São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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Na Coréia, Lula elogia Legislativo e ganha máscara

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Enquanto o governo tentava ontem forçar deputados e senadores a abafar a CPI dos Correios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazia elogios ao Legislativo na Coréia do Sul.
Numa visita ao Parlamento coreano, o petista disse: "Como no Brasil e na Coréia, somos [os políticos] muito criticados. Mas nós sabemos a importância do Parlamento. É como eu sempre disse: o Brasil seria pior se não tivesse o Congresso".
Lula fez essa declaração numa reunião com parlamentares coreanos na Assembléia Nacional, que visitou ontem à tarde (madrugada no Brasil). Nesse encontro, soube que um dos partidos de oposição adota um dos slogans petistas do passado: "Sem medo de ser feliz".
O presidente tem evitado conversar com jornalistas neste giro pela Ásia, iniciado na segunda-feira. Hoje segue para o Japão, onde fica até sábado.
Lula cumpre extensa agenda de encontros com autoridades locais e muitos contatos com empresários. Nos seus deslocamentos entre um compromisso e outro, sempre repete que não vai falar porque está muito cedo. "Ainda são seis horas da manhã", disse ontem à tarde. É que o fuso horário coreano está 12 horas à frente do brasileiro. Quando uma repórter da TV Record insistiu para que Lula falasse, a resposta foi: "O Boris Casoy ainda está dormindo", numa referência ao apresentador do telejornal da emissora.
O presidente tem sido informado sobre o processo para abafar a CPI dos Correios por telefone por seu ministro da Casa Civil, José Dirceu. Comenta pouco sobre os dados que recebe com os outros integrantes da comitiva. Ao aparecer nos seus compromissos públicos, Lula comporta-se como se seu governo não passasse por uma crise política. No dia anterior, ao discursar no 6º Fórum Global para Reinvenção de Governo, um evento co-patrocinado pela ONU, pronunciou três vezes a palavra "corrupção". Em todas as ocasiões no sentido de que é necessário combater os atos ilícitos dentro da administração pública.
Num café da manhã com importantes empresários coreanos ontem, segundo relato do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), o presidente disse que não governa tomando decisões relacionadas à eleição de 2006 -quando ele pode concorrer à reeleição. Não mencionou os problemas de relacionamento com o Congresso.
Nos seus discursos, Lula tem privilegiado o aspecto comercial de sua viagem. Fala que os empresários devem acreditar nos produtos brasileiros, que o etanol é uma boa solução energética e que o Brasil pode exportar mais do que produtos "in natura". Mas até o próprio petista reconhece que o resultado, se aparecer, estará concretizado em "uns dez anos".
Na parte da tarde, o presidente recebeu no hotel Lotte, onde se hospedou, um grupo de brasileiros que vive na Coréia -há cerca de 300 no país. No encontro, recebeu vários pequenos presentes típicos. É uma tradição em várias culturas orientais presentear visitantes.
Um dos presentes foi um jogo de duas máscaras tradicionais da cultura coreana. Lula e Marisa Letícia, sua mulher, colocaram os dois objetos na frente do rosto e fizeram a alegria de cinegrafistas e fotógrafos, propiciando a imagem do dia. Ao observar as feições da máscara, o presidente disse: "Parece comigo mesmo". Entre os outros itens que recebeu também estava uma caixa de ginseng coreano, tido como "poderoso afrodisíaco", segundo o apresentador do evento. Lula e Marisa sorriram.


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