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GOVERNO SOB PRESSÃO
Senador petista afirma na tribuna que assinaria requerimento mesmo que partido venha a barrar sua candidatura no ano que vem
Suplicy chora antes de assinar adesão à CPI
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um gesto surpreendente, o
senador Eduardo Suplicy (SP),
que de manhã acatara decisão da
bancada do PT de não aderir à
CPI dos Correios, anunciou chorando em um discurso à noite que
iria assinar o requerimento para
criar a comissão.
"Faço isso mesmo que o partido
diga que nessa circunstância eu
não serei o candidato do partido
ao Senado em 2006", disse ele,
ressaltando que mesmo assim
não sairá do PT.
Um dos fatos que influenciaram
Suplicy foi uma conversa com o
líder do PMDB, senador Ney
Suassuna (PB), em que ele vinculava, de acordo com o petista, votos favoráveis ao governo a nomeações para cargos públicos.
"Eu aprendi ao longo da minha
vida que nós devíamos tomar decisões de como votar não por causa de cargos e liberações de recursos, mas em cima do que é melhor
para o povo brasileiro", afirmou
Suplicy.
Jantar
As declarações de Suassuna teriam sido feitas em um jantar na
Embaixada da China na noite anterior. Segundo Suplicy, ele estava
reclamando da relação com o governo e justificando dificuldades
impostas pela base.
Suassuna e sua assessora de imprensa estavam com os telefones
celulares desligados e não ligaram
de volta para a Folha, que deixou
recados.
"Ele [Suassuna] descreveu como diversos parlamentares faziam exigências de nomeações
para votar com o governo", disse
o petista, afirmando ter ficado
"impressionado". Ele ainda questionou a motivação de parlamentares para retirar as assinaturas de
apoio à CPI na última hora.
Funcionários do Senado levaram o requerimento de criação da
CPI para o plenário, onde Suplicy
o assinou. "Os episódios retratados são de uma complexidade tal
que a CPI se justifica", disse ele,
para quem a Polícia Federal pode
falhar na investigação do caso.
Assim como o ex-secretário de
Imprensa da Presidência da República, Ricardo Kotscho, Suplicy
afirmou que o governo não está
percebendo a realidade. "A Direção Nacional [do PT] e o governo
estão tendo uma percepção muito
distinta do sentimento da população brasileira, de que essa CPI deveria ser realizada e o PT, coerentemente com sua história, deveria
apoiá-la", disse ele.
O senador afirmou que foi influenciado por e-mails recebidos
de eleitores, pedidos nas ruas e
pela opinião pública. "Se eu não
tomasse essa decisão agora eu me
consideraria destruído, pelo que
eu fiz e acreditei até agora", disse
ele.
Líder magoado
A reação ao gesto do senador foi
imediata. O líder do PT, senador
Delcídio Amaral (MS), ligou para
ele magoado, segundo Suplicy, e
teria ameaçado deixar a liderança.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC)
também ligou e lamentou a decisão tomada.
Os senadores Cristovam Buarque (PT-DF) e Paulo Paim (PT-RS), que ameaçaram nos últimos
dias assinar a CPI, assistiram
constrangidos ao discurso no plenário. Visivelmente irritado,
Paim chamou Suplicy para conversar. "Tínhamos um acordo",
disse ele.
Suplicy distribuiu cópias da carta enviada por e-mail ao presidente Lula, anteontem, explicando
por que era importante assinar a
CPI. Ele mandou junto a carta enviada por Sandra Fernandes de
Oliveira ao colunista da Folha
Clóvis Rossi. Ela denunciou a
Operação Uruguai, um dos motivos do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Na carta ela se diz indignada com
o governo Lula.
Suplicy relatou ainda no discurso que o líder do governo, Aloizio
Mercadante (PT-SP), orientou os
sete petistas que queriam apoiar a
CPI a fazê-lo somente se a criação
da comissão fosse inevitável, o
que se saberia perto da meia-noite, prazo final para adesões e retiradas de assinaturas.
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