São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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PT quer punir quem apoiou comissão

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do PT decidiu que tratará os deputados federais que mantiveram a assinatura no pedido de criação da CPI dos Correios como "bancada paralela", dando início a um processo de punição que pode resultar num novo expurgo de rebeldes do partido. Segundo a direção petista, 8 dos 19 petistas que aderiram acabaram recuando. Sobraram 11, número considerado alto -mais de 10% da bancada de 91 deputados.
Em relação ao senador Eduardo Suplicy (SP), que anunciou que assinaria o pedido de CPI depois de a bancada ter decidido em reunião de manhã que não endossaria a investigação, a cúpula do governo espera que ele desista de concorrer a senador pelo PT. O próprio Suplicy disse ontem que poderia pagar esse preço.
A reação ao ato de Suplicy, que chegou a chorar no Senado, contrariou o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o presidente do PT, José Genoino, que tentavam retirar assinaturas de petistas e de aliados ao pedido de CPI. O gesto enfraqueceu essa operação.
Os 11 deputados que mantiveram o apoio serão internamente responsabilizados pela cúpula do PT como os principais responsáveis pelo fracasso do esforço para retirar as assinaturas. O governo avalia que foi mais ou menos esse o número de assinaturas que não conseguiu reverter.
No final de 2003, primeiro ano da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, radicais petistas, entre eles a senadora Heloisa Helena (hoje no PSOL), foram expulsos do PT por terem se oposto a posições do governo no Congresso.
De início, a intenção da cúpula petista é excluir esses deputados das atividades da bancada, impedindo que sejam indicados para relatorias e postos importantes na Câmara. Ao longo do ano, durante o processo eleitoral petista para escolha do novo comando partidário, poderão ser forçados a deixar o partido.
Essa estratégia foi acertada em reunião ontem de manhã em Brasília da qual participaram Genoino e um grupo de ministros petistas, entre os quais Dirceu, Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Ricardo Berzoini (Trabalho), Paulo Bernardo (Planejamento) e Nilcéia Freire (Política para as Mulheres). A reunião aconteceu na casa de Nilcéia.
Para um membro da cúpula do PT, os petistas e os aliados que mantiveram o apoio à CPI passarão a receber um duro tratamento do governo. "Será um divisor de águas na relação com o PT e o governo", disse à Folha.
Parte dos 19 parlamentares que assinaram o pedido de CPI (dois tiveram sua assinatura questionada) cedeu ao argumento de que a Comissão Parlamentar de Inquérito passou de questão ética a política. Os discursos duros da oposição na leitura do requerimento de criação da CPI dos Correios contribuíram para alguns petistas recuarem. Os dirigentes petistas disseram aos membros do partido no Congresso que, se mantivessem as assinaturas, dificultariam a pressão sobre os aliados e ajudariam a oposição a minar o PT para as eleições de 2006. Outro argumento: a Polícia Federal já está agindo rapidamente.
"A CPI é um palco político e pode prejudicar a agenda positiva do governo federal, da Câmara e do Senado", disse o líder do PT, o senador Delcídio Amaral (MS).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou para o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e contribuiu para que petistas, com exceção de Suplicy, não mudassem de idéia até a meia-noite, prazo final para assinar e retirar apoio à CPI. Não aderiram à CPI os senadores Paulo Paim (RS), Cristovam Buarque (DF), Serys Slhessarenko (MT), Tião Viana (AC), Ana Júlia Carepa (PA) e Flávio Arns (PR).
(KENNEDY ALENCAR E FERNANDA KRAKOVICS)


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