São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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CIRCO POLÍTICO

Após instalação da CPI dos Correios, oposicionistas ironizam petistas; em discurso, Goldman lança o "Fica Lula"

Câmara tem dia de vaias, aplausos e cartazes anti-PT

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A rigor, a instalação da CPI dos Correios, demorou apenas dois minutos. Foram outros dois minutos para começar a gritaria, a tensão e o escracho, numa sessão que reuniu faixas de gozação, crianças retiradas das galerias e muitas vaias e aplausos.
Garantida a criação da comissão, os oposicionistas, triunfais, tripudiavam e ironizavam os petistas, que, acuados em suas manobras, só podiam reclamar.
Depois de meia hora de clima pesado, alunos da rede pública em excursão ao Congresso, foram retirados das galerias pelas professoras. Isso não constrangeu o vice-líder do governo, João Leão (PL-BA), que insistia, sem microfone, que o requerimento de CPI não era válido.
Alheio, um deputado lia notícias de jornal sobre liberação de verbas pelo governo para abafar a CPI e gritou: "Eu também quero minha emenda! Eu também assinei, também posso revisar minha assinatura".
No ponto alto da bagunça e dos discursos inflamados, três deputados subiram e ficaram trocando risos e olhares conspiratórios que denunciavam o trote iminente.
Quando o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), subiu à tribuna para discursar, abriram uma larga faixa com uma foto de José Genoino, presidente do PT, e Miro Teixeira apontando para um mural que dizia: "Roupa suja se lava na CPI: Eduardo Jorge, Eletrogangue, Lalau". No topo: "PT, quem te viu, quem te vê".
Foi o que bastou para petistas irromperem em gritos. Henrique Fontana (PT-RS), ao microfone, queixou-se da deslealdade no ataque. "Isso é muito pior que a gente no passado!", berrava.
Irritado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a bronca em tom professoral: "Não vamos permitir esse espetáculo nesta Casa".
Como se nada tivesse ocorrido, Goldman seguiu falando. Negou as acusações de que a CPI serviria para "derrubar" governo e criou novo slogan: "Fica Lula", contraponto ao "Fora FHC".
"Vamos gritar nas ruas "fica Lula, fica Lula" até 31 de dezembro de 2006. Queremos derrotá-lo nas urnas", disse, sob aplausos de oposicionistas.
Não demorou muito para surgir outra faixa. Era o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) que exibia o nome "Lulla", fazendo alusão ao logo eleitoral do ex-presidente Fernando Collor de Melo.
O presidente da Câmara, Severino Calvalcanti (PP-PE), impassível durante toda a sessão, não abriu a boca para falar. Mas ao seu lado, Renan perdia a paciência, se não o controle total da sessão. Em certo momento, quase bateu boca com a senadora petista Ideli Salvatti (SC), que exigia a palavra, sob vaias, para falar de um requerimento já rejeitado.
Aplaudido pela oposição, Renan já tinha pedido para não ser interrompido, mas teve de cortar a senadora. "Vossa excelência não vai mais trazer essa questão de ordem. Essa questão já foi decidida", disse.


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