São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Senador petista afirma na tribuna que assinaria requerimento mesmo que partido venha a barrar sua candidatura no ano que vem

Suplicy chora antes de assinar adesão à CPI

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um gesto surpreendente, o senador Eduardo Suplicy (SP), que de manhã acatara decisão da bancada do PT de não aderir à CPI dos Correios, anunciou chorando em um discurso à noite que iria assinar o requerimento para criar a comissão.
"Faço isso mesmo que o partido diga que nessa circunstância eu não serei o candidato do partido ao Senado em 2006", disse ele, ressaltando que mesmo assim não sairá do PT.
Um dos fatos que influenciaram Suplicy foi uma conversa com o líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), em que ele vinculava, de acordo com o petista, votos favoráveis ao governo a nomeações para cargos públicos.
"Eu aprendi ao longo da minha vida que nós devíamos tomar decisões de como votar não por causa de cargos e liberações de recursos, mas em cima do que é melhor para o povo brasileiro", afirmou Suplicy.

Jantar
As declarações de Suassuna teriam sido feitas em um jantar na Embaixada da China na noite anterior. Segundo Suplicy, ele estava reclamando da relação com o governo e justificando dificuldades impostas pela base.
Suassuna e sua assessora de imprensa estavam com os telefones celulares desligados e não ligaram de volta para a Folha, que deixou recados.
"Ele [Suassuna] descreveu como diversos parlamentares faziam exigências de nomeações para votar com o governo", disse o petista, afirmando ter ficado "impressionado". Ele ainda questionou a motivação de parlamentares para retirar as assinaturas de apoio à CPI na última hora.
Funcionários do Senado levaram o requerimento de criação da CPI para o plenário, onde Suplicy o assinou. "Os episódios retratados são de uma complexidade tal que a CPI se justifica", disse ele, para quem a Polícia Federal pode falhar na investigação do caso.
Assim como o ex-secretário de Imprensa da Presidência da República, Ricardo Kotscho, Suplicy afirmou que o governo não está percebendo a realidade. "A Direção Nacional [do PT] e o governo estão tendo uma percepção muito distinta do sentimento da população brasileira, de que essa CPI deveria ser realizada e o PT, coerentemente com sua história, deveria apoiá-la", disse ele.
O senador afirmou que foi influenciado por e-mails recebidos de eleitores, pedidos nas ruas e pela opinião pública. "Se eu não tomasse essa decisão agora eu me consideraria destruído, pelo que eu fiz e acreditei até agora", disse ele.

Líder magoado
A reação ao gesto do senador foi imediata. O líder do PT, senador Delcídio Amaral (MS), ligou para ele magoado, segundo Suplicy, e teria ameaçado deixar a liderança. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também ligou e lamentou a decisão tomada.
Os senadores Cristovam Buarque (PT-DF) e Paulo Paim (PT-RS), que ameaçaram nos últimos dias assinar a CPI, assistiram constrangidos ao discurso no plenário. Visivelmente irritado, Paim chamou Suplicy para conversar. "Tínhamos um acordo", disse ele.
Suplicy distribuiu cópias da carta enviada por e-mail ao presidente Lula, anteontem, explicando por que era importante assinar a CPI. Ele mandou junto a carta enviada por Sandra Fernandes de Oliveira ao colunista da Folha Clóvis Rossi. Ela denunciou a Operação Uruguai, um dos motivos do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Na carta ela se diz indignada com o governo Lula.
Suplicy relatou ainda no discurso que o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), orientou os sete petistas que queriam apoiar a CPI a fazê-lo somente se a criação da comissão fosse inevitável, o que se saberia perto da meia-noite, prazo final para adesões e retiradas de assinaturas.


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