nos últimos dias e horas.
Os principais problemas continuavam a ser as adesões de deputados federais do PT, do PC do B e
do PMDB ao requerimento de
criação da CPI dos Correios.
Em conversa reservada, Dirceu
avaliou que, mesmo que não consiga inviabilizar a CPI retirando
assinaturas, o governo recompôs
parcialmente sua base porque
partidos como PTB, PL, PP e PSB
reduziram suas adesões. Ele comandou esse esforço.
No esforço anti-CPI, Palocci telefonou às 10h15 para o deputado
federal Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA), que manteve a assinatura na CPI, mas prometeu boa
vontade em batalhas futuras. O
ministro quis lhe dar uma boa notícia: o Conselho Monetário Nacional aprovaria ontem, o que
aconteceu, a suspensão até 31 de
outubro das dívidas dos produtores de cacau da base eleitoral do
deputado. Até lá, o governo estudará eventual refinanciamento
dos débitos, como quer Geddel.
Geddel, que esteve anteontem
com Dirceu, foi um dos articuladores da aproximação do ministro da Casa Civil com Garotinho.
Garotinho disse que seria difícil
retirar entre 20 e 25 assinaturas de
seu grupo. Dirceu falou que desejava estabelecer relação institucional e analisar pleitos do governo do Rio, chefiado por Rosinha,
mulher de Garotinho.
Nas contas do governo, ele terá
19 dos 32 membros da CPI dos
Correios. Para a CPI funcionar, é
preciso que haja uma primeira
sessão para escolha do presidente.
O quórum mínimo para essa reunião é de maioria absoluta de seus
membros (pelo menos 17 dos 32).
Com 13 membros na CPI, a oposição precisará da presença de aliados do governo para escolher o
presidente. Se não ocorrer, a CPI
simplesmente não funciona.
Ao indicar membros fiéis para a
CPI, o objetivo do governo é não
dar quórum durante todo o mês
de junho. Em julho, haverá recesso parlamentar. Em agosto, a PF
já deverá ter concluído o inquérito e, na visão do governo, "resolvido o caso" dos Correios.
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